Enquanto o Ocidente se preocupa com alguns dias de queda nos mercados de ações, a China se aproxima rapidamente de uma grande crise em seu sistema bancário. De acordo com fontes do setor, o Banco Popular da China (BPC) teve de socorrer um banco anônimo urgentemente em 20 de junho.
Hong Hao, estrategista-chefe do Banco de Comunicações da China, citou fontes não identificadas que afirmam que o BPC forneceu 50 bilhões de yuanes (US$ 8,6 bilhões) para um banco anônimo em 20 de junho por meio de uma “operação específica de liquidez”, ou seja, um resgate.
De acordo com a mídia Bloomberg, o BPC posteriormente negou, mas as fontes de Hong Hao provavelmente estão corretas, pois o mercado de empréstimos interbancários na China praticamente estagnou. Os bancos, que financiam a maior parte de sua dívida de curto prazo, não emprestam mais entre si por causa de desconfiança mútua.
A situação é semelhante ao que aconteceu nos Estados Unidos antes e depois da crise do Lehman. Os bancos sabem sobre os maus empréstimos que têm em seus livros e estão cientes de que outros bancos estão em situação semelhante ou pior.
Uma vez que um empréstimo urgente não possa ser estendido ou “empurrado adiante”, o banco está tecnicamente inadimplente, que é o que provavelmente acorreu com o banco não identificado, resultando no resgate do BPC.
Além disso, apenas duas semanas atrás o China Everbright Bank Co. não pôde pagar 6 bilhões de yuanes (US$ 1 bilhão) ao Banco Industrial Co., segundo o Market News. Alguns rumores chegaram a colocar a cifra próxima de 100 bilhões de yuanes (US$ 17,2 bilhões), um valor que o Banco Industrial classificou como “falso e exagerado”.
“Alguns bancos menores podem ser incapazes de cobrir aberturas de crédito, enquanto os grandes bancos estão dispostos a emprestar”, disse Chen Jianheng, um analista de títulos de Pequim do CICC, o maior banco de investimentos do país, informou a Bloomberg em 7 de junho. “Se o banco central não injetar mais capital no sistema financeiro, a falta de dinheiro provavelmente durará pelo resto de junho.”
Sua previsão se mostrou correta, o BPC não está aumentando liquidez indiscriminadamente. Agora, o mercado de financiamento interbancário, que depende quase inteiramente do banco central, está em completa desordem.
Subitamente, a Shibor (Shanghai Interbank Offered Rate), a taxa cobrada para empréstimos interbancários, disparou para 13,4% anual em 20 de junho, quase 6% de variação do dia anterior. Outro indicador é que os negócios de recompra na véspera subiram para 25%. A taxa composta de Shanghai perdeu 2,8% em 20 de junho e agora está em queda de 8% pelo ano.
Anteriormente, o BPC sempre injetou volumes maciços de liquidez quando necessário, mas parece que ele alterou sua postura.
Ting Lu, do Bank of America, escreveu numa nota para seus clientes: “Há muitos fatores por trás do aperto da liquidez interbancária que poderiam ser citados, mas acreditamos que a razão principal é a postura rígida do banco central, pois o BPC pode dar liquidez praticamente ilimitada para aliviar cada aperto se quiser.”
A motivação pode ser a tentativa de conter uma onda de empréstimos improdutivos, que tem caracterizado o país, pelo menos desde 2008. Os bancos podiam emprestar barato de depósitos ou no mercado interbancário e emprestar dinheiro para investimentos em infraestrutura na maior parte improdutivos. Esse negócio foi apoiado pelo governo e pelo BPC, mas recentemente parece que a política mudou.
O chefe do BPC disse num jornal estatal: “Não podemos usar o rápido crescimento da oferta de dinheiro como no passado, ou mesmo acelerá-lo, para promover o crescimento econômico e devemos controlar o ritmo de crescimento da oferta monetária.”
O legendário investidor Stanley Druckenmiller comentou sobre esse problema numa entrevista recente com a Goldman Sachs. “Em essência, o frenético estímulo dado pela China no final de 2008 lançou as sementes de um crescimento mais lento no futuro pela evicção de investimentos mais produtivos. E agora o sistema está criando condição suficiente e má alocação de recursos para favorecer o risco de uma crise financeira, mas o tempo disso ainda não está preciso em minha mente. O que vimos na China desde 2009 é semelhante ao que acorreu nos EUA em 2005, em termos do crescimento do crédito ultrapassar o crescimento econômico.”
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