Campanha anticorrupção na China conta agora com aplicativo para smartphone

01/07/2015 07:00 Atualizado: 28/06/2015 21:06

Quando cidadãos chineses realizaram protestos pedindo que funcionários do Partido Comunista Chinês divulgassem a relação de seus bens, foram sumariamente detidos e alguns enviados para a prisão. Pouco depois, um grupo que protestou pela libertação desses cidadãos também foi detido sob alegação de “reunião ilegal”.

Mas agora, o Partido Comunista Chinês trouxe “harmonia” para a campanha anticorrupção ao disponibilizar aos usuários de smartphones chineses um aplicativo, com o qual é possível denunciar improbidades de funcionários do Partido.

Relatórios recentes indicam que o uso desse recurso de informática resultou em cerca de 1.000 denúncias recebidas por dia.

O link para uma função do aplicativo móvel da Comissão Central de Inspeção Disciplinar, agência anti-corrupção do Partido Comunista Chinês.
Link para uma função do aplicativo móvel da Comissão Central de Inspeção Disciplinar, agência anticorrupção do Partido Comunista Chinês (Screenshot via app CCDI)

Esse novo recurso para combate à corrupção foi disponibilizado em 18 de junho, permitindo que usuários denunciem funcionários do Partido Comunista supostamente envolvidos em corrupção ou violações disciplinares menores.

A função é facilmente acessível

Tocar com o dedo num banner na página inicial do aplicativo traz uma lista de 11 condutas passíveis de punição: “usar abusivamente fundos públicos em jantares ou entretenimentos caros”; “casamentos luxuosos ou funerais”, “uso inadequado de veículos oficiais” e outras formas comuns de má conduta. A partir daí, os usuários podem enviar uma mensagem de até 500 caracteres e até duas fotos ou videoclipes para substancializar o pedido de denúncia. Denúncias anônimas – se é que o anonimato existe de fato na China – são aceitas.

Baseada nessa nova função disponibilizada via aplicativo, a Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCDI) está pensando em “construir uma conveniente, rápida e direta” plataforma para formar uma “rede de vigilância onipresente”, explicou a agência em seu site.

Os informes de cidadãos sobre casos de corrupção parecem estar funcionando. No dia da estreia do aplicativo, cidadãos enviaram 1.033 denúncias, 67% das quais eram de usuários de smarthphone, de acordo com um comunicado da agência de imprensa. A CCDI recebia anteriormente cerca de 300 informes diários de corrupção via site oficial.

“No pico, recebemos três mensagens de smartphone por minuto”, disse um oficial da CCDI para o site de notícias Peng Pai, mídia financiada pelo governo. “Em média, temos recebido uma mensagem a cada minuto e meio”.

Para lidar com o aumento das denúncias, a agência anticorrupção “contratou recursos humanos, atualizou seu sistema de computador e agilizou a coordenação entre os departamentos”, relatou a Agência de Notícias Xinhua, porta-voz do governo.

Internautas chineses elogiaram essa medida em sites de mídia social como o Sina Weibo, um serviço de microblog semelhante ao Twitter, no entanto, alguns continuam céticos sobre a eficácia da medida.

O internauta Feng Yun Mo Ce comentou: “A medida não terá muito sucesso se o aplicativo exercer apenas um papel de mensageiro. Existe realmente acompanhamento de cada denúncia? E se as agências locais negligenciam as denúncias?”.

Um executivo da CCDI oficial disse à Xinhua que o primeiro processo enviado através de smartphone foi uma denúncia sobre a construção ilegal de um prédio de escritórios  e foi repassado para os investigadores em 10 minutos, mas ele não disse se alguma ação de acompanhamento foi tomada.

Há boas razões para duvidar da sinceridade dessa ação da CCDI para envolver o povo na vigilância da corrupção. O Partido tem rejeitado denúncias vindas de grupos independentes da sociedade civil e há ceticismo quanto à exatidão dos números divulgados pela agência anticorrupção.

Em março de 2013, ano em que a campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping começou, quatro ativistas – Hou Xin, Yuan Dong, Zhang Baocheng e Ma Xinli – foram presos e sentenciados à prisão por vários anos sob alegação de “reunião ilegal”. Esses ativistas entraram como uma petição para que autoridades revelassem os bens de funcionários corruptos. Em abril, três ativistas – Zhao Changqing, Wang Yonghong e Li Wei – que solicitaram que os quatro fossem soltos também foram detidos por “reunião ilegal”.