No Burundi, manifestantes contrários à candidatura do presidente Pierre Nkurunziza a um terceiro mandato retomaram os protestos nesta segunda-feira (18), dias após o mandatário escapar de uma tentativa de deposição. As manifestações tornaram a degenerar em choques com a polícia e muitas pessoas foram presas, segundo reportagem da Agência Reuters.
O clima era tenso na capital Bujumbura, com soldados distribuídos pelas ruas da cidade, onde mais de 20 pessoas foram mortas em pouco menos de três semanas de protestos, disse uma testemunha à Reuters.
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Em sua primeira aparição ao público depois da tentativa de deposição, o presidente se esquivou de fazer qualquer menção ao fato, mas advertiu para a iminência de um ataque do grupo islâmico somali al Shabaab.
“Há muito tempo que falam do al Shabaab. Estão brincando conosco. Mesmo o golpe de Estado foi uma palhaçada. Estão brincando, começando por ele, mas não permitiremos. Continuaremos com os protestos até ele se afastar das eleições. Continuaremos mesmo que eles acabem conosco. Os nossos netos continuarão. Lutaremos até à última geração”, disse um manifestante.
A intenção de Nkurunziza de permanecer mais cinco anos na presidência – que, na opinião dos manifestantes, é inconstitucional – jogaram o Burundi na sua pior crise desde a guerra civil, de natureza étnica, que acabou em 2005.
A descrença do povo em Pierre Nkurunziza continua, mesmo com a reorganização ministerial feita ao regressar ao país depois da tentativa de sua deposição, organizada e perpetrada pelo general Godefroid Niyombare, um ex-companheiro de armas de Nkurunziza ao longo da guerra civil (1993-2006).
Mais de 100 mil pessoas procuraram refúgio na vizinha Ruanda, na República Democrática do Congo e na Tanzânia, com receio de que a tensão política tome um aspecto étnico e provoque um conflito geral entre a maioria hutu e a minoria tutsi, que poderia engolir a região dos Grandes Lagos da África.
Mesmo que Nkurunziza pareça ter ficado mais forte depois que o Exército se alinhou com ele, a tentativa de deposição feita pelo ex-chefe de inteligência Godefroid Niyombare, antes destituído e que agora está preso, não ajudou em nada a resolução da disputa política.