Campanha da mídia chinesa contra Ai Weiwei

14/05/2011 00:00 Atualizado: 14/05/2011 00:00

Ai Weiwei posa diante de sua escultura, ''Molde''. Weiwei está desaparecido desde 3 de abril. Segundo um artigo anônimo, Weiwei confessou crimes de evasão fiscal depois de ser torturado sob custódia. (Simon/Getty Images)

Em 3 de abril, o artista Ai Weiwei foi preso pela polícia no aeroporto de Pequim e levado para um local desconhecido. Desde este incidente, vários de seus colegas também desapareceram, cujo paradeiro continua igualmente desconhecido.

Ultimamente, a mídia estatal, bem como “o partido dos cinquenta centavos”, dependente do regime comunista chinês, estão organizando uma campanha de difamação na internet contra Weiwei. [Nota: “O partido dos cinquenta centavos” é composto pelos cidadãos chineses recrutados pelo regime para escrever cartas ao leitor, e em blogs na internet seguindo as diretrizes do Partido Comunista Chinês (PCCh), representando a voz do partido mesmo.] Weiwei foi acusado, entre outras coisas, de crime econômico e evasão fiscal.

Desafiar o regime

O popular comentador político, He Qinglian, acredita que Weiwei represente um verdadeiro desafio para o regime. Num artigo publicado recente ele afirma: “Se as acusações contra Weiwei fossem aplicadas a todos os funcionários chineses, 99% deles estaria agora imputado. A chamada infração fiscal de Weiwei é somente um pretexto que pretende desviar a atenção da mídia ocidental sobre questões de direitos humanos ou de natureza política.”

Ele afirmou ainda que Ai Weiwei representa para o regime comunista um desafio de dimensões até agora desconhecidas na China. Este é o motivo que agregou ao seu redor uma grande quantidade de partidários na China e que seu caso tenha tanta relevância no estrangeiro.

“Agora, quando os ditadores do Oriente Médio e Norte da África estão caindo um após o outro, Pequim teme uma iminente crise política. Neste momento, a necessidade de apresentar uma ‘boa imagem’ no estrangeiro, passou para segundo plano. A obrigação de manter a estabilidade política é a única motivação que atualmente parece ter importância para o regime”, disse ele.

Ser fiel à linha do partido

Em 15 de abril, a edição chinesa da Deutsche Welle publicou um artigo intitulado “Ai Weiwei continua sendo caluniado pela imprensa chinesa”. Segundo o artigo, o desaparecido Weiwei foi acusado pelas autoridades comunistas de crimes econômicos. A Deutsche Welle citou dois artigos do periódico governamental Global Times. Nele relata-se como um exército de blogueiros, “o partido dos cinquenta centavos”, teria inundado a internet com uma onda de artigos que atacam Weiwei.

Os jornais de Hong Kong, Ta Kung Pao e Wen Wei Po, também publicaram artigos semelhantes aos do Global Times. No entanto, o editor-chefe do Ta Kung Pao, disse diante dos microfones da rádio Free Asia que estes artigos, “vieram diretamente do governo”.

Richard Burger, titular do blog chinês Pekíng Duck e ex-redator do Global Times, escreveu em 13 de abril em seu blog que a equipe do jornal recebeu instruções para “adaptar-se à linha oficial do partido a qualquer preço”.

Burger afirmou que o editor-chefe do Global Times, Hu Xijin, em 4 de abril deu a seguinte ordem a portas fechadas a seus colaboradores chineses:

“Vão para seus computadores e pesquisem em todos os blogs e portais chineses qualquer comentário ou discussão que esteja relacionada à prisão de Ai Weiwei. Responda seguindo a linha oficial do partido, da mesma forma clara e ameaçadora que o Global Times fez num editorial recente, ou seja, Ai Weiwei é um autoproclamado inconformista que merece ser preso, e é manipulado por forças ocidentais hostis a China para ridicularizar o nosso país, prejudicá-lo e desestabilizá-lo. Esta não é uma sugestão, é uma ordem direta. É uma obrigação.”

Nenhum processo judicial

A família de Ai Weiwei não tem nenhum contato com ele desde sua prisão em 3 de abril. Sua irmã, Gao Ge, relatou ao canal de televisão NTD que a família não recebeu até agora por parte do governo nenhum comunicado oficial sobre sua detenção, e que todas as acusações da mídia estatal não têm caráter oficial. “Até agora, estivemos calados. Exortamos o governo que respeite os procedimentos legais a serem seguidos”, disse Gao.

Lu Qing, esposa de Weiwei e diretora da empresa do marido, relatou a NTD que o Departamento da Fazenda do Estado havia levado todos os documentos contábeis da empresa. Foi uma violação da lei. A secretária de Weiwei, Liu Yanping, também disse que o contador da empresa estava desaparecido há sete dias. Ela afirmou que a Secretaria de Segurança Interior havia oferecido a Weiwei um posto como membro de alta posição no Comitê Central do PCCh, uma oferta que Weiwei rejeitou.

Weiwei é o desenhista do famoso Estádio Nacional de Pequim, conhecido como “Ninho de Pássaro”, que foi construído para os Jogos Olímpicos de 2008. Seu desaparecimento causou grande comoção no mundo inteiro.

Em 15 de abril, colegas artistas de Weiwei tentaram organizar uma reunião com o nome de “Fuga para o Sol” em seu apoio. No entanto, as autoridades de Pequim impediram-na, de acordo com informações do jornal Apple Daily de Hong Kong.

O regime chinês já deteu nos últimos dias mais de 100 blogueiros, advogados de direitos humanos e ativistas. Seus familiares, como no caso de Weiwei, tampouco sabem onde estão detidos, informou a BBC em 15 de abril.

Sessão do protesto global ''Ai Weiwei 1.001 cadeiras''. Cerca de 150 berlinenses se sentaram em cadeiras por alguns dias diante da embaixada chinesa em Berlim.

Apoio internacional

Enquanto isto, em muitas cidades ao redor do mundo se organizam manifestações para protestar contra a detenção do artista e exigindo a sua libertação. Em Los Angeles, várias dezenas de pessoas se reuniram em 17 de abril diante do consulado chinês para participar no protesto global “Ai Weiwei 1.001 cadeiras”.

Neste mesmo dia, se manifestaram em Hong Kong cerca de 150 partidários de Weiwei diante da delegação do regime chinês. Eles carregavam faixas e uma grande estátua da “Deusa da Democracia”. Centenas de policiais bloquearam as ruas e levantaram barricadas. Os manifestantes insatisfeitos tentaram ignorar o bloqueio e pelo menos um deles foi preso, segundo a agência de notícias Reuters.

Além disto, museus do mundo todo, como o Guggenheim e o Museu de Arte Moderna de Nova York, apoiaram o artista. Houve o recolhimento de assinaturas para a libertação imediata de Ai Weiwei.