Batalha política fica mais acirrada na China: varrendo a oposição

04/02/2014 11:25 Atualizado: 05/02/2014 09:20

Na China, as campanhas anticorrupção são amplamente vistas como pretextos perfeitos para os líderes do Partido Comunista eliminarem seus adversários políticos.

A nova liderança comunista chinesa prometeu que atacaria “tigres e moscas” – ou seja, funcionários de alto e baixo escalões – em sua estrondosa repressão à corrupção no ano passado.

Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança interna e ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, teria sido capturado numa armadilha de tigre do Partido Comunista. Não está claro se ele irá a julgamento, mas ele teria sido detido e interrogado.

Mais recentemente, o Diário da Manhã do Sul da China informou que, segundo suas fontes, as autoridades podem estar prestes a finalizar um processo contra Zhou, que resultaria em acusações formais e possivelmente públicas.

Agora, Jin Zhong, editor do Open Magazine, uma revista política conhecida e publicada em Hong Kong, disse que está certo sobre quem é o próximo alvo de investigação das autoridades disciplinares do Partido Comunista Chinês (PCC).

Jin Zhong disse que é ninguém menos que Zeng Qinghong.

Mas quem é Zeng Qinghong?

Zeng Qinghong é um organizador secreto e poderoso nos bastidores no sistema político comunista chinês. Ele era um dos membros-chave da chamada “Facção de Shanghai”, junto com Jiang Zemin, o líder do regime chinês entre 1989-2004. Zeng, sob a tutela de um poderoso general, também ocupou postos-chave em órgãos do PCC na indústria do petróleo e é conhecido como “espião-mestre” por suas atividades de inteligência e espionagem dentro e fora da China.

Ele é amplamente considerado o braço-direito de Jiang Zemin durante grande parte do mandado de Jiang e tem sido descrito como “executor” de Jiang e “homem do machado”. Por vários anos, ele esteve no comando do Departamento de Organização do Partido Comunista, o que o fez responsável pelas decisões-chave de pessoal. Ele ajudou Jiang a nomear comparsas para o topo do aparato do Partido e do Estado, segundo analistas. Dentre os promovidos estaria Zhou Yongkang, que ele ajudou pessoalmente a avançar nas fileiras do poder.

Mas Jiang Zemin, Zhou Yongkang e Zeng Qinghong também fazem parte de uma facção que procurou estender sua influência para além do seu reinado. Nos relatos mais contundentes, o político desgraçado Bo Xilai e Zhou Yongkang teriam tentado um golpe contra a liderança.

Bo Xilai e Zhou Yongkang eram conhecidos comparsas. Bo estava planejado para suceder Zhou em seus papéis no Politburo e no comando a segurança interna chinesa e assim garantir a manutenção da influência dos seniores Zeng Qinghong e Jiang Zemin no sistema político.

Mas Bo Xilai cumpre agora prisão perpétua por corrupção. Sua esposa foi condenada por assassinato. Zhou Yongkang está declaradamente sob prisão domiciliar. E agora Zeng Qinghong seria o próximo da lista.

Limpeza política

Em entrevista à NTDTV, Jin Zhong explicou por que ele acredita que Zeng é o próximo na lista para investigação.

“Algumas mídias disseram que a nova grande investigação será contra o ex-primeiro-ministro Wen Jiabao… Mas a partir de uma série de fatos recentes, consideramos definitivamente que não será Wen Jiabao”, disse Jin.

Jin Zhong atribuiu suas fontes a “pessoas bem informadas em Hong Kong” e “indivíduos em Taiwan que têm conexões”. Ele acrescentou que as fontes “não foram extremamente detalhadas”, mas que descartaram Wen Jiabao. “Nós perguntamos quem seria, e eles disseram: ‘É Zeng Qinghong.’”

Jin acredita que suas fontes sejam confiáveis por seu histórico de conhecer os desenvolvimentos internos do cenário da luta entre facções do Partido Comunista. A questão de qual facção controla o poder no PCC em grande medida determina os tipos de políticas que o regime decreta. Isso pode tocar uma série de questões, desde a segurança interna, controle e uso das forças armadas, bem como o papel do Estado na economia.

O novo grupo da liderança sob Xi Jinping, o chefe do Partido Comunista desde novembro de 2012, é amplamente visto como estando a caminho de consolidar o poder de modo que possa impor novas políticas. Parte do processo de consolidação do poder na China comunista inclui a eliminação dos remanescentes da velha guarda, neste caso, Jiang Zemin, Zeng Qinghong e seus associados.

Ausência de Zeng Qinghong

Uma das observações mais conhecidas sobre a política comunista chinesa foi feita por Simon Leys, um sinólogo belga, que escreveu que o intérprete das lutas de poder na China deve “observar cuidadosamente a celebração de aniversários, a não-celebração de aniversários e a celebração de não-aniversários; deve verificar as listas de convidados em funções e eventos oficiais e observar a ordem em que os nomes aparecem nas listas oficiais”.

Jin Zhong, na entrevista com a NTDTV, ecoou essa percepção: “Se eles estão aparecendo, então por enquanto eles não terão problemas.” Mas Zeng Qinghong, ao que parece, não tem aparecido. Houve duas ocasiões recentes em que sua ausência foi notável e suspeita.

A primeira foi em outubro do ano passado, quando o Partido Comunista realizou um grande evento oficial para marcar o 100º aniversário do nascimento de Xi Zhongxun, o pai do líder supremo atual Xi Jinping.

Todas as grandes famílias da elite comunista chinesa enviaram um representante ao evento para prestar suas homenagens. Apenas dois estavam faltando: ninguém da família de Bo Xilai apareceu, nem qualquer representante do clã de Zeng Qinghong. Em vez disso, Wen Jiabao, um inimigo destes homens, foi apresentado com destaque no evento oficial.

Mais recentemente, em 10 de janeiro, em Hong Kong, foi realizado um funeral para Run Run Shaw, um magnata da indústria cinematográfica bem-conhecido na China. Muitos líderes do PCC, incluindo Xi Jinping, foram relatados na imprensa chinesa enviando notas de condolências. Entre estes estavam ex-funcionários envolvidos nas relações com Hong Kong. Mas Zeng Qinghong, um oficial fundador do ‘Grupo Central de Liderança nos Trabalhos sobre Hong Kong e Macau’, o órgão interno máximo do PCC nas relações entre os dois territórios, não deu sinal de vida.

Nada disso, é claro, é um bom presságio para as perspectivas de Zeng.