Com o preço das commodities em queda, os bens primários com cotação internacional, e o acesso ao crédito mais difícil por causa do aumento dos juros, o Brasil precisa avançar em reformas estruturais para tornar-se uma economia mais competitiva. A avaliação é do economista sênior do Fórum Econômico Mundial Benat Bilbao, especialista em América Latina e um dos autores do Relatório de Competitividade Global 2013–2014, divulgado no dia 3.
Segundo Bilbao, a mudança das condições que impulsionaram a economia brasileira nos últimos anos reforça a necessidade de ações para resolver os principais desafios que impedem o país de crescer mais. Entre as medidas que o economista julga necessárias está a flexibilização dos mercados de bens e de trabalho, além de uma ampla reforma tributária.
Em relação ao mercado de bens e de serviços, o economista defende medidas de liberalização, que resultem na alocação mais eficiente de recursos. “A liberalização é essencial para aumentar a concorrência e permitir que os recursos sejam canalizados para os setores mais produtivos da economia”, explicou.
Sobre o mercado de trabalho, Bilbao é favorável à redução de encargos trabalhistas, principalmente os tributos e as contribuições pagas nas demissões, além da flexibilização dos salários para refletir a produtividade do empregado. Ele, no entanto, reconhece que essas medidas são impopulares. “A reforma do mercado de trabalho é bastante necessária, mas enfrenta resistência. É justamente o receio de enfrentar essas questões que atrasa as reformas necessárias para o país”, disse.
O especialista recomenda ainda que o Brasil simplifique o sistema tributário e diminua o peso dos impostos sobre a economia para aliviar as distorções. “A complexidade do sistema tributário é uma das principais queixas dos empresários que investem no Brasil. Além disso, o alto nível de taxação cria distorções e impede que as companhias se tornem mais lucrativas e invistam em inovações”, ressaltou.
De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial, o Brasil caiu oito posições em 2013 e ficou no 56º lugar no ranking internacional de competitividade, de um total de 148 países analisados. Entre os países do Brics, grupo das principais economias emergentes, o país perdeu a segunda posição para a África do Sul. Na América Latina, o Brasil ficou em quinto lugar, perdendo uma posição para o México.
O relatório destaca que a deterioração de fatores macroeconômicos, principalmente das contas públicas e da taxa de poupança, contribuiu para a queda do Brasil no ranking. O economista diz que o aumento de gastos públicos posto em prática pelo governo nos últimos anos ainda não afeta a estabilidade da economia brasileira, mas recomenda moderação da equipe econômica no médio e no longo prazo.
“As ações do governo precisam ser vistas num quadro mais amplo. A expansão dos investimentos e dos gastos públicos está tentando conter um ciclo de baixo crescimento da economia. No curto prazo, essa política pode até ser eficaz, mas o governo precisa ter cuidado para não confiar demais no aumento do déficit nominal e no endividamento público. Se essa tendência continuar, o crescimento da economia brasileira no longo prazo estará prejudicado”, adverte Bilbao.
Outros fatores que contribuíram para a posição do país no ranking de competitividade, acrescenta o economista, são comuns aos países latino-americanos, como instituições fracas, baixa qualidade da educação e defasagem na infraestrutura. Ele, no entanto, considera que o Brasil leva vantagem sobre os países da região porque tem bolsões de inovação e ambiente sofisticado de negócios.
“Se fizer as reformas necessárias e investir nesses pontos fortes, o Brasil tem um potencial de crescimento fantástico nos próximos anos”, avalia o economista. Ele ressalta que a África do Sul só superou o Brasil entre os países do Brics por causa da liberalização do mercado de bens. “Em termos de inovação, o Brasil tem uma economia mais complexa e sofisticada que os sul-africanos”, completa.
Esta matéria foi originalmente publicada pela Agência Brasil