A nomeação do Brasil pela FIFA para recepcionar a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016 parece ter coroado o inegável e surpreendente sucesso brasileiro. Porém, com as eleições presidenciais à caminho este ano, a onda de protestos nas ruas e a crescente inquietação econômica, será que a maior nação da América Latina conseguirá aparecer bem sob os holofotes internacionais?
O progresso econômico e social do brasil nos últimos 20 anos é inegável. Desde a sua última inadimplência na dívida externa em 1987 e a hiperinflação em 1993, o gigante latino americano implementou com sucesso um plano macroeconômico (o Plano Real de 1994) que colocou o país em uma nova direção: a redução progressiva da pobreza e a classe média em ascensão, as taxas de inflação anuais reduzidas a apenas um dígito; posição credora externa líquida desde 2007; mais de 350 bilhões de dólares em reservas internacionais; declínio da linha de fundo da dívida pública; boas notas para o risco de crédito para investimentos e a lista continua.
O estabelecimento do tripé de estabilidade macroeconômica, através de taxas de câmbio flexíveis, a inflação controlada por um Banco Central independente, mirando e restringindo as políticas fiscais, trouxe sucesso ao Brasil na década até 2006.
Desde então, a realidade veio se tornando um pouco mais complicada. Às vezes as boas notícias acabam por encobrir falhas do sistema: altos níveis de criminalidade, infraestrutura precária, um sistema tributário excessivo e distorcido, baixos níveis de educação, leis trabalhistas desatualizadas, burocracia entorpecida e corrupção endêmica.
Acima de tudo, e pior do que estas situações presentes, tem sido a direção desafortunada da economia em 2006. Pouco tempo antes da crise global, um escândalo político – com um enredo recheado de sexo, dinheiro e abuso de poder – resultou na destituição do primeiro ministro da Fazenda do presidente Lula, Antônio Palocci.
A “era Malocci”
Durante seu mandato como ministro da Fazenda de 2003 a 2006, Palocci, um médico que tornou-se político que tornou-se ministro, acompanhou de perto o programa econômico iniciado por seu antecessor (e oponente político), Pedro Malan.
Na “era Malocci”, um plano coerente de reforma regulatória foi implementado, abrindo caminho para os avanços econômicos e sociais destacados acima. Apesar da economia próspera, a destituição de Palocci forçou uma mudança em direção à gestão econômica do atual ministro da Fazenda Guido Mantega.
Mantega e Palocci representam forças opostas dentro da administração do Presidente Lula. Enquanto Palocci pregava que mercados regulados seriam a locomotiva para o sucesso econômico, Mantega é adepto da teoria de que intervenção econômica é a melhor maneira de gerir a economia.
O Rei está morto, vida longa ao Rei!
Sob a condução de Mantega, o dirigismo econômico ganhou destaque e foi ressaltado durante o governo da atual presidente Dilma Rousseff (sucessora escolhida à dedo por Lula). Assim, o Brasil lamentavelmente se arrastou de volta à (má) gestão microeconômica e ao nepotismo.
Agora de volta ao menu de políticas: a contenção da independência do Banco Central do Brasil; o congelamento do preço da energia elétrica; o sufocamento das exigências internas para a indústria petrolífera; estratégias discricionárias de escolha de vencedores de processos licitatórios; centralização dos empréstimos de dinheiro público; e variações de tarifas de importação. Inclusive, nenhuma reforma estrutural significativa foi aprovada desde então.
Apesar da fraca política econômica, as eleições presidenciais brasileiras deste ano prometem apenas confirmar o mesmo conjunto de políticas que estão minando as perspectivas do país, apesar do iminente sofrimento da economia. Infelizmente, este é mais um exemplo trágico de políticas populistas de curto prazo que são desastrosas a médio e longo prazo.
(R)evolução ao dobrar a esquina?
Desde a onda de protestos nas ruas ocorrida em julho, a corrupção só tem aumentado no Brasil. Infelizmente, o fenômeno estava dividido em muitas vozes e muitos interesses conflitantes. Com a ocupação de várias cidades ocidentais desde 2011, liderança vaga e a falta de demandas concretas comprometeram a eficácia dos protestos. Pior: o mesmo público que protestou contra a combinação brasileira desastrosa de sistema tributário escandinavo e prestação de serviços públicos subsaariana não apoia uma série progressiva de reformas. No final, nem revolução nem evolução sairão dos protestos.
Então, o que esperar da Copa do Mundo da Fifa neste ano e das Olimpíadas nos próximos dois anos? Muitas festas ao estilo carnaval, incidentes esparsos de protestos e performances incríveis dos atletas. E não muito mais, infelizmente.
Patrick Carvalho é um advogado brasileiro, ex-chefe da Divisão de Estudos Econômicos da Firjan e professor associado da ANU Research School of Economics
Este artigo foi originalmente publicado pelo The Conversation