Boatos maldosos sobre o czar da segurança chinesa podem ser parte do plano

18/04/2012 02:30 Atualizado: 18/04/2012 02:30

Não muito tempo depois da prisão de Bo Xilai, um membro recentemente deposto da elite do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCCh), uma série de anedotas cruéis começou a circular em vários websites, contestando a reputação de Zhou Yongkang, o czar da segurança doméstica do PCCh e conhecido apoiador de Bo.

Zhou é um membro do centro nervoso do Politburo, o Comitê Permanente, e como chefe dos tribunais, da polícia, do aparato de espionagem doméstica e da polícia armada, é um dos oficiais mais poderosos da China.

Observadores dizem que o contexto destes rumores, sejam eles verdadeiros ou não, embora pareçam plausíveis, sugere que sejam parte de uma manobra de Hu Jintao, secretário-geral do PCCh, e Wen Jiabao, primeiro-ministro do Estado, contra seu adversário mais poderoso remanescente na estrutura da liderança comunista.

Em 12 de abril, o Boxun relatou que a esposa do deposto Bo, Gu Kailai, tinha divulgado informações aos investigadores do Partido sobre o plano de Zhou para encenar um golpe. Boxun é um site anticomunista no exterior que tem sido estranhamente preciso em suas previsões da crise atual do Partido que começou a ocorrer no início de fevereiro, quando o confiável braço direito de Bo Xilai, Wang Lijun, tentou desertar no consulado norte-americano.

Gu Kailai está agora sob investigação por seu papel na morte do inglês Neil Heywood, com quem teve estreitas e, possivelmente, questionáveis, relações de negócio. O rumor do Boxun diz que ela entregou Zhou Yongkang ao ser questionada sobre suas próprias atividades supostamente corruptas.

Foi comentado que ela disse que Zhou foi a força principal por trás do plano para interromper a sucessão de Xi Jinping, o presumido próximo líder do PCCh. Ela chamou Zhou de “um canalha entre os membros do Politburo”, relatou o Boxun, de acordo com suas fontes.

Outro artigo do Boxun no mesmo dia disse que Zhou Yongkang assistiu Bo Xilai e Wang Lijun em criar arquivos pessoais sobre altos oficiais do Partido, incluindo monitorar seus telefones, vidas pessoais e atividades econômicas. O objetivo era usar a informação como um porrete na próxima transição da liderança durante o 18º Congresso do Partido em outono deste ano. O uso de provas de corrupção para ganhar batalhas políticas é uma tática estabelecida na China comunista.

Outro site, o Ming Jing, que é leal ao regime do ex-líder Jiang Zemin, em 12 de abril, também começou a atacar Zhou Yongkang. Jiang, agora em estado vegetativo, foi o patrono de longa data de Zhou, que ele trouxe através das fileiras por causa da vontade de Zhou em executar a política brutal de Jiang de perseguir os praticantes do Falun Gong, uma prática popular espiritual chinesa.

O Ming Jing disse que Zhou é suspeito de ter matado sua primeira mulher, e que ele foi convidado a explicar-se aos outros membros do Comitê Permanente. Também foi comentado que Zhou é responsável pela morte de outras pessoas ao seu redor, cujos detalhes eram conhecidos por Wang Lijun. Zhou, portanto, tentou proteger Wang, disse o artigo do Ming Jing.

O Boxun informou que Zhou continuará a ser um “grande alvo” a ser derrubado antes do 18º Congresso do Partido no outono.

Zhang Tianliang, um comentarista político, escreveu numa coluna publicada na edição chinesa do Epoch Times que acredita que a remoção de Zhou é apoiada por Hu Jintao, Xi Jinping e Li Keqiang, os dois últimos programados para serem presidente e primeiro-ministro, respectivamente, no próximo Congresso Nacional Popular no fim deste ano. O vazamento de detalhes sórdidos das acusações contra Zhou à imprensa chinesa no exterior é uma forma de enfraquecer sua posição, disse Zhang.

A liderança também parece ter tomado medidas mais evidentes. Um editorial de destaque publicado em jornais do Partido em 12 de abril anuncia que “os militares e toda a Polícia Armada apoiam firmemente a decisão correta do Comitê Central do PCCh”. As Forças Armadas e a Polícia Armada são forças administrativamente separadas, sendo a primeira controlada por Hu Jintao, e a última, como uma força doméstica, estando sob o controle de Zhou Yongkang, chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos.

O fato de que a Polícia Armada está junto com os militares mostra que eles apoiam à linha de Hu Jintao Isso indica que o poder mudou, segundo os especialistas. A Polícia Armada se tornou uma força extremamente poderosa de mais de um milhão de tropas ao longo da última década, e são regularmente utilizados para reprimir violentamente os protestos.

Xia Xiaoqiang, um comentador de política chinesa, disse que, “Nós já tínhamos visto o exército mostrar sua lealdade; a Polícia Armada não tinha. Depois que Bo Xilai foi removido, a Polícia Armada se posicionou. Este é um sinal de que Zhou Yongkang está perdendo terreno.”

A abertura da luta, que os líderes do Partido no passado tentavam desesperadamente esconder-se sob uma fachada de estabilidade e transição de poder institucionalizada, levanta questões sobre a transição suave do poder no 18º Congresso do Partido no final deste ano.

A Reuters citou uma fonte em 11 de abril dizendo que os principais líderes estavam considerando atrasar a abertura do Congresso para cerca de março de 2013, quando a nova safra de oficiais assume seus postos estatais. Isso seria um passo sem precedentes. O Diário da Manhã do Sul da China num artigo questiona se no próximo ano o Partido reduziria o número de membros do Comitê Permanente do Politburo de 9 para 7.