A Bélgica iniciou nesta segunda-feira (29) o julgamento de 46 membros do Sharia para a Bélgica, grupo terrorista islâmico acusado de enviar dezenas de jovens para integrar as fileiras do jihadismo na Síria. Entre eles Brian de Mulder, nascido na Bélgica e filho da brasileira Ozana Rodrigues Viana.
A mãe do jovem de 21 anos compareceu à audiência junto com a filha, Bruna Rodrigues, de 26 anos de idade. “Meu irmão estava todo dia com Fouad Belkacem”, disse Bruna, em declaração reproduzida pelo Wall Street Journal. “Antes de ele se tornar um muçulmano, ele não era um radical. Depois de começar a ter contato com essas pessoas, ele foi ficando pior a cada dia”. “Eu quero perguntar a Belkacem: Onde está meu filho? Ele pegou meu filho, para ir para o inferno na Síria”, afirmou Ozana.
Atualmente, Brian, que se identifica como Abu Qassem Brazili (“brasileiro”, em árabe), é um dos mais conhecidos membros do Estado Islâmico. Na internet há fotos dele armado na Síria – para o desespero da mãe. Brian disse a ela que as imagens eram somente parte de uma encenação e que ele, na realidade, estava cuidando de feridos e descascando batatas na cozinha.
“Isso me tranquilizou. Não suportaria saber que meu filho está tirando a vida de outros e que ninguém fez nada para impedir isso. Prefiro acreditar nele”, disse. Nos últimos dois anos, eles só se falaram três vezes. “Não sabemos se ele está vivo ou morto”, repetiu Ozana nesta segunda-feira, na Antuérpia.
A organização Sharia para a Bélgica, fundada na Antuérpia, ajudou a transformar a Bélgica em um pólo de envio de combatentes para a Síria. As autoridades acreditam que até 400 belgas deixaram o país em direção ao Oriente Médio. Destes, aproximadamente 10% teriam ligações com o grupo belga.
Dos envolvidos no processo, apenas oito compareceram ao tribunal. Os demais, acredita-se, estão na Síria, ou já morreram. Entre os que se apresentaram na Antuérpia está Belkacem, chefe e porta-voz do grupo.
Entre as acusações que recaem sobre o terrorista está a de realizar um ataque contra uma delegacia em Bruxelas. Durante a audiência, ele sorriu algumas vezes e sussurrou para outros réus enquanto os promotores liam as acusações. Belkacem negou as acusações. Em uma carta distribuída a jornalistas, disse que “nunca recrutou, incitou ou enviou” jihadistas para a Síria. Se for condenado pelas acusações de radicalizar jovens e estimulá-los a viajar para realizar atos terroristas, ele pode pegar até 20 anos de prisão.
Dezesseis dos 46 acusados respondem por liderar o grupo, e os outros trinta seriam membros da organização. Acredita-se que mais de 3.000 cidadãos europeus tenham se juntado a grupos terroristas na Síria e no Iraque. O principal temor das autoridades é que estes extremistas voltem para perpetrar atentados terroristas em solo europeu.
Os advogados de defesa deverão ser ouvidos nesta terça-feira. O governo belga acredita que a condenação em massa dos jihadistas poderá desencorajar outros jovens a se tornarem extremistas.
A Bélgica anunciou na última semana que enviaria caças para ajudar a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos que tem realizado ataques aéreos contra o Estado Islâmico no Iraque e também na Síria.