O Caixa 3 existe, fundamentalmente, para financiar a estratégia de conquista de hegemonia sobre a sociedade. Não existe para eleger pessoas (o que seria Caixa 2) ou para manter um partido no governo e sim para tomar o poder. É claro que um partido que almeja tomar o poder usando a democracia (em doses homeopáticas), precisa ficar por longo tempo no governo: o tempo necessário para derruir o sistema de pesos e contrapesos da democracia, degenerando as instituições (para deprimir seu sistema imunológico).
Mensalão, petrolão e outros esquemas que estão sendo descobertos não têm nada a ver com Caixa 2 de campanha. Eles são, na verdade, Caixa 3, ou seja, recursos para financiar um esquema paralelo – criminoso e antidemocrático – de poder. O Caixa 3 existe não apenas nem principalmente para ganhar eleições e sim para falsificar a democracia. Vejamos, a título de exemplo (e por hipótese), o que pode ser feito com o dinheiro do Caixa 3:
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1 – Pode-se montar estruturas ilegais de poder, organizações políticas, sociais e até empresariais privadas que vão então financiar atividades criminosas (que podem ter como escopo desde espionagem, fabricação de dossiês contra adversários, patrocínio de veículos de comunicação para difundir e replicar falsas versões, aluguel de pessoas para escrever a favor do governo e detratar as oposições, realização de reuniões clandestinas, montagem de aparelhos políticos – com imóveis, móveis, veículos e equipamentos – em nome de laranjas, pagamento de cabos eleitorais, suborno de facilitadores e pagamentos de agentes para ganhar ou recrutar e treinar militantes para os círculos do Partido Interno, ameaçar ou neutralizar pessoas (inclusive funcionários estatais) que se tornam obstáculos à consecução dos planos criminosos ou antidemocráticos, até o fomento de pesquisas para violar sistemas de arrecadação, fiscalização, informação, eleição etc., a montagem de milícias e sabe-se lá mais o quê). O dinheiro do Caixa 3 pode ficar escondido por tempo indeterminado em contas bancárias no exterior.
2 – Pode-se comprar representantes eleitos, falsificando a correlação de forças emanada das urnas. Essa violação da democracia representativa é a mais grave, pois comete uma fraude contra a vontade popular. Com ela se perverte o jogo democrático de formação de alianças. A substituição de base-aliada por base-alugada torna desnecessário o esforço político legítimo de convencimento e persuasão (que é o core do regime democrático). Os atenienses do século de Péricles diriam que é um atentado aos deuses da Polis, no caso à deusa Peitho (a persuação deificada e por menos do que isso Sócrates foi condenado).
3 – Uma pequena parte do Caixa 3 pode virar Caixa 2, quando for estratégico eleger pessoas do próprio partido ou de partidos aliados.
O Caixa 3 existe, fundamentalmente, para financiar a estratégia de conquista de hegemonia sobre a sociedade. Não existe para eleger pessoas (o que seria Caixa 2) ou para manter um partido no governo e sim para tomar o poder. É claro que um partido que almeja tomar o poder usando a democracia (em doses homeopáticas), precisa ficar por longo tempo no governo: o tempo necessário para derruir o sistema de pesos e contrapesos da democracia, degenerando as instituições (para deprimir seu sistema imunológico).
É por isso que se faz tanto esforço para reduzir tudo à Caixa 2. E é por isso que aparece agora uma orquestração de esforços defendendo a proibição de doação eleitoral de empresas. É um truque para confundir mensalão, petrolão e outros esquemas estratégicos de Caixa 3 com Caixa 2 de campanha. É para esconder a existência do Caixa 3.
Augusto de Franco é escritor, palestrante e consultor