As economias de mercado avançadas e emergentes do mundo continuam presas num círculo vicioso, que começou com o colapso financeiro em 2008. As informações fornecidas recentemente no 82º Relatório Anual do Banco de Compensações Internacionais (BIS) não são somente muito preocupantes, mas completamente assustadoras.
“Aqueles que esperam por soluções rápidas para as tensões na economia global continuarão a se decepcionar. […] Cinco anos após a eclosão da crise financeira e a economia global ainda está desequilibrada, aparentemente cada vez mais desta forma, enquanto fraquezas continuam interagindo e amplificando-se mutuamente”, disse o anúncio do relatório do BIS.
Como o banqueiro dos bancos centrais do mundo, o objetivo do BIS é prevenir que as economias enfrentem um desastre financeiro. Para auxiliar os bancos centrais do mundo, o BIS usou uma marreta no seu relatório, num esforço de evitar outra crise financeira.
O círculo vicioso não pode culpar um grupo específico, mas três: os governos, o setor financeiro e os consumidores.
A estabilidade financeira do governo está em risco devido a orçamentos desequilibrados, dívida insustentável e a perda de avaliações de crédito estelares. A dependência do setor financeiro de ajuda governamental, a incapacidade de aceitar perdas por assumirem riscos excessivos, a falta de vontade de incorporar práticas de empréstimos razoáveis e a incapacidade de abandonar altas expectativas de lucro tornaram-se grandes obstáculos em direção a uma recuperação. Por último, os consumidores e as empresas precisam reduzir o tamanho de sua dívida e voltar a hábitos de consumo razoáveis.
“A economia global ainda tem de superar o legado da crise financeira para alcançar crescimento equilibrado e autossustentável. De maneiras diferentes, círculos viciosos estão dificultando a transição tanto para economias de mercado avançadas quanto emergentes”, disse o BIS no seu relatório.
Progresso estagnado, recuperação travada
“Os primeiros meses de 2011 pareciam oferecer o início de uma recuperação autossustentável, uma promessa que acabou sendo um falso amanhecer. O padrão parece estar se repetindo em 2012”, de acordo com o relatório.
O BIS é da opinião que, embora os países desenvolvidos tenham feito algum progresso na resolução de problemas fiscais globais (especialmente monetários) no ano passado e no início deste ano, eles atingiram de frente os mesmos obstáculos nos dois anos e, em seguida, a espiral descendente começou novamente. “No geral, o momento econômico nas economias avançadas estava fraco demais para gerar uma robusta recuperação autossustentável”, segundo o relatório.
O BIS concluiu que, em certas nações desenvolvidas, que não foram nomeadas, fraquezas persistiram e interromperam uma recuperação sustentável. “O arrasto do consumo privado persistiu. O desemprego manteve-se elevado ou até mesmo aumentou ainda mais. Os preços dos imóveis caíram e níveis elevados de endividamento continuam a pesar sobre os balanços domésticos”, disse o relatório. Todas essas preocupações são consideradas impedimentos importantes em direção a uma recuperação.
Em 2011, o crescimento econômico global foi de 3,9%, um declínio acentuado quando comparado com o de 5,3% de 2010. Os Estados Unidos, Reino Unido e Japão são considerados os principais fatores na desaceleração do crescimento econômico global. “A recuperação global começou a vacilar no segundo trimestre do ano [2011]. Naquele tempo, os indicadores de atividade enfraqueceram significativamente nos Estados Unidos, seguidos pelas EMEs [Economias de Mercado Emergentes]; e, no segundo semestre de 2011, eles se deterioraram relativamente de forma considerável na Europa”, disse o relatório do BIS.
Os preços das mercadorias, já elevados, não desceram a níveis aceitáveis desde 2011, dado o aumento do consumo nos mercados emergentes, a reduzida produção agrícola devido ao mau tempo e os preços elevados do petróleo devido à agitação política em certas regiões, amortecendo a recuperação de economias de mercado desenvolvidas.
Com elevada taxa de desemprego nos Estados Unidos e noutros mercados desenvolvidos, o rendimento disponível caiu significativamente e o poder de compra necessário para uma melhoria sustentável da economia não se materializou.
Em resposta a fatores externos, os bancos centrais em vários mercados desenvolvidos aumentaram a oferta de moeda através de um método chamado afrouxamento quantitativo, que envolve a redução da taxa de juros para ou perto de zero e da compra de títulos do governo ou de ações corporativas de instituições financeiras.
O BIS sugere que os métodos acima referidos, utilizados em períodos de crescimento lento e desemprego elevado, podem ser uma reação de retrocesso. “No entanto, há um risco crescente de sobrecarregar a política monetária. Por si só, a política monetária não pode resolver a solvência subjacente ou os problemas estruturais mais profundos. Ela pode ganhar tempo”, disse o relatório do BIS.
Governos perdem avaliações de crédito estelares
“A crise levou a uma deterioração ainda mais significativa na sustentabilidade fiscal ao aumentar os déficits fiscais e as dívidas. Como resultado, os mercados financeiros e as agências de avaliação de crédito tiveram uma visão mais crítica do risco do crédito soberano. A dívida pública e déficits que foram tolerados antes da crise não foram mais considerados sustentáveis”, segundo o relatório do BIS.
Classificações do crédito soberano foram rebaixadas pelas principais agências de crédito ao longo do ano passado. Em agosto de 2011, Standard & Poors (S&P) rebaixou os Estados Unidos de AAA (excepcional) para AA+ (excelente). Em maio, a Fitch Ratings cortou a avaliação em moeda estrangeira em longo prazo do Japão de AA para A+ com perspectiva negativa.
Um rebaixamento do crédito soberano torna mais caro para os governos emprestarem nos mercados financeiros. Qualquer rebaixamento sugere que o risco de uma instituição financeira emprestar fundos para o governo aumentou. Além disso, o risco de um investidor perder na hora de investir em títulos do governo é maior. “Um enfraquecimento do crédito soberano afeta negativamente a estabilidade financeira, a conduta e a credibilidade da política fiscal e monetária, o funcionamento dos mercados financeiros e os custos de financiamento do setor privado”, aconselhou o relatório do BIS.
É repetido ao longo do relatório do BIS que os governos devem reduzir a dívida para níveis sustentáveis antes que a economia possa retornar à boa saúde. Não é uma questão se os governos devem morder a maçã ácida e tomar uma ação decisiva, mas a questão permanece sobre como abordar o dilema e chegar a soluções que sejam viáveis.
O BIS não sugere que o tempo está se esgotando para o retorno a uma economia saudável, mas quanto mais o déficit orçamentário persistir, mais tempo levará para a recuperação econômica. “Na maioria das economias avançadas, o orçamento fiscal, excluindo os pagamentos de juros, precisariam de 20 anos consecutivos de superávits superiores a 2% do PIB, desde agora, apenas para trazer a relação dívida-PIB de volta a seu nível pré-crise”, segundo o BIS.
Ajuste de contas a caminho
“Por que não apenas se livrar dos bancos centrais e colocar a política monetária nas mãos do mercado? Movendo-se para um sistema construído com dinheiro sadio seria garantir que o crédito só seria criado quando fosse realmente necessário para fins produtivos”, sugere um artigo no website Daily Reckoning.
O artigo não aborda o relatório do BIS, chegando a sua sugestão de uma perspectiva que é realmente irrelevante para a discussão. Artigo após artigo, ele aborda a questão de se livrar dos bancos centrais com base em diversas perspectivas e abordagens, com cada uma delas acrescentando outro ponto à discussão.
Um artigo no website TED afirma, “O Prêmio Nobel de Economia, Milton Friedman, disse o seguinte sobre o banco central, ‘Um problema do dia sem solução econômica é como se livrar do Federal Reserve.’ O Federal Reserve Bank é o banco central dos EUA. Ele é um banco privado.”
O artigo argumenta que os bancos centrais, como eles estão autorizados a imprimir dinheiro, não tem de ser transparentes e não estão sob o controle do governo.
Para reforçar seu ponto, o autor sugere, “Assim, temos dois sistemas independentes; o sistema político, eleito pelo povo, e o sistema econômico, liderado pelo banco central, que é privado, em que as pessoas não têm nenhum controle.”