Brasil e África do Sul vão intensificar as ações de cooperação na área de defesa. Nos próximos meses, será ampliada a oferta mútua de cursos de formação de praças e oficiais em escolas militares dos dois países. Também serão iniciadas tratativas e trocas de informações nas áreas de cibernética e de inteligência.
As medidas foram anunciadas pelos ministros da Defesa dos dois países, Celso Amorim e Nosiviwe Mapisa-Nqakula, durante reunião realizada nesta quinta-feira (20/03) na sede do Ministério da Defesa da África do Sul, em Pretória, capital do país. Para concretizar a parceria e assegurar o andamento das ações bilaterais, foi acertada a realização de uma reunião anual entre os ministros.
O detalhamento do quantitativo de vagas para formação de militares, assim como a definição da agenda de encontros para tratativas dos assuntos que integrarão o conjunto de ações de fortalecimento da cooperação serão realizados nos próximos meses.
Brasil e África do Sul mantém uma forte parceria bilateral em áreas diversas. Na Defesa, os dois países mantém intercâmbios de formação de oficiais, realizam exercícios militares conjuntos e desenvolvem, há quase uma década, projetos comuns de equipamentos de defesa.
Para Celso Amorim, Brasil e África do Sul são “parceiros ideais em defesa”. De acordo com o ministro, além de terem visões geopolíticas semelhantes, os dois países adotam postura independente no mundo, estão em estágios semelhantes de desenvolvimento, e também possuem desafios e necessidades comuns no campo tecnológico.
Míssil de quinta geração
O principal projeto militar bilateral é o míssil ar-ar de quinta geração A-Darter. Projetado para ser utilizado pela aviação militar de ambas as nações, o A-Darter encontra-se em sua fase final de desenvolvimento, etapa que inclui estudos para industrialização do equipamento.
O A-Darter é um míssil de curto alcance, projetado para atingir alvos aéreos em até 12 km. O equipamento tem componentes fabricados na África do Sul e no Brasil, com ampla transferência tecnológica e integração entre as indústrias dos dois países. A participação brasileira no projeto envolve as empresas Avibrás, Mectron e Opto. Pela parte sul-africana, a responsabilidade é da empresa Denel – estatal que responde pelos principais projetos de defesa do país.
Pela parte brasileira, a gerência do contrato de desenvolvimento do A-Darter cabe à Comissão Coordenadora do Programa de Aeronave de Combate (Copac) da Força Aérea Brasileira (FAB). Atualmente, o Brasil mantém nove militares na sede da empresa, nos arredores de Pretória, aos quais cabe a tarefa de acompanhar o atual estágio do projeto.
Segundo os engenheiros brasileiros e sul-africanos que trabalham na atual fase do projeto, o míssil deverá ser finalizado no segundo semestre de 2015. Os testes do equipamento já estão sendo realizados nos aviões Gripen da Força Aérea da África do Sul. Segundo especialistas, esse fato deverá acelerar a integração do armamento à aviação militar do Brasil, uma vez que o país contará, a partir de 2018, com versão mais moderna do Gripen, a NG, em sua frota.
Cooperação Sul-Sul
Desde 2006, quando foi assinado o contrato para desenvolvimento do equipamento, o Brasil enviou 64 profissionais civis e militares à África do Sul, a maioria engenheiros, para participar diretamente do projeto. “Esse é o tipo de cooperação sul-sul que procuramos”, celebrou o ministro Celso Amorim durante visita às instalações da Denel, local onde pôde ver o protótipo do A-Darter.
O projeto do míssil A-Darter foi citado expressamente durante a reunião bilateral entre Amorim e Mapisa-Nqakula como exemplo de parceria bem-sucedida. “A cooperação sul-sul é prioridade em nossa política externa”, disse a ministra sul-africana, ressaltando também a importância da troca de informações e da realização de exercícios militares conjuntos com as Forças.
Em comunicado divulgado à imprensa, os ministros mencionaram a disposição de Brasil e África do Sul em fortalecer a relação entre as indústrias de defesa dos dois países. Uma das possibilidades nesse campo é o desenvolvimento conjunto de um novo míssil ar-ar de longo alcance – até 100 km.
Os dois ministros também renovaram o compromisso estratégico de cooperar multilateralmente no âmbito da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas), e por meio de exercícios navais no âmbito do IBSA-MAR, organismo que reúne os dois países mais a Índia. Mapisa-Nqakula mencionou as preocupações da África do Sul com as ameaças à segurança do Atlântico Sul, a exemplo das ações de pirataria. Ela ressaltou que a região é uma prioridade de seu país.
Congo
Ainda na reunião com Amorim, a ministra sul-africana parabenizou o Brasil pela atuação do general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz no comando da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas (ONU) da República democrática do Congo (Monusco, sigla em inglês). Segundo Mapisa-Nqakula, Santos Cruz tem realizado um “trabalho extraordinário, com entusiasmo e determinação” no restabelecimento da paz no país africano.
Em Pretória, Celso Amorim também manteve reunião com a ministra sul-africana das Relações Internacionais e Cooperação, Maite Nkoana-Mashabane. Os encontros são parte da viagem de quatro dias que Amorim realiza à África com o objetivo de estreitar a cooperação em defesa com os países do continente. A agenda inclui ainda encontros com ministros da defesa e outras autoridades de Moçambique, República Democrática do Congo e Angola.
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal DefesaNet