Campanha anticorrupção na China entra em fase crucial

21/05/2015 04:13 Atualizado: 26/01/2018 19:05

A campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping chegou a um impasse: o julgamento do poderoso ex-czar da segurança na China, Zhou Yongkang, está atrasada.

A investigação de casos de corrupção e expurgo de funcionários do alto escalão diminuiu e ocorre a “conta-gotas”.

Analistas dizem que essa diminuição é um sinal de que a luta entre facções do Partido Comunista Chinês chegou a uma fase crítica e que os próximos passos serão decisivos. Ou Xi Jinping, que lidera a campanha anticorrupção, esmaga completamente a facção de Jiang Zemin que se opõe a ele ou Xi enfraquecerá seu poder e sofrerá possível retaliação.

Alimentando o debate sobre o tema, a revista chinesa mensal Mingjing abriu sua última edição com uma gritante manchete: “Freios puxado na campanha anticorrupção: caça ao Grande Tigre parada. “A matéria afirma que Jiang Zemin, ex-líder regime chinês, e Zeng Qinghong, seu capanga, deram um basta à campanha anticorrupção liderada por Xi Jinping e Wang Qishan, o chefe disciplinar da campanha.

Capa da edição de junho 2015 da revista Mingjing, uma publicação em língua chinesa publicada no exterior.
Capa da edição de junho 2015 da revista Mingjing, uma publicação em língua chinesa publicada no exterior (Captura de tela / Mingjingnews.com)

A revista informou que Zeng Qinghong está impedindo que Zhou Yongkang, o ex-líder de segurança da China, seja condenado à morte, apesar da Zhou ter confessado numerosos assassinatos. Essa condenação está atrelada a vários altos funcionários – como Ling Jihua, assessor de Hu Jintao, este o líder do Partido Comunista Chinês anterior a Xi Jinping, e Guo Boxiong, anteriormente o segundo no comando das forças militares – e requer que eles sejam deixados fora disso, ou seja, que tudo termine com uma simples repreensão devido a seus laços com Jiang Zemin.

A revista Mingjing também tenta questionar a legitimidade da campanha de Xi e Wang, apontando para um suspeito enriquecimento de membros da própria família de Xi Jinping. Se a revista está apenas noticiando ou fazendo algo a mando de forças políticas na China, não está claro, mas, em ambos os casos, os observadores concordam que a campanha anticorrupção de Xi Jinping, ao que parece, deixou de perseguir alvos do mais alto escalão do poder e, em muitos casos, as próprias ações contra altos funcionários parecem estar suspensas.

A alegação de que a velha guarda de Jiang Zemin e Zeng Qinghong estão por trás da cena, bloqueando as ações de Xi, parece credível, de acordo com Chen Pokong, um escritor e analista de política comunistas chineses.

“É uma luta de vida ou morte” na disputa entre Xi Jinping e Jiang Zemin, disse Chen em entrevista por telefone, usando uma expressão chinesa comum para descrever uma guerra política.

Desde que o centésimo “tigre” – tigre é um termo usado dentro do Partido Comunista Chinês para se referir aos seus mais altos líderes –, o ex-vice-presidente do Comitê Regional de Mongólia Interior do Grupo Consultivo de Política do Povo Chinês, Zhao Liping, foi preso, em março, as prisões diminuíram. dois funcionários foram presos desde então.

O analista político Chen Pokong disse que Xi e Wang precisam levar a cabo a campanha anticorrupção rapidamente de modo a acabar com as forças aliadas de Jiang antes que elas ganhem força e contra-ataquem.

Gao Wenqian, um estudioso que foi o autor de uma biografia sobre Zhou Enlai, apresentou sua análise sobre a situação da campanha anticorrupção durante o programa Voice of America.

“É uma guerra de vida ou morte para Xi Jinping e para Wang Qishan, que encabeçam a campanha anticorrupção. Eles estão sobre um tigre e eles não podem saltar. A abrangência e a escala da campanha foi além do que eles previam. E se for levada adiante, pode levar ao fim do Partido Comunista Chinês. Mas se eles pararem agora, eles poderão ser comido pelo tigre”, disse Gao Wenqian.

Eles não sabem como ir adiante. Eles dão um passo e dizem alguma coisa, dão mais um passo e dizem outra coisa“.

Se Jiang Zemin, que está chegando aos 90 anos de idade, ficar gravemente doente ou morrer, o caminho provavelmente será mais suave para Xi, diz Chen Pokong. Mas, se ele continuar a resistir à campanha de Xi Jinping em todo o caminho até o 19º Congresso Nacional do Partido, em 2017, então Xi poderá poderá ser alvo de uma retaliação“.

“No momento, a campanha anticorrupção de Xi Jinping coloca-se contra ambos, conservadores e liberais, algo que não o ajuda em nada seu andamento“, disse Chen. No entanto, Xi vendeu a campanha anticorrupção ao público como uma verdadeira manobra para construção do estado de direito, por isso, se Xi está realmente desviando o poder do Partido para instituições genuinamente independentes, então Xi não está engajado apenas numa luta interna pelo poder dentro do Partido Comunista Chinês, mas uma manobra para colocar a China numa base de governo mais legítima.

Há um precedente positivo para Xi seguir: o ex-premier de Taiwan, Chiang Ching-kuo, saiu lentamente de um Estado autoritário, no final de 1980, para uma liberalização de Taiwan.

“Se Xi for prudente, ele vai ficar do lado do povo, onde ele tem apoio e será lembrado pela posteridade”, disse Chen.