O Banco Central admitiu que teremos um déficit na balança comercial brasileira para o ano de 2014 por volta de 80 bilhões de dólares. Esse número parece bastante assustador, mas precisamos trazer algumas reflexões acerca do que é a balança comercial.
A balança comercial é a conta que se faz entre os bens e serviços nacionais exportados contra os bens e serviços internacionais importados. De acordo com o BC, o Brasil terá ao longo de 2014, comprado 80 bilhões de dólares a mais em produtos e serviços do que vendido.
A simples existência de uma balança comercial deficitária não significa necessariamente que estamos mais pobres, ao contrário do que a economia tradicional prega. Tudo vai depender do tipo de produto e serviço importado e exportado.
A lógica é a seguinte: se a economia brasileira está comprando muito no exterior em bens de capital ou bens de produção, na verdade esse gasto é investimento a ser utilizado no aumento da produtividade futura. Por outro lado, se a economia brasileira está importando muitos bens de consumo, isso é um indicativo de que realmente estamos mais pobres.
Trazendo para um exemplo concreto:
Imagine que você, leitor, produziu ao longo de 2014 uma quantidade de serviço que lhe rendeu R$ 100.000,00 no ano. Quando você foi conferir seus gastos, viu que na verdade você gastou R$ 180.000,00, e tudo foi gasto em consumo. Na prática, você ficou R$ 80.000,00 mais pobre sem nenhuma melhora na sua condição de vida.
Agora imagine que você continuou a produzir R$ 100.000,00 e continuou a gastar R$ 180.000,00, só que dessa vez você gastou apenas R$ 100.000,00 em consumo e outros R$ 80.000,00 você gastou com a compra de um aparelho que vai te ajudar a produzir, em um ano, R$ 40.000,00 a mais do que produzia antes. Você continua a ter gasto R$ 80.000,00 a mais do que arrecadou, só que incorporou ao seu patrimônio esse aparelho de R$ 80.000,00 (ou seja, você não ficou mais pobre, apenas imobilizou o dinheiro em um investimento) e esse aparelho ainda vai te ajudar a produzir R$ 140.000,00 no ano seguinte, o que significa que em dois anos (três anos se contar os juros) você terá pago o seu prejuízo de 2014.
Vejam que o simples gasto superior não significa necessariamente um mau negócio, se esse gasto for em investimentos para aumento futuro da produção, então, por si só, não seria esse prejuízo um problema.
Só que, no caso brasileiro, ele é. Isso porque a política do governo brasileiro é de crescimento pelo consumo, e pouco se tem feito dentro do setor produtivo para se reverter esse quadro. Os investimentos públicos no orçamento federal são baixíssimos e os investimentos privados menores ainda, dada a grande carga tributária.
Portanto, nesse caso, a balança comercial está sim refletindo um empobrecimento do país, se interpretada em conjunto com os índices de inflação e PIB, que demonstram um estado de estagflação, e o crescente endividamento do estado brasileiro, enquanto nossos níveis de produtividade estão estáveis, sem crescer.
Precisamos rever com urgência a política de crescimento pelo consumo. A poupança brasileira há muito não suporta mais esse modelo e o país está quebrando.
Bernardo Santoro é Mestrando em Direito (UERJ), Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política da Faculdade de Direito da UERJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal