Bo Xilai nega acusações no primeiro dia do julgamento

23/08/2013 12:12 Atualizado: 23/08/2013 12:12
Bo Xilai, ex-membro do Politburo chinês, é julgado no Tribunal Intermédio de Jinan, na província de Shandong, China (Imagem de tela)
Bo Xilai, ex-membro do Politburo chinês, é julgado no Tribunal Intermédio de Jinan, na província de Shandong, China (Imagem de tela)

Bo Xilai, um ex-membro do Politburo chinês, exibiu uma postura surpreendentemente combativa no tribunal no primeiro dia de seu julgamento em 22 de agosto, negando e ridicularizando as acusações contra ele e repudiando a confissão que fizera durante o interrogatório disciplinar.

A maioria das acusações das autoridades relacionava-se com subornos, que ele teria aceitado de empresários quase uma década atrás. Suas transgressões mais politicamente sensíveis, seja no início ou no final de sua carreira, estão sendo deixadas de fora do processo inteiramente.

Ladeado por dois guardas, Bo Xilai foi conduzido ao Tribunal Popular Intermediário de Jinan (TPIJ), na província de Shandong, leste da China, e autorizado a se sentar somente após as acusações serem lidas. Fotos divulgadas na mídia chinesa mostram-no de calça preta e camisa branca sem gravata. Seus ombros estão caídos e o sorriso chamativo que ele costumava exibir foi substituído por um olhar cansado de desafio resignado.

Desconfiando de que o julgamento tenha pelo menos um mínimo de credibilidade, as autoridades chinesas estão reproduzindo o julgamento por meio do blogue do TPIJ no Weibo, a versão chinesa do Twitter. Transcrições do tribunal, atualizações e fotografias aparecem em arquivos JPG nas mensagens. Censores da internet regularmente varrem a seção de comentários de observações críticas ao Partido Comunista Chinês (PCC) ou ao processo judicial.

As acusações principais contra Bo Xilai na quinta-feira foram de ele ter aceitado um suborno de 1,11 milhão de yuanes (US$ 181 mil) de Tang Xiaolin, o CEO da Dalian International Development Co. Ltd., bem como 21,79 milhões de yuanes (US$ 3,57 milhões) de Xu Ming, um empresário bilionário e chefe de um conglomerado. Bo Xilai foi o prefeito de Dalian entre 1993-1999.

“Deixe-me dizer algumas coisas simplesmente”, comentou Bo Xilai. “O vídeo que acabamos de ver de Tang Xiaolin, eu realmente vi o desempenho vergonhoso de um homem que vendeu sua alma.” Bo Xilai disse ter feito uma confissão contra sua vontade durante um processo de interrogatório secreto do PCC conhecido como “shuanggui”, mas agora: “Eu não sei de nada dessas coisas. Há um espaço em branco em minha mente.”

Ele chamou Xu Ming, com quem tinha intimidade antes, de “um vigarista consumado” e “um cachorro louco, mordendo em todos os lugares”.

Quando a confissão de Gu Kailai, a mulher de Bo Xilai, foi abordada para mostrar que ela havia retirado mais de 130 mil dólares do cofre do casal, ele disse: “Acho que o depoimento de Gu Kailai é extremamente cômico e ridículo.” Ele acrescentou: “Deixe-me dar um exemplo…”, antes de prosseguir para discutir os detalhes do período e por que ele pensou que as acusações não eram credíveis. Gu Kailai, disse ele, é uma “pessoa culturalmente refinada e uma mulher intelectual moderna”. Eles quase não tinham oportunidade de falar sobre dinheiro, afirmou ele.

Não havia observadores independentes no julgamento. As dezenas de jornalistas que viajaram de toda a China para reportar o evento foram conduzidos a um prédio do outro lado da rua, onde estão simplesmente assistindo as atualizações no Weibo do Tribunal de Jinan. “Não temos nada a dizer”, dizia o website do Lanjing Financial. “Todos aqui estão apenas acompanhando o Weibo. Viemos de longe, de muito longe, apenas para isto…” A mensagem acrescentava uma série de emoticons expressando exasperação.

O julgamento de Bo Xilai, e a trajetória desde episódio desde o ano passado, é um dos eventos mais politicamente significativos na China na última década. Bo Xilai era um membro do Politburo do PCC, do qual a Comitê Permanente, o grupo de sete homens que governam a China, é selecionado.

De sua fortaleza sudoeste em Chongqing, Bo Xilai tentou fazer sua aposta para os níveis mais altos do poder político por meio da mobilização de eventos de cantorias maoístas e de usar o poder do aparato de segurança para punir os “mafiosos”, entre os quais, dizem os críticos, estariam seus adversários políticos e empresários legítimos, enquanto tomava seus ativos.

Ele também teria tramado um golpe de Estado, juntamente com o então chefe da segurança pública Zhou Yongkang, para tomar o poder do agora líder chinês Xi Jinping antes que este pudesse se estabelecer. Xi Jinping assumiu o comando do PCC em novembro do ano passado.

Em cargos oficiais anteriores na província de Liaoning no final de 1990 e início de 2000, Bo Xilai supervisionou a expansão dos campos de trabalhos forçados, usados para perseguir os praticantes do Falun Gong. Liaoning também foi uma região-chave da colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong, enquanto a província estava sob a chefia de Bo Xilai.

Ele também era um político protegido do ex-líder chinês Jiang Zemin, que começou a perseguição ao Falun Gong em 1999. Vários relatos sugerem que a rápida ascensão do Bo Xilai nas fileiras do PCC está relacionada ao apoio incondicional de Jiang Zemin, uma recompensa pela execução entusiástica de Bo Xilai da perseguição ao Falun Gong.

Wang Lijun, o ex-braço-direito de Bo Xilai, se gabou numa cerimônia de premiação de realizar “milhares” de transplantes “no local” em sua clínica de pesquisa associada à Secretaria de Segurança Pública de Jinzhou. A briga entre Wang Lijun e Bo Xilai levou à crise no início de 2012 que desmoronou a carreira de Bo Xilai e resultou neste julgamento.

Há opiniões divergentes entre comentaristas sobre se o desempenho de Bo Xilai na quinta-feira era parte do plano ou se ele estava realmente desafiando as autoridades.

Chen Shuqing, um ativista dos direitos da província de Zhejiang, disse numa entrevista por telefone com o Epoch Times: “O julgamento de Bo Xilai é como um jogo depois de um ensaio planejado. A chamada ‘transmissão ao vivo’ não é realmente ao vivo. Ela é publicada no Weibo. Desta forma, se há algo fora do plano, como o caso de Wang Lijun, a perseguição ao Falun Gong em Dalian e a tentativa de golpe contra Xi Jinping, eles podem optar por não transmitir.”

A Reuters citou Zhang Sizhi, que defendeu Madame Mao durante o julgamento contra a Gangue dos Quatro em 1980. “Ele sabe exatamente o que dizer e o que não dizer”, disse Zhang. “Parece que algum tipo de entendimento foi alcançado anteriormente.”

Shi Cangshan, um comentarista independente sobre o PCC baseado em Washington, disse numa entrevista com a NTDTV que o desempenho de Bo Xilai na quinta-feira “enviou um sinal muito claro: Bo Xilai lutará até a morte com a Central do PCC”. Ele sugeriu que as autoridades podem decidir “acionar o calor” se Bo Xilai continuar.

Se Bo Xilai está saindo do roteiro tentando resistir às acusações que estão sendo apresentadas pelo PCC, ele ainda está participando do mesmo jogo. “Mesmo que Bo Xilai rejeite as acusações contra ele, ele ainda está trocando bola no que é, em essência, uma peça política ensaiada”, escreveu Nicholas Bequelin, pesquisador da Human Rights Watch, no Twitter.

O julgamento terminou por volta 18h e continuará às 8h30 da manhã em 23 de agosto, segundo o Weibo oficial do Tribunal de Jinan.

O Wenweipo de Hong Kong, um jornal pró-Pequim, esboçou algumas especulações sobre como Bo Xilai poderia ser punido. “A informação vazada de Pequim diz que Bo Xilai receberia de 15 a 20 anos”, disse o jornal. “Outras pessoas dizem que podem ser 13 anos. Mas nossas fontes dizem que é mais provável que sejam 16 anos.”