No que parece ser o prelúdio de outra queda de um ex-membro veterano do Exército Popular de Libertação (EPL), os meios de comunicação e propaganda oficiais e semi-oficiais chineses lançaram recentemente uma campanha de difamação contra o filho de Guo Boxiong, que, até o final de 2012, foi um dos mais poderosos militares chineses.
Na China, familiares de altos membros do Partido Comunista Chinês, geralmente, estão fora do alcance das reportagens, especialmente quando negativas. O filho de Guo Boxiong, Guo Zhenggang, o vice-comissário de política do Distrito Militar de Zhejiang, está sendo alvo de duras críticas difamatórias e, para observadores da política na China, isso é um sinal de que o pai dele pode ser o próximo alvo.
Nenhuma ação foi ainda tomada contra Guo, mas uma dinâmica parecida aconteceu antes da ruína política de Zhou Yongkang, o “ex-czar” da segurança do Partido Comunista Chinês. Seu filho, Zhou Bin, foi acusado de ter ligações com o empresário-gangster Liu Han, de Sichuan, e na sequência foi detido nos arredores de Pequim para interrogatório.
No início deste mês, o Reuters informou que, de acordo com fontes internas, Guo Boxiong (pai) está sob investigação, e vários sites chineses do continente têm noticiado isso, embora nenhum anúncio oficial tenha ainda sido emitido.
Se Guo Boxiong está de fato sob investigação e processo de humilhação pública, ele se tornará o segundo maior “escalpo” militar de Xi Jinping, líder do Partido Comunista Chinês, o qual está levando a cabo uma intensa purga no aparato do Partido desde que ele assumiu o poder no final de 2012.
Guo Boxiong foi vice-presidente da Comissão Militar Central (equivalente a um Alto Comando de Defesa de Estado). O outro ex-vice-presidente dessa Comissão, Xu Caihou, estava sob investigação oficial, mas morreu recentemente de câncer, segundo as autoridades. O presidente da Comissão é Xi Jinping, o chefe do Partido Comunista Chinês e presidente da China.
Por enquanto, não há sinais diretos de um movimento contra Guo Boxiong – mas observadores dizem que é provavelmente apenas uma questão de tempo.
Destruindo a credibilidade
A reportagem sobre Guo Zhenggang (filho) focou em destruir sua credibilidade e competência como líder militar, e, ao mesmo tempo, insinuou que a união com sua ex-esposa teve lugar em circunstâncias não glamourosas.
A mídia semi-oficial Wen Wei Po, com sede em Hong Kong e frequentemente usada para expressar a visão de Pequim sobre as questões, publicou em 25 de março um artigo difamando Guo (filho), trazendo à tona supostas amantes.
“Guo, por exemplo, não palestrava muito bem quando ainda era um oficial político das forças armadas. Ele também faltava frequentemente a trabalho, visível pela papelada empilhada. Às vezes, ele lia o jornal durante importantes reuniões”, segundo o artigo.
“Do ponto de vista de todos, a competência de Guo Zhenggang em seu trabalho era bastante ordinária, além disso, seu modo de tratar as pessoas era problemático”, noticiou o Wen Wei Po. “Mas, mesmo assim, ele progrediu através das fileiras do exército, ‘como um foguete’, mais rápido do que as pessoas comuns poderiam imaginar”.
Testemunhos de colegas afrontados também foram trazidos à tona. “Guo não gostava de falar com seus subordinados”, noticiou o Wen Wei Po.
“Quando alguém passava por ele e dizia ‘Olá’, Guo simplesmente seguia em frente e nem sequer dava um aceno de cabeça”. Essa avaliação de Guo foi atribuída a um “oficial aposentado da região militar do Zhejiang”.
A vida pessoal de Guo Zhenggang não ficou de fora. O artigo dizia que a única razão pela qual Guo se casou com sua atual esposa, Wu Fangfang, foi porque ela ficou grávida depois de um encontro, enquanto ele ainda estava em seu primeiro casamento (que ele, em seguida, terminou).
People’s Daily Online, a versão online do People’s Daily, um porta-voz do Partido Comunista Chinês, retratou Wu (atual esposa) como leviana, promiscua, e venal. Um relato detalhado foi fornecido sobre como ela, pagando quase nada, ganhou o direito de uso terras de propriedade militar para construir um centro comercial que, em seguida, foi negociado com investidores.
Ataques morais sobre o caráter de funcionários expulsos do Partido Comunista Chinês são um tema recorrente na propaganda do Partido quando ele quer arruinar funcionários outrora poderosos e seus familiares.
Mesmo quando as desventuras de sua esposa no setor imobiliário foram trazidas à atenção do Guo, ele disse ser indiferente, de acordo com uma notícia no Global People, uma revista publicada sob a tutela do People’s Daily.
“Certa vez, tivemos uma reunião e o tema da luta contra a corrupção surgiu, mas Guo Zhenggang não levo isso a sério…”, um amigo de Guo foi citado como tendo dito isso.
Campanha orquestrada
Xia Ming, professor de ciência política da Universidade da Cidade de Nova York, comentou sobre o nível de coordenação e atenção aos detalhes da propaganda para atacar a família de Guo (pai).
“Veja como esses diferentes meios de comunicação trabalham lado a lado com a campanha anticorrupção” (do atual presidente Xi Jinping), disse Xia, em uma entrevista por telefone ao New Tang Dynasty Television.
“Se essas notícias não tivessem o aval e o planejamento cuidadoso das autoridades chinesas, esses meios de comunicação não se atreveriam a falar com tanta liberdade sobre isso, mesmo que tivessem todas essas informações nas mãos”.
Zhang Jian, um comentarista de atualidades independente, comentou: “Depois que um tiro é disparado, não há como voltar atrás. Desde que Zhou Yongkang e Xu Caihou foram expurgados do poder, não houve nenhum descanso de Xi Jinping na luta para eliminar seus inimigos dentro das forças armadas”.
A remoção de Xu Caihou (falecido) e Guo Boxiong, embora eles já não ocupassem cargos oficiais, é um passo crucial na campanha de Xi Jinping para ganhar o controle das forças militares. Acredita-se que Xu e Guo deram apoio e força ao ex-presidente Jiang Zemin, líder do Partido de 1989 a 2002, e isso permitiu a Jiang se sobrepor a seu sucessor como presidente, Hu Jintao, durante todo o mandato de Hu como presidente da China e também como presidente da Comissão Militar Central de 2004 a 2012 .
Relatórios recentes na imprensa estatal disseram que Xu Caihou “esvaziou o poder” do ex-presidente Hu Jintao na Comissão Militar, um destino que Xi Jinping parece estar determinado a evitar.