A vida e a morte, o eterno debate
Estritamente falando, os seres humanos morrem pelo menos uma vez a cada década. Cada célula do corpo se reproduz, desaparece e é substituída, em uma frequência específica, natural do tipo de tecido a que pertence (muscular, conjuntivo, ossos, nervoso). No entanto, embora as células que originalmente constituíam nosso rosto, nossos ossos e nosso sangue não estejam mais lá depois de algumas horas, semanas ou anos, o nosso novo corpo ainda continua sendo a “morada” de uma única consciência. É possível negá-lo?
No entanto, saber onde reside a essência de uma entidade biológica, e inclusive entender o que realmente significa um organismo possuir a qualidade de “vivo”, é uma questão que continua sem resposta apesar dos incríveis avanços da ciência moderna nas áreas da genética e tecnologia molecular.
“O que é a vida? Esta é uma questão que deve ser respondida com palavras”, afirma a prestigiada bióloga americana Lynn Margulis “e como a vida é algo que vai além de qualquer palavra, é difícil de responder esta pergunta”.
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O âmago desta questão parece ser mais filosófico do que científico, porém a capacidade de identificar quando a vida começa, onde ela reside e como termina é uma questão de relevância indiscutível para uma comunidade científica que procura descobrir a existência de organismos em futuras explorações espaciais, ou determinar qual o ponto exato em que é impossível trazer da morte uma entidade biológica por meio de métodos de reanimação.
O que é a vida? O que é a morte? Atualmente, a fronteira entre a vida e a morte aparenta ser mais uma arbitrariedade científica coletiva do que conhecimento bem fundamentado.
O átomo imortal
De acordo com a biologia moderna, a aprendizagem da comunicação e motricidade, os estímulos ambientais e experiências de todos os tipos vão estabelecendo ramificações dendríticas por toda uma vida, o que poderia ser chamado de “armazenamento neuronal de informação”. Esta forma de armazenamento seria rápida, mas não tão eficiente quanto as modificações genéticas, cujo “pacote” é transmitido de geração em geração, sem uma aprendizagem verbal longa e tediosa todas as vezes.
Dito de outra maneira, o nosso corpo ainda viveria em nossos filhos através de nossos genes. A cor do cabelo, a característica das proteínas do plasma, a forma do tórax ou a força dos nossos músculos podem ser armazenados em pacotes de informação genéticos através de múltiplas gerações. Podemos considerar isso uma forma de imortalidade? Absolutamente não. Na combinação dos gametas que precede a fertilização, uma grande porcentagem dos nossos genes é obrigatoriamente perdido para dar lugar aos genes dos futuros progenitores no processo de formação dos zigotos.
No entanto, alguns cientistas defendem que a mente e o corpo podem seguir caminhos diferentes depois de completar o ciclo da vida.
Segundo os médicos René Severijnen e Ger Bongaerts, pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Radboud Nijmegen na Holanda, os blocos de construção da vida, os átomos, têm a qualidade de serem praticamente imortais. Segundo Bongaerts “a morte de um átomo ocorre quando a matéria se transforma em energia”, “Isso acontece durante a explosão de uma bomba de fusão nuclear”.
Isto é, enquanto um corpo no necrotério se decompõe, os núcleos atômicos absolutamente não se decompõem. Caso contrário, poderíamos afirmar que cada cadáver seria potencialmente tão perigoso quanto uma bomba nuclear.
Então, é possível a atividade atômica cessar no instante da morte? De acordo com uma crença enraizada nas antigas culturas orientais, os humanos possuem diversos corpo, compostos por múltiplas camadas atômicas. Cada camada estaria constituída por átomos dispostos de uma forma mais afastada, ou dispersa, do que a camada anterior.
Isto é, a nossa camada de células moleculares seria sustentada por uma camada atômica muito mais fina e espaçada que a totalidade de átomos que compõem o corpo. Por conseguinte, enquanto que um corpo no necrotério é uma grande massa de células em decomposição, um número de átomos relativamente menor ainda mantém sua arranjo original. Assim, uma “alma”, “mente” ou “consciência póstuma” poderia, então, indicar que a vida não acabou.
Sobre este ponto, o Dr. Severijnen alega que a interrupção do crescimento e das atividades metabólicas registradas quando o corpo morre seria apenas um lado da moeda. “O processo de degradação não para e inclusive aumenta”, diz o cirurgião.
A vida minúscula
De acordo com alguns cientistas, os átomos gravam cada emoção, cada sentimento, cada experiência em estruturas extremamente pequenas, de uma forma que ainda não entendemos.
Embora a hipótese de átomos mnemônicos possa, à primeira vista, parecer estranha, a descoberta de inteligência em níveis cada vez menores abre espaço para debates sobre a natureza e a sede da vida. Da mesma forma que com as moléculas, durante muitos anos se pensou que as células careciam totalmente de individualidade, que atuavam como uma unidade, como um tecido.
No entanto, de acordo com pesquisas recente do professor Brian Ford, biólogo e presidente da Sociedade de Cambridge para a Aplicação da Pesquisa, os livros de biologia deveriam ser reescritos completamente.
O Professor Ford acredita que as células são entidades complexas que têm inteligência e se comunicam entre si. A célula individualmente é um organismo complexo capaz de mostrar comportamento inteligente e tomada de decisão. “Temos muita preocupação para com as pequenas estruturas que formam a célula, ninguém parou para perguntar o que um organismo celular pode fazer por si mesmo”, afirma o professor.
Assim como as células possuiriam capacidades nunca antes descritas pelos cientistas, as estruturas atômicas microscópicas poderiam ser a chave da resposta para a imortalidade humana e a aparente ilusão refletida no estado de morte. Será que a mente é limitada a um conjunto de reações eletroquímicas dentro do cérebro, ou um sopro de vida chamado “alma” precede a formação de uma entidade física e dura até mesmo para além da morte?