Campo de Trabalhos Forçados de Masanjia, um desafio à legitimidade do regime chinês

10/05/2013 15:54 Atualizado: 10/05/2013 17:47
Publicação de dois novos documentários traz à tona a tortura nos campos de trabalho
Praticantes do Falun Gong meditam enquanto entram no quarto dia de uma greve de fome diante da embaixada chinesa em Washington DC, EUA, em 20 de agosto de 2011, em apelo pela libertação de 130 praticantes presos no Campo de Trabalho Masanjia, na província de Liaoning, China (Stephen Jaffe/AFP/Getty Images)

A exibição de dois novos documentários independentes em 1º de maio em Hong Kong e Taiwan esquentou ainda mais a discussão sobre o sistema de reeducação pelo trabalho [RPT] na China. Na China, a atenção recente dada ao sistema de RPT antes destes lançamentos já havia colocado em cheque alguns aspectos do regime que ele não podia admitir ter envolvimento, mas que se sentiu obrigado a defender.

O artigo “Fora de Masanjia” de 6 de abril da revista Lens começou a polêmica com uma longa e detalhada exposição das torturas usadas no campo de trabalho.

“Sobre cabeças de fantasmas: As mulheres do Campo de Trabalho Masanjia” é dirigido por Du Bin, um fotógrafo contrato pelo New York Times. Ele prossegue de onde o artigo da revista Lens parou. Neste filme, Liu Hua, uma peticionária e sobrevivente de Campo de Trabalho Feminino de Masanjia, descreve a tortura que ela e outras mulheres sofreram lá.

“Trabalhadores jovens confinados em Dabao” é dirigido por Xie Yihui. Ele conta a história de como 5 a 6 mil jovens foram enviados para o Campo de Trabalho Dabao na província de Sichuan em 1950 para receberem RPT. Não muito tempo depois de chegarem, começou a grande fome provocada pelo ‘Grande Salto para Frente’. Dois mil e seiscentos jovens morreram.

A justaposição dos dois filmes coloca a questão do que mudou desde os horrores de Dabao até os de Masanjia.

Numa exibição na Livraria 1908 em Hong Kong, Xie Yihui abordou esta questão: “Na época [cerca de 1957], havia uma política chamada ‘educação-reforma-trabalho’. Consistia em metade do dia de estudo e outra metade de trabalho. Agora, eles [os presos] são forçados a trabalhar o dia todo.”

“Há mais uma [diferença]”, disse Xie Yihui. “Eu sinto que a atitude dos oficiais em relação aos presos é diferente. Não sei como descrever a diferença. Na década de 1950, os oficiais da RPT não tratariam os detentos dessa maneira. Eu não vi isso em 1957. Isso [que é feito em Masanjia] é diferente.”

Nos primeiros anos do regime comunista, o sistema de RPT tinha como missão mudar a mente das pessoas para que acreditassem na ideologia comunista. O sistema era maligno, mas a maioria dos oficiais que trabalhava nele acreditava estar fazendo a coisa certa.

Hoje, mudar a mente das pessoas ainda é a tarefa mais importante do sistema de RPT, especialmente para os praticantes do Falun Gong. Mas não há qualquer ideologia para converter as pessoas.

Como poderiam os oficiais transformar os praticantes do Falun Gong fazendo-os acreditar em algo que os oficiais mesmos não acreditam ou entendem?

O Partido Comunista Chinês (PCC) desenvolveu critérios formais em Masanjia para a “transformação” de praticantes do Falun Gong, que foram posteriormente implantados e promovidos em todo o sistema de RPT. Nenhum dos critérios se trata de forçar os praticantes a aceitarem uma ideologia – seja comunismo, socialismo ou qualquer coisa.

Os oficiais em Masanjia sabem que o que estão fazendo é mau. Praticantes do Falun Gong têm relatado o que os guardas afirmam ser os sinais de transformação: “Quando você começar a xingar os outros com palavras sujas, quando você começar a espancar os outros, então, você terá sido transformado com sucesso.”

Os oficiais querem ganhar dinheiro com o trabalho escravo feito no campo, ser promovidos e receber bônus por alcançarem a taxa de transformação direcionada aos adeptos do Falun Gong.

Cinquenta anos atrás, as mortes foram causadas pela fome, doença, excesso de trabalho e maus-tratos. Hoje, a tortura não é um castigo. Ela vem com a política.

Depois de meio século, o mal de “reformar” direitistas e intelectuais para adotarem a ideologia comunista tornou-se o mal da “transformação” e da adoração do dinheiro. Agora, a tortura é intencionalmente planejada e se tornou rotina. Ela chega a ser um entretenimento para os oficiais.

Tudo começou a mudar em 29 de outubro de 1999, quando a 2ª Brigada Feminina foi estabelecida no Campo de Trabalho Masanjia. O único objetivo desta brigada era transformar mulheres praticantes do Falun Gong.

Faca de dois gumes

“Fora de Masanjia” expôs um grande crime. No passado, quando um crime era colocado aos pés do PCC, ele geralmente encontrava um bode expiatório.

Desta vez foi diferente. O Comitê do PCC e o governo da província de Liaoning, onde Masanjia está localizado, formou uma equipe de investigação. A equipe trabalhou rápido. Apenas alguns dias após o artigo da revista Lens aparecer, a equipe publicou um relatório que explicitamente negava enquanto implicitamente confirmava as acusações.

Os líderes da equipe de investigação são os responsáveis ou autores dos crimes expostos pelo artigo “Fora de Masanjia” e pelo documentário “Sobre cabeças de fantasmas”.

O chefe da equipe é o chefe do Departamento de Justiça da província de Liaoning, que tem jurisdição sobre o Campo de Trabalho Masanjia. Um dos vice-chefes da equipe, Zhang Chaoying, foi chefe do Campo de Trabalho Masanjia antes de se tornar chefe provincial da Secretaria de RPT.

A equipe de investigação tem conflito de interesses e esse curto-circuito bloqueia qualquer chance de encontrar um bode expiatório, resultando na negação descarada de que qualquer tortura ocorreu em Masanjia. O relatório não oferece qualquer evidência ou prova sobre suas conclusões, mas acusa a revista Lens de usar as palavras de “mídias do Falun Gong no estrangeiro” para descrever as torturas que ocorreram no local.

Na verdade, o relato de tortura em “Fora de Masanjia” veio de uma peticionária que não é praticante do Falun Gong. O artigo mencionou que um “grupo especial” – o mais perto que qualquer revista publicada na China poderia ir para mencionar o Falun Gong – foi alvo de tortura em Masanjia.

Apesar de negar a ocorrência de tortura, a equipe de investigação destacou as “conquistas” do Campo de Trabalho Masanjia em “transformar o Falun Gong”.

Se a equipe simplesmente queria publicar uma negação do artigo da Lens, seria melhor não mencionar as “conquistas” da transformação ou as palavras da mídia estrangeira. Esses elementos foram abordados para outra finalidade.

A equipe de investigação queria defender a política de perseguir o Falun Gong, que foi iniciada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin e que já se arrasta por quase 14 anos. O relatório da equipe serve como um aviso para quem possa estar por trás do artigo da Lens, se é que existe tal figura.

Ao eliminar qualquer bode expiatório, enquanto envia este aviso, a equipe de investigação vincula-se ao que aconteceu em Masanjia. A liderança da equipe chefiou Masanjia e o relatório mostra o PCC e governo de Liaoning apropriando-se do que acorreu lá.

Masanjia versus RPT

“Fora de Masanjia” e “Sobre cabeças de fantasmas” expõem a escuridão do sistema de RPT. O Campo de Trabalho Masanjia é um dos 350 campos de trabalho na China e as torturas desenvolvidas em Masanjia foram usadas em todos os campos de trabalho.

Na China, membros dos círculos acadêmicos e legais, pessoas comuns e até mesmo a mídia porta-voz do PCC têm por anos discutido abertamente a abolição ou a reforma do sistema de RPT.

Mesmo que o PCC possa se beneficiar com a abolição ou a reforma do sistema, esta não seria a primeira vez que o PCC converte um mal em bem e ao fazê-lo reclama sua grandeza, glória e retidão.

No entanto, Masanjia tem um significado que vai além do mal do sistema de RPT de duas maneiras.

Primeiro, Masanjia é o símbolo da perseguição ao Falun Gong. Este campo de trabalho é o modelo da campanha do regime de Jiang Zemin contra o Falun Gong. O website Minghui.org do Falun Gong publicou mais de 8 mil artigos sobre tortura, estupro e alimentação forçada que ocorreram em Masanjia ao longo dos últimos 13 anos ou mais.

Qualquer exposição dos crimes em Masanjia, não importa se o Falun Gong é mencionado ou não, atinge o nervo mais sensível do PCC. Tal exposição levanta a questão de quem será responsabilizado por esses crimes. As principais figuras do regime repentinamente ficariam vulneráveis.

Em segundo lugar, os crimes de Masanjia mostram que a tortura sistemática não é um erro ou uma falha que pode ser corrigida ou consertada. Se a tortura é confirmada como uma política do PCC e não um hábito pessoal de algum oficial individual da RPT, a imagem e a legitimidade do PCC enfrentarão um desafio sem precedentes. Ao discutir a “conquista” de transformar os praticantes do Falun Gong, o relatório de investigação de Liaoning simplesmente confirmou esses pontos.

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