Blogueiro que expôs corrupção de oficiais chineses é preso

19/09/2013 12:28 Atualizado: 19/09/2013 12:28
Yang Dacai, um ex-oficial chinês cujo gosto por relógios de luxo provocou sua queda, foi preso por corrupção recentemente (STR/AFP/Getty Images)
Yang Dacai, um ex-oficial chinês cujo gosto por relógios de luxo provocou sua queda, foi preso por corrupção recentemente (STR/AFP/Getty Images)

O blogueiro que ajudou a derrubar um oficial chinês corrupto, identificando seus relógios caros, foi preso, informou o Wall Street Journal (WSJ).

Citando a página oficial de mídia social de um jornal militar chinês, o WSJ disse que o blogueiro Wu Dong, conhecido online como “Chefe Hua”, foi levado para interrogatório na delegacia do distrito Chaoyang em Pequim, mas não deu mais informações sobre quando ou por que ele foi levado.

A delegacia de polícia disse por telefone que não tinha informações sobre o Sr. Wu e ainda não está claro por quanto tempo ele ficará detido ou se ele será formalmente acusado.

No ano passado, Wu Dong ganhou reputação online ao identificar a partir de fotos os relógios caros usados por Yang Dacai, um ex-oficial que ostentava um guarda-roupa de peças caríssimas. Yang recebeu uma sentença de prisão de 14 anos por corrupção no início deste mês e foi forçado a retornar mais de 5 milhões de yuanes (US$ 802 mil) em ativos, escreveu o WSJ. Yang foi posteriormente apelidado de “Irmão Relógio” pelos internautas chineses.

A prisão de Wu Dong é a mais recente numa nova campanha de repressão a conhecidos blogueiros da internet que estiveram ativos investigando ou comentando sobre sinais de corrupção no oficialismo do Partido Comunista Chinês (PCC).

No início deste ano, o PCC incentivou a participação do público na identificação de funcionários corruptos, proporcionando até mesmo uma página web para denúncias de corrupção. No entanto, uma interpretação judicial recente limita severamente as atividades na internet, especificando sete situações abrangentes em que as atividades online seriam identificadas como “gravemente prejudiciais à ordem social e aos interesses nacionais”, explicou os Defensores dos Direitos Humanos Chineses (DDHC).

As autoridades chinesas recentemente alertaram os usuários de mídia social a não espalharem “boatos”, pois isso resultaria em prisão, mas ativistas dizem que essa política visaria o conteúdo crítico ao regime chinês ou notícias que o governo não gosta, informou a Rádio Free Asia.

Vários blogueiros da internet foram levados em custódia desde que a decisão entrou em vigor em 10 de setembro, sob a alegação de que eles estariam espalhando rumores.

“Embora o ciberespaço da China sempre tenha sido rigorosamente controlado e censurado, as novas sanções penais pela expressão online são um ataque direto ao espaço relativamente mais livre criado pelas mídias sociais”, comentou Sophie Richardson, a diretora dos DDHC, num comunicado na semana passada. “O governo afirma que essas novas penalidades se concentram apenas no conteúdo malicioso e difamatório, mas os críticos do governo e denunciantes são o alvo real.”

“Mesmo que você seja uma boa pessoa e esteja fazendo algo de bom, como o combate à corrupção, isso é algo que eles querem resguardar só para si”, comentou o conhecido crítico social Cui Weipingi, segundo o WSJ. “Controlar cada centelha de espontaneidade é o fundamento da lógica do PCC.”

Outra avaliação do blogueiro foi mais direta: “Eles estão prendendo todo mundo, um por um. Executando uma nova pessoa a cada dia – eles gostam de provocar medo.”

Alguns observadores compararam a atual repressão ao movimento antidireitista da década de 1950, quando Mao Tsé-tung convidou intelectuais para criticarem abertamente o Partido Comunista e, pouco depois, voltou-se contra eles para eliminá-los, disse o WSJ.