Campanha anticorrupção na China visa empresas estatais no exterior

14/05/2014 16:44 Atualizado: 14/05/2014 16:46

Comentários recentes do chefe da campanha anticorrupção do Partido Comunista Chinês indicam que a batalha do regime contra a corrupção está lentamente migrando de um foco puramente nacional para as empresas estatais listadas no estrangeiro, segundo reportagens.

Essas empresas são controladas pelo Partido Comunista, mas fazem grandes negócios internacionais e frequentemente estão listadas no mercado financeiro em Hong Kong. Mais recentemente, o presidente da China Resources, uma empresa estatal baseada em Hong Kong, foi investigado e dispensado.

Wang Qishan, o chefe da Comissão Central de Inspeção Disciplinar, diretamente responsável pela campanha anticorrupção do regime chinês, fez um discurso duro numa reunião recente com executivos de alto escalão de empresas estatais no exterior, segundo o Oriental Daily, um jornal de Hong Kong. Os comentários visavam a mostrar a determinação do Partido Comunista em acabar com a corrupção ou em purgar funcionários indesejados.

Cinco empresas estatais (EE) foram mencionadas entre os próximos alvos de investigação, incluindo o Banco da China, o Banco CITIC da China, o Everbright International e o Grupo Mercantil da China.

“Desta vez faremos auditorias, inspeções e retificações sobre a corrupção em cinco grandes empresas”, disse Wang, segundo o Oriental Daily. “Não recuaremos por nada e não vamos ignorar qualquer tipo de corrupção. A Comissão Central de Inspeção Disciplinar sacrificará o que for necessário para investigar minuciosamente.”

Se Wang realmente fez essas observações não está claro. Jornais de Hong Kong frequentemente reportam observações internas que teriam sido feitas por altos oficiais comunistas e os analistas ficam frequentemente divididos até que ponto esses relatórios correspondem a coisas realmente ditas.

Wang teria alertado na reunião que a ganância e a corrupção podem fazer os funcionários ficarem “insanos”, incluindo fornecer informação política e financeira confidencial a governos estrangeiros ou mesmo roubar sem escrúpulos, disse a reportagem.

Os comentários citados se seguiriam a outras ações recentes de autoridades disciplinares centrais, que incluem uma resolução de 11 de abril de iniciar inspeções completas de empresas estatais no exterior, incluindo as localizadas em Hong Kong e Macau.

Talvez como um sinal da veracidade do artigo do Oriental Daily, ou pelo menos como um sinal da utilidade de sua reportagem, o artigo foi amplamente republicado em websites na China, incluindo numa mídia oficial porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), o Global Times. Essa republicação é comum, mas quanto se trata de matérias sensíveis isso também pode ser visto como um barômetro político, porque reportagens inconvenientes são invariavelmente censuradas e purgadas.

Em 16 de abril, Song Lin, secretário do PCC e presidente da China Resources, uma das maiores empresas estatais da China, sediada em Hong Kong, foi investigado pelas autoridades anticorrupção por “graves violações da lei”. Song tornou-se o primeiro oficial de alto escalão do PCC em Hong Kong a ser removido na campanha anticorrupção que começou no ano passado.

Nenhuma acusação formal foi feita contra Song ainda, mas sua prisão foi precedida por artigos de jornalistas chineses alegando que ele desviou bilhões de dólares em fundos estatais e que mantinha várias amantes (as matérias também incluíam fotografias).

Um funcionário de uma empresa estatal chinesa em Hong Kong disse ao Epoch Times que Song também é um aliado do influente político chinês Zeng Qinghong e do ex-líder chinês Jiang Zemin. A fonte, que solicitou anonimato por causa dos perigos de fornecer informações à imprensa, disse que Song ajudou na eleição de 2012 do atual chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, um oficial pró-Partido Comunista associado à facção de Jiang Zemin. A fonte opinou que a queda de Song é uma demonstração parcial de que o atual líder chinês Xi Jinping está eliminando a influência de Jiang Zemin e seus aliados em Hong Kong.

No entanto, as complexas redes de clientelismo e proteção política podem dificultar a investigação e a eliminação da corrupção. De acordo com o Oriental Daily, quase 80% dos executivos de alto escalão de empresas estatais chinesas em Hong Kong e Macau, incluindo os cinco maiores empresas referidas por Wang, incluem as novas gerações de ex-oficiais de alto escalão do Partido Comunista.

A Chengming, uma revista política de Hong Kong, ecoa esses sentimentos. Ela disse que a maioria dos executivos de alto escalão nessas empresas possui passaportes estrangeiros ou green card dos EUA, ou até mesmo cidadania estrangeira, embora não seja difícil confirmar essas alegações. A Chengming disse que se os principais executivos dessas empresas suspeitarem que serão investigados, eles podem simplesmente viajar para o estrangeiro e nunca mais voltar.