Bolha do mercado de ações chinês pode ter acabado de estourar

26/06/2015 10:25 Atualizado: 26/06/2015 10:25

O índice Xangai Composto caiu 6.4% na sexta feira passada, após um declínio de 13% durante a semana. Alguns acreditam ser o início do estouro da bolha no mercado de ações chinês.

O declínio de percentagem na semana passada foi a maior queda semanal do índice desde 2008, quando a queda do índice foi gerada pela crise financeira.

O retrocesso da semana passada seguiu-se a meses de especulação sobre uma possível correção no mercado de ações que tem a melhor performance do mundo.

Gráfico com as cotações de fechamento do índice composto da Bolsa de Xangai desde 2005 (Fan Yu/Epoch Times)
Gráfico com as cotações de fechamento do índice composto da Bolsa de Xangai desde 2005 (Fan Yu/Epoch Times)

Nos últimos três meses, a Bolsa de Valores de Xangai passou um período de grande volatilidade, com ganhos e perdas súbitas enquanto corretores lutavam contra a alta valorização e a disparada da margem de dívida das corretoras.

O índice composto ganhou 25% entre 20 de março e 27 de abril, caiu 10% nos 10 dias seguintes, ganhou 20% nos 20 dias seguintes e subitamente caiu 7% nos 2 dias seguintes. Depois subiu 12% entre 30 de maio e 12 de junho, apenas para cair 13% na semana passada.

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Altamente endividados

O Xangai Composto está sendo negociado atualmente a um preço/lucro (P/L) de 24, de acordo com dados compilados pela S & P Capital IQ. Isso significa que Xangai é o mercado mais sobrevalorizado do mundo, se tomarmos como base essa medida comum.

Reminiscente da bolha de Xangai de 2007, os preços das ações nos últimos 15 meses foram largamente inflacionados por pequenos investidores que compraram ações em margem ou pediram dinheiro emprestado a firmas de corretagem para comprar mais ações.

Este tipo de risco é analisado com cautela por investidores experientes, mas para muitos chineses que investem pela primeira vez, comprar em margem é simplesmente uma forma de enriquecer rapidamente.

A Bloomberg estima que os investidores chineses possuem uma impressionante dívida de margem de U$ 358 bilhões desde 15 de junho. Corretores inexperientes realizaram muitas destas compras. O Epoch Times reportou no dia 26 de abril que 67% dos candidatos a contas de corretagem não possuem diploma de ensino médio, citando um estudo realizado pela Universidade de Finanças e Economia de Chengdu, na China.

Este tipo de alavancagem significa que qualquer venda material pode rapidamente entrar numa espiral fora de controle, já que os corretores vão se apressar para liquidar suas ações de forma a atingir os valores da cobertura adicional. Isso iria baixar mais ainda os preços das ações.

‘A maré vai ter que vazar’

Alguns analistas vêm os eventos da última semana como o princípio de uma grande correção na bolsa de valores chinesa.

“A maré vai vazar e muitas pessoas serão pegas desprevenidas. Estamos testemunhando uma deflação muito rápida”,  afirmou Ewen Cameron Watt, estrategista-chefe de investimentos na BlackRock, à Bloomberg Television na última sexta feira.

O Morgan Stanley escreveu uma carta a seus clientes na semana passada, afirmando que metade dos investidores entrevistados em junho acreditavam que as cotas A da Bolsa de Xangai se tratavam de uma bolha, e apenas 12% tinha essa opinião em janeiro deste ano.

Uma incógnita é como o Partido Comunista Chinês irá reagir a uma grande correção do mercado.

Os reguladores do setor de títulos negociáveis na China, durante os últimos seis meses, introduziram várias regras num esforço para esfriar os ganhos recentes do mercado, incluindo a restrição da margem de negociação para alguns investidores e a abertura da Bolsa de Valores de Xangai a investimentos de Hong Kong, com esperança de abaixar o valor das ações chinesas. Mas essas medidas não conseguiram acabar com a exuberância dos investidores e a bolha continuou a crescer.

“Os legisladores irão intervir caso a correção de mercado fique além de um nível confortável”, Adrian Mowat, estrategista chefe do mercado de títulos da Ásia e mercados emergentes da JPMorgan Chase & Co., disse em entrevista à Bloomberg em Hong Kong.

“Eu imagino que se a correção continuar na próxima semana, iremos ouvir algo reconfortante”.

Entretanto, considerando as dificuldades que a economia chinesa está atravessando e a velocidade e magnitude do último estouro da bolha (em 2007-2008), desta vez pode não haver qualquer notícia tranquilizadora para dar.