Buscando clareza sobre a crise na China

24/07/2012 11:00 Atualizado: 24/07/2012 11:00

O fórum ‘Compreendendo a crise na China’, realizado em 19 de julho na Colina do Capitólio. (esquerda-direita) O Dr. Damon Noto, porta-voz dos ‘Médicos contra a colheita forçada de órgãos’; David Kilgour, ex-membro do parlamento canadense e ex-secretário de Estado para a Ásia-Pacífico (2002-2003); Stephen Gregory (moderador), vice-editor- chefe do Epoch Times; Yiyang Xia, diretor-sênior de Política e Pesquisa da ‘Fundação Legal de Direitos Humanos’; e Matthew Robertson, editor de China do Epoch Times (Lisa Fan/The Epoch Times)Acontecimentos políticos extraordinários na China tem uma explicação subjacente, diz fórum em Washington

WASHINGTON – Os últimos quatro meses na China tiveram uma quantidade incomum de turbulência, mesmo para a China, enquanto o país transita para uma nova liderança em outubro. Nós vimos uma tentativa de deserção do oficial chinês Wang Lijun no consulado dos EUA, a destituição de um alto oficial do Partido Comunista, Bo Xilai, e a dramática fuga da prisão domiciliar e o refúgio na embaixada dos EUA do advogado cego de direitos humanos Chen Guangcheng.

A fim de dar sentido a esses eventos e outros, o Epoch Times patrocinou um fórum em 19 de julho na Colina do Capitólio. Os participantes buscaram colocar os recentes e dramáticos acontecimentos num contexto mais amplo de tensões dentro da liderança do Partido Comunista Chinês (CCP). O painel procurou aprofundar a compreensão dos recentes acontecimentos, considerando fatores que não são normalmente discutidos: a evasão de prestação de contas dos oficiais do PCC de flagrantes violações dos direitos humanos.

Yiyang Xia é diretor-sênior de Política e Pesquisa da ‘Fundação Legal de Direitos Humanos’ baseada em Washington. O Sr. Xia é um especialista em política chinesa e na estrutura e funcionamento da propaganda chinesa e seus sistemas judiciais. (Lisa Fan/The Epoch Times)A história dos acontecimentos de hoje remonta à decisão de perseguir o Falun Gong feita há 13 anos, disse Matthew Robertson, editor de China da edição inglesa do Epoch Times.

Quando o líder chinês Jiang Zemin decidiu eliminar o Falun Gong, que tinha entre 70 e 100 milhões de adeptos, boa parte do Comitê Permanente do Politburo não o apoiou. Jiang pensou que a campanha estaria terminada em três meses. Mas quando os praticantes se mostraram mais resistentes, ele teve de criar um centro de poder separado dentro do PCC, composto por oficiais que executariam a perseguição e seriam leais a ele. Este seria o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL).

O poder do CAPL cresceu imensamente desde que foi formado. Uma justificativa ideológica para seu crescimento é a doutrina de ‘manutenção da estabilidade’, disse Yiyang Xia, diretor sênior de política e pesquisa da ‘Fundação Legal de Direitos Humanos’ baseada em Washington DC.

Embora o conceito de manter a estabilidade tenha começado na década de 1990, isso se tornou um grande foco do trabalho do CAPL, disse Xia. Com base nesta doutrina, o CAPL reprime a dissidência e qualquer um que o regime considere um inimigo. Ironicamente, suas táticas de força criam mais instabilidade, disse Xia. Mas isso satisfaz o CAPL, explicou Xia. “Quando mais agitação social ocorra e mais incidentes de massa aconteçam, as forças de segurança são capazes de pedir mais financiamento, mais pessoal e mais poder”, disse ele.

Além de fortalecer o CAPL, Jiang procurou manter o poder através da criação de uma facção leal a ele. É compreensível que a facção de Jiang não deseje perder o poder, pois poderia ser responsabilizada pela perseguição ao Falun Gong.

“Os crimes cometidos em perseguir o Falun Gong, uma vez reconhecidos, ameaçarão a existência do Partido Comunista”, disse Robertson.

Matthew Robertson é editor de China da edição inglesa do Epoch Times. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)Uma vez que se compreenda a dinâmica desta facção e sua razão de ser, os eventos recentes parecem menos casuais e podem ser explicados. Wang Lijun, o ex-chefe de polícia de Chongqing, fugiu para o consulado norte-americano com informações sobre um golpe que Bo Xilai e Zhou Yongkang, o chefe do CAPL, planejavam para depois da posse de Xi Jinping como chefe do PCC.

Robertson disse que a tentativa de golpe foi confirmada por Bill Gertz, um repórter de segurança nacional dos EUA, e por fontes do Epoch Times.

A mídia reportou “lutas internas” na China. Robertson disse que isso é errado e enganoso. “Isso não é manobra parlamentar. É muito sério. Antes de isso acabar podemos muito bem ver execuções”, disse Robertson.

“A remoção de Bo é um duro golpe para a facção de Jiang formada para perseguir o Falun Gong”, observou Robertson. Sem Bo para substituir Zhou no Comitê Permanente e como chefe do CAPL, a base de poder que Jiang construiu para proteger a si mesmo e sua facção se desintegra.

Damon Noto, MD, é porta-voz dos ‘Médicos contra a colheita forçada de órgãos’ (DAFOH). O Dr. Noto é um médico no Centro Médico Universitário Hackensack, em Hackensack, Nova Jersey. Ele tem falado em várias mídias, bem como em muitos fóruns em todo o país sobre a questão da colheita forçada de órgãos. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)Colheita de órgãos

O crime pelo qual esta facção mais quer evitar ser responsabilizada é a colheita forçada de órgãos de pessoas vivas que acontece na China. Wang Lijun, Bo Xilai e Zhou Yongkang estão fortemente envolvidos em operações de colheita de órgãos.

O Dr. Damon Noto, porta-voz dos ‘Médicos contra a colheita forçada de órgãos’, disse que durante o período de 2001 a 2008, o número de transplantes “explodiu”. Seu grupo de médicos interessados ficou perplexo com a origem dos órgãos. Ele citou um exemplo de um conhecido cirurgião em Israel, o Dr. Jacob Lavee, cujo paciente foi capaz de programar um transplante de coração em duas semanas e recebeu o órgão na hora marcada. O ex-vice-presidente Dick Cheney teve de esperar 20 meses, que era um pouco mais do que a média de 6 meses a um ano, segundo relatos da mídia.

“Quando o Dr. Lavee investigou o transplante de órgãos na China, ele encontrou, para seu horror, que a maioria dos órgãos transplantados é de prisioneiros condenados à morte ou prisioneiros da consciência, ‘cuja morte foi programada para a conveniência do destinatário que esperava e que pudesse arcar com o custo da compra de um órgão’, diz o Dr. Levee num capítulo de um livro recém-publicado, ‘Órgãos do Estado: O abuso do transplante na China’. O Dr. Lavee e seus colegas foram fundamentais na aprovação de uma lei em Israel que impede o envio de pacientes israelenses para transplante de órgãos na China.”

Finalmente, em 2005, o regime admitiu que a maioria dos órgãos, em torno de 95%, provinha de prisioneiros executados, “O único país no mundo que permite a prática da colheita de órgãos de prisioneiros”, disse Noto.

Ainda assim, os números não batem, disse ele. Nos Estados Unidos, uma pessoa precisa de 15 a 20 dadores para encontrar uma correspondência. Na China, anualmente, realiza-se 10 mil transplantes de órgãos retirados de doadores aleatórios, o que nos Estados Unidos exigiria pelo menos 150 mil doadores, disse ele.

David Kilgour é um ex-membro do parlamento canadense, onde atuou como secretário de Estado para a Ásia-Pacífico (2002-2003). Ele é o coautor, com David Matas, do libro ‘Colheita Sangrenta: O assassinato do Falun Gong por seus órgãos’. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)David Kilgour, ex-secretário de Estado canadense para a Ásia-Pacífico (2002-2003), coautor com David Matas do livro ‘Colheita Sangrenta: O assassinato do Falun Gong por seus órgãos’, disse que falou com um cirurgião chamado Dr. Tan, que lhe disse que oito transplantes renais diferentes foram necessários para encontrar compatibilidade para um indivíduo, um turista estrangeiro de órgão. Kilgour concluiu que oito pessoas morreram até se encontrar um que fosse compatível.

Noto chegou à conclusão de que, “A maioria dos órgãos provêm de prisioneiros da consciência.” De longe o maior grupo perseguido é o Falun Gong. A expansão no número de transplantes na China coincide com o início da perseguição em 1999.

“No mês passado, nós informamos sobre telefonemas feitos aos principais líderes do Partido Comunista questionados sobre a colheita de órgãos. Nenhum negou conhecer sobre a colheita de órgão de praticantes do Falun Gong”, disse Robertson.

Kilgour colocou o problema da China na falta de um bom governo que uma verdadeira democracia poderia curar. Ele pediu aos “governos de sociedades abertas e seus setores privados” para analisarem por que estão apoiando as violações dos valores universais, “a fim de aumentar o comércio e negócios com a China”. “Uma China democrática não seria matando cidadãos do Falun Gong em campos de trabalho forçado”, acrescentou ele.

Noto observou que Wang Lijun teria dado informações sobre a colheita de órgãos a funcionários consulares dos EUA. Ele pediu ao Departamento de Estado que liberasse todas as informações que detém sobre a atrocidade da colheita forçada de órgãos de pessoas vivas.