Os benefícios ambientais dos biocombustíveis em relação aos combustíveis fósseis podem ser superestimados, devido a problemas na forma como as emissões de gases de efeito estufa são calculadas, dizem dois cientistas.
Num comentário publicado na revista GCB Bioenergy, Kevin Smith da Universidade de Edimburgo e Timothy Searchinger da Universidade de Princeton nos Estados Unidos dizem que os cálculos atuais de emissões de gases de efeito estufa ignoram aspectos importantes do ciclo de vida da produção de biocombustíveis.
Os atuais modelos de Análise do Ciclo de Vida deixam de fora o CO2 emitido por veículos movidos a etanol e biodiesel, que defensores da bioenergia dizem ser compensado pelo CO2 absorvido pelas plantas cultivadas para produzir o biocombustível.
Uma falha fatal neste argumento, dizem Smith e Searchinger, é que muitas vezes as culturas energéticas são cultivadas em terras já cobertas por plantas, sejam culturas ou outra vegetação, então a safra de bioenergia não adiciona novas plantas ao ambiente e, portanto, não aumenta a quantidade total de CO2 absorvida.
“A melhor oportunidade para fazer biocombustíveis benéficos é a utilização de resíduos ou concentrar-se em terras relativamente húmidas, mas altamente degradadas”, disse Smith num comunicado de imprensa.
Cultivar plantas para biocombustíveis em terras degradadas também significa que elas não competirão com a produção de culturas alimentares, têxteis e outros produtos, argumentam os pesquisadores.
Outro aspecto que não é levado em conta é o lançamento de outros gases de efeito estufa, como o nitrogênio de fertilizantes utilizados para cultivar plantas para biocombustíveis.
“As emissões de N2O [óxido nitroso] do solo dão uma grande contribuição para o aquecimento global associado com a produção agrícola, pois cada quilo de N2O emitido para a atmosfera tem aproximadamente o mesmo efeito que 300 kg de CO2”, disse Smith.
Os cientistas dizem que várias Análises do Ciclo de Vida atuais subestimam a quantidade de nitrogênio emitida por fertilizantes pelo menos pela metade, baseada no valor real de N2O observado na atmosfera.
Se esses dois aspectos são levados em consideração, os biocombustíveis não parecem oferecer tanta economia de gases de efeito estufa quando comparados aos combustíveis fósseis, concluem os pesquisadores.