Na contabilidade de final do ano é preocupante quando os números que deveriam ser grandes são pequenos e quando os números que deveriam ser pequenos são grandes. A situação da contabilidade econômica da China continental em 2013 é simples: muito pouco dinheiro e muita dívida.
Pouco antes do Ano Novo, os mercados precisavam compensar seu déficit, mas muitos bancos locais tinham pouco para emprestar. Para resolver este problema emergencial, o Banco Popular da China forneceu 300 bilhões de yuanes (US$ 50 bilhões) ao mercado de operações de liquidez de curto prazo num período de três dias na semana passada, mas ainda assim não conseguiu aliviar a pressão.
Com a taxa de juros para empréstimo interbancário a 8% e subindo, as autoridades proibiram reportagens sobre a situação, a fim de aliviar a enorme pressão de liquidez.
Mas quão estrangulados estavam os fundos de fim de ano? Na semana passada, a ‘Taxa de Juros Interbancária de Shanghai’ (SHIBOR) subiu demasiadamente, atingindo 8,843%, 8,246% e 7,6% para termos de 7 dias, 14 dias e um mês, respectivamente. Entretanto, a taxa de juros média ponderada para títulos de 7 dias chegou a 10%, estabelecendo um novo recorde desde o final de junho.
Os bancos que são menos propensos a ter falta de dinheiro agora têm pouco dinheiro. Não há preocupação para os grandes bancos estatais, mas os bancos comerciais de capital social, que precisam de dinheiro desesperadamente, e os pequenos e médios bancos comerciais urbanos, que não podem participar no mercado de empréstimo interbancário, enfrentarão crises de crédito.
Para lidar com a crise, os bancos locais emprestaram dinheiro para pagar dívidas, como a emissão de produtos financeiros com taxas muito mais altas do que a taxa de depósito do mesmo prazo, até um máximo de 10%. A taxa de financiamento privado em curto prazo começa a partir de 10%, sem margem de negociação.
O melhor negócio veio de Taiwan. No início de dezembro, antes da eclosão da crise de escassez de dinheiro na China, o Banco da China, o Banco de Construção da China, o Banco de Comunicação e o Banco Agrícola da China pegaram emprestado TW$ 3,35 trilhões (US$ 1,12 trilhão) de Taiwan, com uma taxa de juros anual média de 3,5%, o que foi incrivelmente barato.
Dívidas locais
Especialistas acreditam que as dívidas locais são um dos principais culpados da falta de dinheiro na China. As empresas estatais locais, com sua capacidade privilegiada de emprestar dos bancos, ajudaram a criar esta situação.
Após uma nova rodada de líderes assumir o poder no regime comunista chinês, as plataformas de administração da terra e de financiamento dos governos locais foram retomadas pelo governo central. Como resultado, muitos financiamentos de projetos de infraestrutura foram severamente estrangulados.
A pobreza dá origem ao desejo de mudança. As empresas estatais locais pobres se transformaram em bancos clandestinos. Mesmo os empréstimos são operados num modelo direto de mercado, embora cobrem taxas muito maiores do que os bancos.
Por exemplo, elas emprestam dos bancos a preços baixos que variam entre 7-9%, e depois repassam ao mercado de empréstimos a taxas que variam de 18-24%. Esses empréstimos têm crescido muito rapidamente e o sistema bancário colateral criado por estes empréstimos totaliza cerca de US$ 3,7 trilhões.
Portanto, a falta de dinheiro estaria destinada a se refletir nos bancos. Esta foi também a principal razão por que o Banco Popular da China não queria injetar dinheiro para aliviar a crise de liquidez.
Na verdade, o principal problema é que os recursos financeiros do Banco Popular estão desconectados da economia real. O que é mais assustador é o destino final do dinheiro, que corre para o mercado imobiliário, onde as autoridades menos querem que ele vá.
A especulação imobiliária não só é inútil para a economia, mas também faz os preços da habitação dispararem e empreendimentos imobiliários improdutivos em massa serem construídos, dando origem a fenômenos como cidades-fantasma e edifícios governamentais colossais desnecessários. Pior ainda, aumenta diversos riscos de uma bolha financeira, que também é um grande obstáculo à reestruturação industrial e às reformas do sistema financeiro da China.
O buraco negro da dívida do governo local tem deixado infelizes os grupos de reflexão oficiais. Mas independentemente do tamanho da dívida dos governos locais, as autoridades locais parecem não se preocupar com nada, porque acham que o dinheiro não é deles.
Algumas pessoas dizem que os bancos da China são todos controlados pelo governo e é impossível que entrem em colapso. Na verdade, a Conferência de Trabalho do Comitê Central e do órgão regulador bancário sinalizaram em 2013 o estabelecimento de um sistema de depósito seguro para evitar o pior cenário: as pessoas serem incapazes de sacar dinheiro dos bancos, produtos de investimento ficarem inadimplentes e, eventualmente, o desenvolvimento de um pânico bancário geral.
Independentemente de o dinheiro pertencer ao Estado ou aos bancos, no final, é o dinheiro dos cidadãos. As palavras de alerta na internet chinesa para descrever a contabilidade do final do ano foram: “Se você decidir jogar, eventualmente você terá de pagar.”
Não importa que tipo de dívida você tenha, você precisa pagar. Se você adiá-la por muito tempo, você não será capaz de pagar o empréstimo, os juros e as multas. Como resultado, um grande fardo será imposto às gerações futuras. Como podem aqueles no poder não pensar sobre isso com cuidado?