A visita recente do líder chinês Xi Jinping à Índia não sucedeu como a Índia esperava. Em vez disso, ela resultou num investimento muito menor do que foi projetado e maior confronto na fronteira Índia-China. Durante a visita de Xi, os dois países assinaram 12 acordos bilaterais, que incluem a criação de dois parques industriais e uma promessa de investimento de US$ 20 bilhões da China ao longo de 5 anos.
Uma semana antes de Xi chegar à Índia, o cônsul-geral chinês em Mumbai estimou conservadoramente que a China investiria US$ 100 bilhões na Índia, cinco vezes mais do que a China realmente prometeu. “Possivelmente, a liderança chinesa esquivou-se dessa”, disse Srikanth Kondapalli, professor de Estudos Chineses do Centro de Estudos do Sudeste Asiático na Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Déli.
De acordo com Kondapalli, a China é conhecida por extrair concessões políticas em troca de seus investimentos no estrangeiro, e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi pode ter se recusado a dar o tipo de garantias que Xi teria exigido para mais investimentos.
Kondapalli disse que outra razão seriam as aspirações diferentes que os dois têm sobre o investimento da China. Sabe-se que Modi quer gerar emprego para os nacionais indianos. As empresas chinesas geralmente querem trazer mão de obra chinesa onde quer que invistam, de modo que isso possa ter sido um obstáculo para fechar mais acordos.
Questões de fronteira complexas
Enquanto Xi estava em Nova Déli, a cerca de 1300 quilômetros de distância, na fronteira noroeste da Índia, mil soldados chineses estavam num impasse com 1.500 soldados indianos. A situação aliviou um pouco após Modi abordar a questão com Xi no segundo dia da visita, e Xi pediu que os soldados se retirassem.
No entanto, algumas horas depois que o corpo principal se retirou, 35 soldados chineses novamente invadiram a Linha de Controle, a fronteira de facto, e foram reforçados posteriormente com mais 50 num local próximo. O impasse continuou, e os soldados indianos, que se retiravam, rearmaram suas tendas e ficaram em alerta.
De acordo com Kondapalli, o momento do confronto pode estar relacionado com a luta anticorrupção, ou expurgo político, que Xi Jinping iniciou na China, que tem como alvo alguns dos principais quadros do Partido Comunista, em especial a facção linha-dura liderada pelo ex-líder chinês Jiang Zemin. “As tropas pareciam estar perturbadas com a campanha que Xi Jinping está realizando no ELP [Exército da Libertação Popular]. Alguns sugerem que eles estavam mostrando sua ira contra Xi Jingping”, disse ele.
Na segunda-feira, a mídia chinesa reportou sobre Xi numa reunião com os chefes de gabinete do ELP: “Todas as forças do ELP devem seguir as instruções do presidente Xi.” E citou Xi, que também é o presidente do Comitê Militar Central (CMC), dizendo que todas as decisões da liderança central precisam ser implementadas para “garantir uma linha de comando fluida”, o que poderia indicar as lealdades conflitantes no ELP.
A imprensa chinesa também citou Xi dizendo: “Os quartéis-generais de todas as forças do EPL devem melhorar sua prontidão de combate e aguçar sua capacidade de vencer uma guerra regional na era da tecnologia da informação.” Esta diretiva de Xi, após sua visita à Índia, tem levado muitos a especular sobre as verdadeiras intenções da China a respeito de suas fronteiras.
De acordo com William Nunes, professor-assistente de Ciência Política na Universidade Nacional de Direito de Gujarat, o confronto pode ser a resposta da China a discursos provocativos anti-China feitos por Modi em sua campanha eleitoral e sua política externa mais firme recentemente.
Antes de se tornar primeiro-ministro da Índia, Modi disse que a China “deve mudar sua política expansionista”, durante um discurso de campanha no estado de Arunachal Pradesh. A China reivindica Arunachal Pradesh como parte do Tibete e se recusa a reconhecê-lo como território indiano.
“A China continuará a aumentar sua influência na região para reduzir o status de potência sub-regional da Índia”, previu Nunes. “A relação político-estratégica continuará a ser marcada pela suspeita e desconfiança.” Ele acrescentou que o comércio entre as duas nações provavelmente continuará normal, assim como a China tem feito com outros vizinhos com os quais ela também tem conflitos territoriais.