Biodiversidade em crise no Mar da China

07/08/2013 09:20 Atualizado: 07/08/2013 17:57
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)

Nos últimos anos, o problema ambiental tem se mostrado como um dos principais obstáculos para a transformação do crescimento econômico chinês em benefício efetivo para a população; enquanto na última década a economia chinesa vem conquistando mercados no exterior, ampliando suas parcerias comerciais e se projetando no cenário internacional, a situação do meio ambiente na China vem se deteriorando dramaticamente nos últimos tempos. Apesar de o governo chinês ter investido cerca de 200 bilhões de yuanes nos últimos 20 anos para atenuar os impactos ambientais provenientes da expansão industrial nos centros urbanos, a fiscalização precária, a corrupção na política e a falta de planejamento adequado fizeram com que os investimentos não surtissem o efeito esperado, permitindo que os problemas ambientais piorassem ainda mais.

Dentre os diversos problemas ambientais existentes na China hoje, o mais preocupante é a poluição das águas, especialmente em regiões que frequentemente sofrem com a seca e a escassez de água potável – nessas localidades, as poucas fontes de água disponíveis, uma vez contaminadas, danificam não só a população que depende dela para a sobrevivência, mas também afetam os produtos agrícolas produzidos nessas regiões, estendendo o efeito colateral para os consumidores desses alimentos. A principal fonte de poluição das águas é o mau tratamento dos resíduos tóxicos lançados por indústrias poluidoras, que contaminam a água superficial e subterrânea e arruínam a biodiversidade.

Um caso recente é a poluição no Mar do Leste da China, como nas cercanias de cidades importantes como Shanghai e Hangzhou, cidades que cresceram muito economicamente nos últimos anos, mas que vêm deixando uma herança atroz para o meio ambiente da região. A grande concentração de parques industriais na região fez com que o setor pesqueiro local sofresse com uma crise inédita: portos pesqueiros tradicionais, como Taizhou, que há décadas prosperavam com a abundância de peixes – tanto em quantidade quanto em variedade – estão praticamente estagnados com a drástica diminuição da biodiversidade.

O pescador Yan Keqing, de 42 anos, é pescador em Taizhou há 28 anos e acompanhou a ascensão e o declínio do setor pesqueiro na cidade. Segundo Yan, há alguns anos, o sucesso econômico de Taizhou atraiu muitos pescadores de outras regiões, gerando uma crise de pesca predatória, diminuindo a quantidade de peixes e fazendo com que algumas espécies mais procuradas ficassem à beira da extinção. Devido à situação, os pescadores formaram uma organização, estipularam regras para que a atividade pudesse ser sustentável em longo prazo e o esquema deu certo, aos poucos a vitalidade litorânea foi restaurada. Porém, nos últimos 5 anos, os efeitos da poluição das águas começaram a afetar diretamente o desempenho econômico da cidade, enquanto que mais pescadores migraram para Taizhou para tentar a sorte. O resultado foi que, além da quantidade de peixes diminuir em virtude da poluição, os novos pescadores, desesperados, começaram a violar as regras instituídas, promovendo a mentalidade de “cada um por si” e agravando ainda mais a situação. Yan afirma: “Se eles pescarão descontroladamente, eu vou ficar parado? Eu não sou um idiota… Não é questão de ética, é questão de não morrer de fome. Ninguém quer isso, mas agora não temos opção; se for para morrer, então que morramos todos juntos.”

A situação se dramatizou na temporada de pesca de 2013: Biólogos marinhos estimam que a quantidade de peixes no Mar do Leste da China diminuiu 40% em relação a março passado, até os pescadores mais experientes começaram a retornar de suas jornadas com as redes vazias. Dai Yangbin, um dos fundadores da organização e considerado o pescador ‘No. 1’ de Taizhou, conta que, usando uma rede de arrastão de 70 metros de diâmetro e vasculhando num raio de 35 léguas por 10 horas, ele consegue menos de 50 toneladas de peixes – quantidade cerca de 12 vezes menor que há 10 anos. Dai conta que, com cada vez menos peixes, os pescadores passaram a pescar à noite e usam lanternas gigantes para atrair os poucos peixes restantes: “Os peixes são facilmente atraídos pela luz, ainda mais quando são centenas de barcos juntos; o mar parece dia com inúmeras lanternas. E quando os peixes vêm não dá mais pra seguir nenhuma regra, apesar de todos sabermos que, ao caçar os peixes mais jovens, a quantidade diminuiria ainda mais.”

No ano passado, alguns pescadores passaram a pescar camarão, que se reproduziam abundantemente devido à diminuição de seus predadores naturais. Porém, como não tem experiência nesta nova atividade, mais da metade optou por instalar dispositivos de choque elétrico para matar os camarões e recolhê-los depois. Os pescadores que aderiram à nova tendência estão em melhor situação, no entanto, o biólogo marinho Zhong Xiaming diz: “Esta é uma opção muito perigosa. Se continuar desse jeito, até o ano que vem os camarões também acabarão e sobrarão apenas águas-vivas e algas: Onde há água-viva não dá para pescar e as algas se reproduzirão violentamente, causando eutrofização e matando o restante dos animais aquáticos do Mar do Leste da China. A situação é realmente desesperadora.”

O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
O outrora próspero porto pesqueiro de Taizhou enfrenta uma crise inédita: centenas de barcos pesqueiros ficam o dia inteiro atracados à costa, devido à diminuição drástica da vida marinha nos últimos anos (Beihai365.com)
Com pouco peixe para pescar, muitos trabalhadores ficam relegados ao ócio e se distraem com jogos (Beihai365.com)
Com pouco peixe para pescar, muitos trabalhadores ficam relegados ao ócio e se distraem com jogos (Beihai365.com)

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