Bilionário chinês da internet emigrará para Hong Kong

07/11/2013 15:00 Atualizado: 07/11/2013 13:17

O bilionário Ma Yun, fundador da gigante da internet chinesa Alibaba, chocou o povo chinês ao anunciar que quer se mudar para Hong Kong. Bem conhecido por seu apoio público ao Partido Comunista Chinês (PCC), Ma Yun ainda assim pretende se tornar parte de uma onda de chineses ricos que estão emigrando, junto com suas fortunas, para fora da China continental.

Numa reunião com a imprensa de Hong Kong, na cidade de Hangzhou, província de Zhejiang, Ma Yun divulgou que pretende passar sua velhice em Hong Kong e poderia obter um certificado de residência permanente em Hong Kong em dois anos. Ele acrescentou que gosta muito de Hong Kong e já comprou propriedade lá.

A empresa de Ma Yun, a Alibaba, é a maior empresa de e-commerce para negócios empresa-empresa ou consumidor-consumidor no mundo. A gigante multibilionária inclui vários negócios baseados na internet, como serviços de pagamento online e portais web.

Nos últimos meses, Ma Yun tem planejado uma oferta pública inicial (IPO) para sua empresa numa bolsa de valores fora da China, em Nova York ou Hong Kong.

Por um tempo, parecia provável que ele escolheria Nova York, porque a bolsa de Hong Kong se recusou, mas esta teria mudado de ideia recentemente, segundo um artigo do Euromoney. Diversas mídias na China têm relatado que Ma Yun pode reiniciar negociações discretas com Hong Kong.

As indicações de Ma Yun sobre se mudar e deslocar sua empresa para Hong Kong surpreendeu muita gente, por sua reputação de admirar o regime chinês.

O exemplo mais controverso do louvor de Ma Yun ao regime ocorreu num artigo de 13 de julho do Diário da Manhã do Sul da China, em que Ma Yun afirmou que o ex-ditador Deng Xiaoping tomou a “decisão mais correta” em ordenar o que é conhecido como o Massacre da Praça da Paz Celestial. Um porta-voz de Ma Yun afirmou pouco depois que ele foi mal interpretado, mas o Diário sustentou seu artigo.

Seja qual for a verdade das declarações de Ma Yun sobre o massacre, ele regularmente se gabou de seu amor pelo regime. Sob esse regime, ele acumulou grande fortuna e fama. Ele também tem estreitas relações com altos oficiais, o que tem levado muitas pessoas a questionarem por que ele quer deixar a China.

Famílias de oficiais

Na verdade, a decisão de Ma Yun de emigrar não é única. Muitos oficiais e chineses ricos têm emigrado e obtido passaportes de Hong Kong e de países estrangeiros.

De acordo com as estatísticas de oficiais do PCC, 90% das famílias de membros do Comitê Central do PCC, os 300 e tantos oficiais mais poderosos do regime, já emigraram para o exterior, reportou a revista Trend de Hong Kong em 2012.

Estima-se que oito milhões de chineses tenham dupla nacionalidade, tendo imigrado para países estrangeiros, mas mantendo sua cidadania chinesa para desfrutar dos benefícios de uma aposentadoria e privilégios na China, informou o Comitê Permanente do Congresso Nacional Popular, segundo a edição de fevereiro de 2013 da revista Chengming de Hong Kong.

Durante dois feriados em 2012, o Festival de Meados de Outono e o Dia Nacional em 1º de outubro, 714 oficiais chineses foram confirmados tendo fugido do país, segundo a edição de novembro de 2012 da revista Chengming de Hong Kong.

Dinheiro ilícito

Os oficiais não são os únicos deixando a China em ondas. Com base em dados divulgados pelo Comitê Central Disciplinar do PCC, o jornal japonês Sankei afirma que o fluxo ilegal de recursos saindo da China está aumentando drasticamente e deve chegar a US$ 15 trilhões em 2013.

“A magnitude do dinheiro ilícito que flui para fora da China é surpreendente”, disse Raymond Baker, diretor da organização de pesquisa e advocacia ‘Global Financial Integrity’ (GFI), com sede nos EUA, num relatório de 2012. “Não há outra economia em desenvolvimento ou emergente que chegue perto de tamanha evasão financeira ilícita.”

“A economia chinesa é uma bomba-relógio”, disse Dev Kar, o economista-chefe da GFI, no relatório. “A ordem social, política e econômica não é sustentável em longo prazo, devido às enormes saídas ilícitas.”

De acordo com a última análise do China Merchants Bank (CMB) e do BainCapital, um em cada três ricos na China tem investimentos no exterior, informou a CNN Money em maio. Esses investimentos no estrangeiro dobraram desde 2011.

Em risco

Além de sua predileção por Hong Kong, a decisão de Ma Yun de emigrar pode ter sido motivada pelo destino recente de outros ricos empresários chineses.

Li Jun foi um dos homens mais ricos da megalópole de Chongqing, antes da campanha de “esmagar o preto” de Bo Xilai, que confiscou seus bens e prendeu oito de seus familiares em 2012.

Zeng Chengjie era um investidor imobiliário bem sucedido de bilhões, até ser trapaceado pelas autoridades locais quando aquelas com quem ele trabalhava satisfatoriamente na província de Hunan foram substituídas por outras sem conexões com Zeng. Ele foi condenado por fraude, seus ativos e propriedades foram confiscados e ele foi executado em 12 de julho.

Neste mês de outubro, o rico investidor Wang Gongquan foi preso, aparentemente por apoiar um grupo que promove o desenvolvimento de uma sociedade civil na China.

Zong Qinghou, até recentemente conhecido como o homem mais rico da China, foi ferido num ataque fora de sua casa em setembro. Embora este ataque não pareça estar relacionado à hostilidade das autoridades chinesas, isso poderia ampliar qualquer sentimento de Ma Jun de se sentir inseguro na China.

‘Ilógico’

A divulgação de Ma Yun de seus planos de emigração provocou uma ampla discussão pública na internet da China.

“O que o fez tomar essa decisão?”, questionou um internauta. “O sistema político? As questões ambientais? O ambiente de negócios? Ele poderia ter rancores disso tudo.”

“Muitas pessoas talentosas, pessoas da elite, familiares de pessoas ricas e oficiais também estão emigrando. Eles não querem mudar o próprio país, eles só pensam em fugir para lugares seguros”, escreveu outro.

“Ele não se gabou de ser grandemente ‘patriótico’ e amar o governo? Por que ele está fugindo? O povo de Hong Kong realiza marchas para lembrar o massacre de 4 de junho; isso não se encaixa com sua mentalidade!”, comentou outro internauta.

“Isso é ilógico!”, escreveu outro. “Como ele poderia fugir para um lugar onde desprezam o comunismo? Será que esses são seus verdadeiros pensamentos?”