O sapo que queria ser maior que o boi
Bo Xilai não é mais o chefe do Partido em Chongqing, segundo o órgão oficial do Partido Comunista Chinês (PCCh), o Diário do Povo. O assassinato público da carreira de Bo, que ocorreu depois de uma conferência de imprensa do primeiro-ministro Wen Jiabao, na qual Bo foi repreendido, é o ponto culminante de uma luta política interna que veio à tona no mês passado, quando o subordinado de Bo se refugiou no consulado norte-americano da cidade de Chengdu. O site dissidente de notícias Boxun informou que Wang Lijun, ex-chefe de polícia de Chongqing, tinha acusado Bo Xilai de tramar um golpe para derrubar o próximo indicado a liderança do PCCh, Xi Jinping.
O Diário do Povo indicou que a aposentadoria forçada de Bo teria sido mencionada por Wen, que, respondendo a uma questão de um jornalista da Reuters, tinha dito que “o atual Comitê da cidade de Chongqing e o governo devem considerar e compreender seriamente as lições do incidente com Wang Lijun”.
Bo será substituído por Zhang Dejiang, um membro do Politburo e o filho de um ex-general do exército comunista. Foi Zhang que lidou e solucionou a questão do desastre do trem de alta velocidade para o atual presidente do Partido, Hu Jintao.
A notícia da mudança de cargo de Bo foi anunciada numa única sentença pelo Xinhua, agência de notícias porta-voz do PCCh.
Como era previsível, a notícia provocou uma tempestade de discussões no serviço de microblogue chinês Sina. Um artigo da notícia foi compartilhado 45 mil vezes em 45 minutos.
Wen Jibao, numa coletiva de imprensa, declarou que, “a cúpula do Partido está atenta à questão, e imediatamente encarregou os departamentos responsáveis para conduzirem uma investigação especial. A investigação progrediu. Nós agiremos baseados nos fatos e na lei, e lidaremos estritamente com o caso de acordo com a lei.”
Ainda não está claro que acusações incidiram sobre Bo, mas as “investigações” sobre a corrupção na China são frequentemente utilizadas no contexto de lutas políticas. Segundo observadores especialistas no Partido Comunista, Bo tem sido flagrante demais em sua tentativa de contestar a liderança do Partido, fazendo a promoção da “Chongqing modelo”, incluindo uma maior intervenção do Estado na economia, um renascimento neo-maoista e a limpeza total de associados à “máfia”. Essa limpeza tem sido utilizada por Bo para se livrar de inimigos políticos ou para confiscar os bens de certos homens de negócio, segundo os críticos.
Antes que sua carreira virasse fumaça, Bo procurou demonstrar seu sucesso na mobilização das massas e sua natureza orgulhosa comunista em Chongqing a fim de melhorar suas chances de obter um assento no Comitê Permanente do Gabinete Político, o grupo de nove homens que controlam a China. Rumores também circularam nessas últimas semanas e, segundo eles, Bo planejava um golpe de Estado, beneficiando-se do apoio de Zhou Yongkang, o mais alto responsável chinês em matéria de segurança.
Bo Xilai havia sido previamente enviado a Chongqing para não chamar muita atenção, após a apresentação de inúmeras ações judiciais contra ele no estrangeiro por crimes contra a humanidade que visavam os praticantes do Falun Gong. Bo Xilai participou bem cedo e com entusiasmo na campanha de supressão que começou em 1999 sob as ordens do ex-líder Jiang Zemin contra a disciplina espiritual, crendo poder fazer avançar sua carreira brutalizando os praticantes. Seu antigo braço direito, Wang Lijun, teria possivelmente sido envolvido na coleta forçada de órgãos dos praticantes do Falun Gong ainda vivos. Se esse é o caso, Bo certamente tinha conhecimento das ações de seu ex-subordinado.
Logo depois do anúncio sobre Bo Xilai, o Xinhua anunciou que Wang Lijun, ex-vice-prefeito e chefe de polícia de Chongqing, seria removido de seu cargo. He Ting, vice-governador da província de Qinghai e chefe da segurança pública de lá, foi enviado para assumir a posição vaga.
Internautas chineses parecem estar saboreando o excitante o derramamento de sangue político dos eventos recentes. Um comentário compartilhado amplamente observa que, “Tudo isso prova um princípio: A maioria dos rumores no Weibo estava correta.”