Antes de uma importante reunião política que será realizada em Pequim no próximo mês, o Partido Comunista Chinês (PCC) lançou uma nova campanha destinada reprimir com força aqueles que poderiam protestar contra seu governo, segundo documentos internos obtidos pelo Epoch Times. A campanha, que será implementada em diversas formas em todo o país, envolverá a mobilização da polícia, visitas domiciliares, quotas de detenção, maiores medidas de vigilância e estrita adesão à ideologia do PCC.
Típico de memorandos internos comunistas de segurança, os documentos são pesados com linguagem e comparações bélicas. A segunda página declara, por exemplo: “Devemos mobilizar as tropas para a batalha contra todas as atividades criminosas, realizando um ataque maciço. Temos de conduzir a guerra de campo minado, a guerra de trincheira e eliminar cuidadosamente todas as ameaças à estabilidade social.”
A diretiva de 19 páginas de 29 de setembro, obtida primeiramente pela NTDTV, uma emissora independente em língua chinesa sediada em Nova York, e compartilhada com o Epoch Times, estabelece o plano para Chaoyang, um município de três milhões de pessoas na província nordeste de Liaoning.
No topo da lista de alvos da campanha de três meses estão os praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual que tem sido perseguida brutalmente pelo PCC desde 1999.
Autoridades de segurança do PCC devem impedi-los de se reunir, enviar mensagens de texto ou fazer chamadas telefônicas para informar outros chineses sobre a violenta campanha que tem sido travada contra o Falun Gong. As autoridades também devem “desentocar os elementos-chave” e “enfatizar visitas domiciliares a pessoas-chave”.
Quotas são estabelecidas para prender praticantes do Falun Gong. Agentes da segurança nacional, que têm a tarefa de perseguir grupos dissidentes, a polícia, detetives, censores da internet e até mesmo guardas de trânsito recebem tais quotas. Agências de segurança pública de nível municipal deve “quebrar” pelo menos oito casos, diz o documento.
Yiyang Xia, o diretor-sênior de Política e Pesquisa da ‘Human Rights Law Foundation’, uma organização legal de Washington DC, disse que o documento “não é uma circular de perseguição ao Falun Gong, mas é parte do sistema de manutenção da estabilidade social, entre cujas tarefas suprimir o Falun Gong é uma prioridade”.
Notavelmente, a inclusão com destaque de material do Falun Gong no documento confirma que não houve mudança na política de perseguição do PCC com a transição para a nova liderança de Xi Jinping, apesar de alguma diminuição aparente da intensidade desde 2012.
Depois de definir a campanha contra o Falun Gong, o documento se volta para outros alvos: os cidadãos-peticionários que organizam protestos fora de edifícios oficiais e, depois, os criminosos reais, como pequenos ladrões, falsários, organizadores de esquema de pirâmide e envolvidos com jogo e prostituição.
A primeira página faz referência a uma conferência nacional de segurança pública que foi realizada recentemente, cujo memorando acompanharia. O conteúdo de tais circulares geralmente recapitula as diretrizes políticas e metas estabelecidas ao nível da Central do PCC, segundo o pesquisador Xia. Normalmente, documentos deste tipo são replicados nas Secretarias de Segurança Pública de cada nível administrativo – cidades, províncias e municípios de todo o país – e cada departamento se prepara para realizar a campanha em sua área.
Neste caso particular, disse Xia, é provável que o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), que controla o aparato de segurança pública do PCC, tenha assinado e instigado a campanha. A agência é atualmente chefiada por Meng Jianzhu, um membro da elite do Politburo.
Mais de uma dúzia de mobilizações são atribuídas a grandes grupos da “polícia popular”: um grupo para “penetrar na comunidade”, outro para realizar o “grande plano de visitações”, outro para conduzir a agitação oral…
O “grande plano de visitação” se refere à polícia bater nas portas das pessoas e, aparentemente, tentar resolver suas disputas com o regime antes que recorram a protestos de rua.
Mobilizações desta natureza são conhecidas como campanhas de “repressão” e, como parte do modus operandi do Partido Comunista para suas forças de segurança, têm sido realizadas periodicamente ao longo de décadas.
O documento também faz referência à criação de um “sistema de vigilância social abrangente”, envolvendo câmeras de vídeo de alta resolução que estão sendo instaladas em todos os prédios de apartamentos.
O momento da campanha é significativo: ela cobre o período em que a 3ª Sessão Plenária do PCC será realizada em Pequim, quando um conjunto de novas políticas de reforma econômica deve ser revelado. O líder chinês Xi Jinping também tem realizado uma campanha contra a corrupção no PCC e a reunião será mais uma oportunidade de colocar seu carimbo na orientação política do PCC.
“A 3ª Sessão Plenária verá uma grande luta na liderança do PCC, então não importa o quão ruim seja a situação no PCC, eles não querem mais protestos”, disse Yiyang Xia. “Basicamente, é uma questão de confiança. Eles pensam que têm inimigos por toda parte e não têm qualquer confiança.”