Um caminhão viajando de Chongqing foi interceptado na província de Hubei em 1º de abril pela polícia rodoviária e foi descoberto estar carregando mais de 10 mil projéteis de artilharia. Grandes portais de notícia chineses continham um atualização concisa da notícia na noite de 5 de abril horário local, enfatizando que tudo estava normal. No atual contexto político, os leitores da notícia não estavam inclinados a acreditar nisso.
O primeiro relatório do Noticiário da Noite Enshi, na província de Hubei, onde o caminhão foi interceptado, disse que um caminhão vermelho estava transportando 12.033 projéteis de artilharia na via expressa Huyu, perto da cidade de Lichuan. O caminhão foi interceptado e detido, enquanto a Secretaria da Segurança Pública da cidade de Lichuan realizava uma investigação.
Citando fontes da polícia local, o artigo disse que o caminhão, presumivelmente um semitrailer, apesar de eles usarem o mesmo termo em chinês, tinha contêineres selados com sinais dizendo “material volátil” do lado com faixas fluorescentes. Eles pensaram que fosse suspeito e decidiram investigar, descobrindo que o “material volátil” consistia de projéteis explosivos de artilharia e balas contrablindagem. Havia 236 caixas e 12.033 cartuchos, um total de mais de 10 toneladas de munição, disse o artigo.
A polícia interrogou o motorista, que aparentemente não sabia que estava transportando armamentos. Ele disse que uma empresa de Chongqing pediu-lhe para entregar os contêineres em Jilin.
O relatório de 1º de abril foi seguido por outro, de uma única frase, em 5 de abril, dizendo que era uma “transferência militar normal” e foi autorizado a passar. A atualização foi republicada em grandes portais da internet chinesa, incluindo o NetEase. O relatório original no Noticiário da Noite Enshi foi excluído.
Internautas incorrigíveis começaram a desconstruir quase todos os elementos possíveis do evento e a reportarem sobre eles.
Por exemplo, a gramática escolhida pelos portais da internet na divulgação da notícia foi acusada de ter usado a voz passiva, para não parecer que eles estavam instigando rumores. As diferenças nas manchetes foram analisadas.
Um usuário que se autodenominou “Estudante Feminina do Secundário” disse que “a China controla os armamentos mais rigorosamente do que qualquer outro país, um homem de negócios comum não tem a capacidade ou coragem para adquiri-los”, e observou rumores anteriores de que Wang Lijun, sob as ordens de Bo Xilai e Zhou Yongkang, estava estabelecendo uma força armada privada.
He Qinglian, economista e estudioso que publicou um livro sobre o controle da mídia na China, escreveu no Twitter que a notícia de Chongqing está sendo analisada demais no contexto político atual.
Os internautas não pareceram perturbados. Dezenas de comentários voltaram ao tema da “rebelião” ou ao suposto exército privado de Bo.
O simples fato de que a notícia foi relatada é incomum, especialmente no atual clima político. Mas o significado real do transporte de armas, os tipos de armas, e as circunstâncias de sua captura, são todos difíceis de avaliar, de acordo com especialistas. “Pode haver algum propósito especial para ter essas notícias publicadas agora”, diz Zhao Wen, um comentarista da NTDTV de Nova York. “A notícia em si é difícil de avaliar.”
Com reportagem de Ariel Tian.