As autoridades de propaganda na China parecem ter encontrado o seu mais recente alvo na luta ideológica numa campanha que eles têm travado há meses para ganhar o controle da opinião pública na internet.
Seu nome é Lee Kai-Fu: Ele costumava trabalhar para a Microsoft na China e, em seguida, mudou-se para o Google de lá, antes de fundar sua própria empresa, que investe em startups de tecnologia. Lee é uma das personalidades mais conhecidas na web chinesa.
As autoridades comunistas se tornaram cautelosas sobre pessoas como Lee – investidores da internet carismáticos e celebridades que usam as mídias sociais para difundir suas visões – e estão se mobilizando para confiscar seus microfones, um por um.
Lee foi alvo de um ataque pessoal longo e desagradável num site afiliado ao Partido Comunista Chinês (PCC), acusado de falsificar um câncer, de perturbar a juventude chinesa, de “ser um fracasso” e até mesmo de falsificar sua história pessoal.
Lee, que nasceu em Taiwan e foi educado nos Estados Unidos; desde 2009, tem construído uma presença robusta e vivaz nas crescentes redes de mídia social da China, mais proeminentemente no Sina Weibo, um serviço chinês similar ao Twitter, onde ele tem 51 milhões de seguidores.
Até setembro deste ano – quando ele afirmou que tinha linfoma e estava indo a Taiwan para tratamento – ele postava no Weibo com regularidade, destacando as questões sociais na China e cutucando as autoridades comunistas sobre suas restrições à liberdade de expressão.
Lee defendeu repetidamente a visão de uma sociedade chinesa mais livre e justa, uma visão que as autoridades chinesas não parecem julgar atraente, pois o excluíram do Weibo por três dias em fevereiro como um sinal de aviso.
Com o ataque recente de um teórico comunista no website “Construção do PCC”, que é supervisionado pelo Departamento Central de Propaganda, Lee se tornou a mais recente figura pública a ser objeto da campanha de criticismo orquestrada pelo PCC para subjugar vozes sociais independentes.
Esta campanha nunca foi oficialmente anunciada, mas tem colecionado uma série de escalpos de destaque que comandam a opinião pública na internet, principalmente por meio do Sina Weibo.
Chamado de “Grandes Vs”, que significa ter contas verificadas, essas pessoas normalmente têm milhões de seguidores e podem rapidamente influenciar as correntes de opinião pública em direções que as autoridades comunistas não são capazes de controlar.
Charles Xue, um milionário e investidor capitalista e um franco Grande V, foi levado em setembro à China Central Televisão (CCTV), uma emissora estatal porta-voz do PCC, para confessar ter visitado prostitutas. Atualmente, ele aguarda uma punição formal.
O ataque a indivíduos específicos tem avançado lado a lado com a repressão ideológica mais ampla nas escolas e universidades, visando a erradicar o debate sobre a sociedade civil, a democracia, o constitucionalismo e as dezenas de milhões de pessoas mortas nas décadas de comunismo na China.
O ataque recente a Lee – de quase dez mil caracteres e escrito por Zhou Xiaoping, que diz ser um macroeconomista, mas que escreve principalmente sobre questões políticas seguindo a linha do PCC – parece ser de uma peça com tratamento similar ao dado a Charler Xue, na tentativa de causar o máximo de dano à reputação de Lee.
O autor diz: “Você escreveu no Weibo que tinha câncer, mas desde que seu amigo Charles Xue tentou enganar as massas para simpatizarem com ele após visitar prostitutas, devemos suspeitar desta afirmação de câncer.”
Em outros lugares, Lee foi acusado de falsificar sua história familiar, administrar um negócio questionável, inculcar os jovens com “ódio à terra ancestral” e ter laços “longe do normal” com os Estados Unidos (especificamente, ser um cidadão norte-americano).
O ataque de Zhou Xiaoping a Lee foi posteriormente publicado no site oficial da Xinhua, outra mídia estatal porta-voz do PCC, bem como numa variedade de grandes portais de notícias em que muitos chineses obtêm informação.
No popular site Hexun, geralmente dedicado a notícias financeiras e de negócios, uma pesquisa incomum foi publicada. Foram feitas aos usuários duas perguntas e os resultados foram apresentados antes do tempo para ecoarem a propaganda.
A primeira foi: “Você acha que a história de Lee Kai-Fu ter câncer é exagerada.” A resposta: “Sim, a suspeita de que Lee Kai-Fu tenha câncer é exagerada”, recebeu 100% dos votos. As respostas que expressavam desacordo ou dúvida não receberam qualquer voto.
A próxima pergunta era se Lee poderia ser um “líder da juventude chinesa”. Novamente, 100% dos votos foram: “Ele não pode. Lee Kai-Fu não pode assumir essa grande responsabilidade.”