O calor curativo da moxabustão

10/03/2015 08:03 Atualizado: 09/03/2015 08:08

Para os antigos doutores o principio essencial era obter o equilíbrio.

Naturalmente, um paciente que é frio e fraco necessita de calor e força. Em Medicina Tradicional Chinesa (MTC), o principal remédio para esta aflição é chamado de moxabustão ou moxa.

De acordo com a Dra.Traci Stuardi, uma acupunturista licenciada que trabalha na clínica Doorway to Wellness, em Austin, Texas, a moxa fornece calor profundo e penetrante para resolver o frio subjacente [condição de déficit do calor natural de um ou mais órgãos do corpo].

“O frio irá alojar-se no útero ou no baixo abdome ou no intestino grosso. Frequentemente é possível sentir o frio quando se faz palpação destas áreas, que estão frias, mas que em circunstâncias normais não deveriam estar” diz. “Moxa é uma forma fácil de transportar calor para a área”.

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O nome “moxa” é uma versão inglesa da palavra japonesa “mogusa”, que significa “ervas ardentes.” A prática envolve a queima de bastões (veja a foto do artigo) medicinais e cones (ambos feitos da planta artemísia) sobre ou perto do corpo.

É dito que a moxa tem origem no norte da China há pelo menos 3000 anos, e era queimada sobre os pontos de acupuntura muito antes das agulhas serem usadas. Hoje em dia, a moxa é usada para tratar uma vasta gama de problemas: tais como distúrbio digestivo crônico, problemas menstruais, reprodutivos e doenças em estado avançado, como a tuberculose, a doença de Lyme e câncer.

“É muito poderosa contra a dor.” diz Stuardi. “Muitos pacientes vêm até mim com muita dor e, por vezes, as agulhas não são o suficiente.”

Stuardi é única, no sentido em que muitos praticantes ocidentais de Medicina Tradicional Chinesa se afastaram do uso da moxa, preferindo em vez disso focar a sua atenção em acupuntura.

“É uma pena que mais praticantes não estejam utilizando-a.”, diz. “Eu acho que muitas pessoas têm receio. É preciso mais tempo.”

Em países como a China, o Japão e a Coreia, a moxa tem um papel importante no tratamento, mas nos Estados Unidos a técnica tem tido menos adeptos. A moxa é ensinada nas escolas de Medicina Tradicional Chinesa, mas muitos acupunturistas americanos abandonam a modalidade uma vez que acabam o curso.

De acordo com Stuardi, o maior problema da moxa é o cheiro. A moxabustão produz uma fumaça com forte odor, que muitas pessoas confundem com maconha.

“As pessoas dizem: ‘Ué, que esse cheiro é este? Está tudo bem? É para cheirar assim?’. O que importa é que é uma técnica muito eficaz”, diz Stuardi.

Aplicação de moxa com dispositivos múltiplos aplicados em vários pontos ao mesmo tempo (Shutterstock:**)
Aplicação de moxa com dispositivos múltiplos aplicados em vários pontos ao mesmo tempo (Shutterstock**)

Medicina básica

A moxa não tem sido muito estudada, ao contrário da acupuntura, mas a literatura disponível demonstra efeitos no sangue, na imunidade e na regeneração de tecidos. Um estudo de 1998 publicado no Journal of the American Medical Association (Jornal da Associação Médica Americana) relatou que 75% das mulheres grávidas que estavam com o feto sentado conseguiram com que ele retornasse à posição normal aplicando moxa num ponto de acupuntura localizado no dedo mínimo do pé.

Enquanto a moxa pode ser considerada uma parte menor da Medicina Tradicional Chinesa no ocidente, os antigos médicos a tinham em alta consideração. No Nei Jing – um texto fundamental da medicina Chinesa – é dito que a moxa consegue fazer “o que a agulha não consegue”.

Alguns modernos praticantes estão adotando esta antiga noção. Daniel Silver, um acupunturista licenciado e professor adjunto no National College of Natural Medicine, em Portland, Oregon, descreveu o complexo caso de uma mulher que recentemente foi tratada com moxabustão. Ela teve inúmeros acidentes de carro e recebeu acupuntura de vários profissionais, durante meses, por um período, mas obteve apenas pequenas melhoras.

Com apenas uma sessão de moxa, no entanto, ela relatou efeitos “que mudaram a sua vida”.

“Eu tenho visto tamanhos resultados em pacientes.”, disse Silver. “Eu realmente estou convencido, a partir da experiência cotidiana, dos efeitos benéficos dela, e espero que mais pessoas possam conhecê-la.”

Silver diz que o que faz com que muitos acupunturistas norte-americanos não usem moxa é que eles estão muito preocupados com a possibilidade de queimarem acidentalmente um paciente. Ele encoraja os praticantes a superarem esse medo com a prática.

“É bom para as pessoas terem um respeito e um interesse saudável por isto”, diz. “Parte do problema é que no ocidente temos a tendência de pensar na medicina de uma forma muito intelectual, e isto é muito mais uma habilidade manual em que você deve desenvolver proficiência, de modo que possa ser aplicada de forma terapêutica.”

Caixa de moxa ou "caximbo" de moxa (Shutterstock***)
Caixa de moxa ou “caximbo” de moxa (Shutterstock***)

A artemísia é mágica

A moxa é fabricada a partir de uma “erva daninha” prolifica chamada artemísia (Artemisia vulgaris), que muitas vezes é prescrita em fitoterapia para queixas uterinas, como dor de parto, cólicas menstruais e sangramento profuso, assim como em desordens digestivas, hormonais e circulatórias.

Para ser usada em moxabustão, a artemísia é transformada em um material chamado “lã de moxa”.

De acordo com Lorraine Wilcox, autora de dois livros sobre o uso da moxabustão em clínica, os antigos médicos chineses usavam a artemísia porque esta tinha todas a qualidades certas: acende facilmente e produz aquecimento lento e constante.

Em 17 de Novembro de 2014, em um epísódio do Yin Yang Podcast, um programa para acupunturistas feito em áudio, Wilcox afirmou que uma das principais razões porque a artemísia foi escolhida deve-se às suas propriedades mágicas.

“Nos livros realmente antigos, a artemísia é usada contra o “qi perverso” ou fantasmas ou coisas tóxicas como cobras e escorpiões; coisas desse tipo.”, diz. “Então, ela possui um aspeto sobrenatural; além do que coisas rastejantes e medonhas não gostam dela.”

A fumaça da artemísia tem um efeito calmante no sistema nervoso. Uma vez que os pacientes ultrapassem o cheiro esquisito, podem até passar aprecia-lo.

“Alguns pacientes vão entrando num estado agradável de euforia durante o resto do tratamento.”, afirma Stuardi.

A moxa pode beneficiar qualquer pessoa, mas existem situações em que não é apropriada, tal como em febres, infecções, eczemas e outros sinais de calor em excesso. Pontos no abdome e na região lombar devem ser evitados nos estágios iniciais da gravidez.

Direta e indireta

As técnicas de moxa são divididas em duas categorias: direta e indireta. O método direto, que requer um praticante experiente, queima [a moxa] diretamente sobre a pele. Com o método indireto, um suporte [veja a foto da caixa de moxa acima] é colocado a cerca de dois centímetros e meio do corpo.

O método indireto é fácil de aprender e, frequentemente, um praticante pode dar ao paciente um bastão de moxa e indicar um ponto de acupuntura para que o paciente continue o tratamento em casa.

Segure o bastão acima do pronto prescrito e afaste-o quando se tornar bastante quente. Dê à área alguns segundos para arrefecer e depois retome a aplicação.

Stuardi instrui os pacientes a continuarem para além da sensação superficial de calor até sentirem o calor penetrar profundamente no tecido. “Uma vez que sinta o calor penetrar, saberá que fez um bom trabalho e poderá apagar o bastão de moxa”, diz. A sessão deve durar entre 5 a 10 minutos.

Produtos de moxa estão disponíveis em lojas em Chinatown [Aqui no Brasil são vendidos em lojas que vendem materiais para profissionais de Medicina Tradicional Chinesa e também em lojas de bairros chineses], escolas de acupuntura ou através da Internet, e podem vir em uma grande variedade de formas e tamanhos [desde pedaços do tamanho de um filtro de cigarro – com adesivos na base (veja a foto da aplicação múltipla) – até a moxa solta].

Uma das formas populares é o bastão feito de carvão vegetal duro, que não produz cheiro: serve para aqueles que querem evitar a fumaça e o cheiro. Contudo, Stuardi acredita que seja menos eficaz.

“Eu tento nunca usar moxa sem fumaça, a não ser que, por alguma razão, seja a única coisa disponível,” diz.

Para pessoas com asma, alergia ou vizinhos desconfiados, Silver recomenda moxa Japonesa de alta qualidade, tal como a Ibuki Gold Mountain.

“Tem muito pouco cheiro”, diz Silver. “A maior parte do cheiro que se obtém deste tipo de moxa vem do incenso que é usado para acendê-la. Muitas pessoas conseguem tolerá-la.

 

Conan Milner, Epoch Times

 

* Imagem de Shutterstock: “Hand holding professional moxa stick

** Imagem de Shutterstock: “alternative health care, burning moxa on a patients back in an alternative medicine clinic”

*** Imagem de Shutterstock: “moxibustion wool with holder