Banco Mundial defende “uma parceria internacional para os oceanos”

31/03/2012 03:00 Atualizado: 05/09/2013 23:46

No mundo, um bilhão de pessoas depende do mar para se alimentar e trabalhar (Torsten Blackwood/AFP)
No mundo, um bilhão de pessoas depende do mar para se alimentar e trabalhar (Torsten Blackwood/AFP)

O Banco Mundial, reunido em Singapura em 24 de fevereiro de 2012, defendeu a criação de uma “parceria internacional para os oceanos” que reuniria os Estados, as organizações internacionais, os grupos da sociedade civil e os agentes privados dispostos a intervir e a resolver o saneamento dos oceanos. Ele deseja arrecadar 1,5 bilhão de dólares em cinco anos. Esse projeto teria como objetivo reunir parceiros dispostos a combater a degradação do leito marinho, a sobre-exploração de recursos haliêuticos, e a trabalhar concretamente por mudanças.

Uma ação mundial para trazer saúde de volta a nossos oceanos

Assim, em seu discurso, Robert Zoellick, diretor do Banco Mundial, destaca a importância dos oceanos para os países em desenvolvimento, “Os oceanos do planeta estão em perigo. É um desafio enorme que não poderia ser assumido por um único país ou organização. Nós precisamos de uma ação mundial coordenada para trazer a saúde de volta a nossos oceanos. Juntos, nos apoiaremos sobre excelentes trabalhos já realizados para responder às ameaças que pesam sobre nossos oceanos, identificar soluções viáveis e fazer isso com maior velocidade.”

85% das zonas de pesca sobre-exploradas

Atualmente, contabilizamos cerca de 85% das zonas de pescas exploradas, ou sobre-exploradas. Algumas dessas zonas são esvaziadas de suas próprias reservas de peixes, pois, nos países em desenvolvimento, cerca de um bilhão de pessoas depende exclusivamente de produtos do mar para sua ingestão de proteínas e mais da metade dessas populações dependem desses recursos para viver, afirma Robert Zoellick. As organizações, os Estados e os grupos que apoiam a parceria mundial dos oceanos, incluindo o Banco Mundial, já estão engajados em ações.

Atualmente, as ações visam proteger as populações marinhas, que fornecem 15% da proteína animal consumida no mundo, produzem milhões de empregos e asseguram a regulação do clima e do estoque de carbono. No entanto, esta etapa da parceria consistirá, antes de tudo, em inverter a degradação e o esgotamento dos oceanos. Como bem diz Robert Zoellick, “os oceanos são uma força vital do planeta e da economia mundial”.

Definir os modelos da parceria

Os modelos da parceria não estão definidos, mas algumas pistas se destacam: um país poderia concentrar seu objetivo no melhoramento dos sistemas de governo ligados a pesca e no aumento do número de zonas marinhas protegidas. Eles poderiam também intensificar seus esforços para combates as fontes de poluição e de degradação dos oceanos. Além disso, será desejada a melhora da gestão costeira para nos preservarmos das ameaças meteorológicas e climáticas. Assim, na conferência Rio+20 que será realizada em junho de 2012, a saúde dos oceanos será uma das questões centrais. É por isso que a parceria mundial está empenhada em fornecer apoio aos países dispostos a cumprir seu compromisso relativo ao melhoramento da gestão dos oceanos.

Os oceanos ocupam mais de dois terços da superfície terrestre e representam um banco vital de recursos naturais. Se as graves ameaças com as quais eles são confrontados, como a pesca excessiva e a poluição, não são abordadas, a estabilidade do conjunto de ecossistemas do planeta é que estaria em perigo. Este quadro mostra por que é crucial proteger os oceanos.

Preparar a conferência Rio+20

Francisco Gaetani, ministro-adjunto do Meio Ambiente no Brasil disse, “O Brasil está comprometido a atender resultados específicos em matéria de proteção e desenvolvimento sustentável dos oceanos. A conferência Rio+20 vai permitir a todos os países a renovação dos compromissos assumidos em 1992 e considerar novos rumos e esperanças para o futuro dos oceanos.”

A população mundial até 2050 deverá passar de 9 bilhões de habitantes, enquanto que atualmente 850 milhões de pessoas estão subnutridas no mundo. Assim, diversas ONGs que trabalham sobre o futuro do oceano exprimiram seu apoio à nova aliança, em preparação para o Rio+20. Assim, Peter Seligmann, diretor da Conservação Internacional explica, “Como a população mundial cresce e deve chegar aos 9 bilhões de pessoas em 2050, a demanda alimentícia e de outras necessidades vão dobrar.” E acrescenta que, “é do interesse de cada país, de todas as nações e de todas as comunidades trabalhar para o bem-estar dos oceanos. A humanidade precisa dos oceanos e nós devemos garantir sua prosperidade e futuro. Para chegar a isso, a colaboração mundial é essencial.”

Mesmo as empresas privadas, como a Darden Restaurants, uma das maiores compradoras mundiais de peixes e frutos do mar, apresentou seu apoio à iniciativa. É preciso nos esforçarmos em reduzir os riscos, restabelecer a saúde dos oceanos e garantir a durabilidade da pesca às gerações futuras. Roger Bing, vice-presidente e responsável pela compra de peixes e frutos do mar do Darden Restaurants, disse, “A saúde dos oceanos do planeta é de suma importância. Como tantos outros, nós dependemos de recursos naturais fornecidos pelos oceanos, e investir na saúde deles garante a viabilidade e sustentabilidade desses recursos.”

O clima, os oceanos e a perda da biodiversidade

Um elemento fundamental é compreender o valor da riqueza dos oceanos e seus serviços ecológicos prestados aos seres humanos. Os oceanos são a principal fonte de oxigênio do mundo, eles ajudam a regular o clima, enquanto que os mangues, os recifes e as zonas úmidas são essenciais para proteger as zonas costeiras, cada vez mais povoadas, dos perigos como tempestades e tsunamis. Éric Karsenti, diretor científico da TARA, disse, ao abordar a produção de oxigênio dos oceanos, “Em nossa pesquisa, é importante medir a ameaça que constituem as mudanças climáticas aos ecossistemas planctônicos e aos bilhões de microrganismos marinhos essenciais à vida, que produzem 50% do oxigênio.”

Andrew Hudson, coordenador dos oceanos da ONU, manifestou sua preocupação relativa à acidificação dos oceanos numa conferência de imprensa sobre a expedição TARA, devido à absorção crescente de CO2 pelo mar. Ele explicou o impacto da poluição sobre a acidificação e a formação de 500 zonas marinhas hipóxias (com diminuição da quantidade de oxigênio), em que a deficiência de oxigênio ameaça os ecossistemas planctônicos essenciais à vida. O Rio+20 é necessário, todos os ativistas estão à espera de situações concretas sobre o futuro dos oceanos.

A Associação Escocesa do Instituto Marinho do Reino Unido

Um novo estudo científico internacional, dirigido pela Associação Escocesa do Instituto Marinho do Reino Unido, sugere que a elevação das temperaturas afetarão os habitats dos animais e plantas. Algumas espécies marinhas não terão outra solução a não ser procurar por local mais propício. Os resultados dos trabalhos, publicados na revista “Science” no fim de dezembro de 2011, mostram a dificuldade que as espécies marinhas terão para se adaptar às mudanças climáticas.

De fato, “quando a temperatura aumenta, os vegetais e os animais que precisam de um ambiente mais fresco migram para outras regiões”, explica o Dr. Mike Burrows, da Associação Escocesa. “A terra se aquece cerca de três vezes mais rápido que os oceanos, portanto, seria de se esperar que as espécies migrem três vezes mais rápido sobre a terra, mas esse não é o caso. Se faz calor demais sobre a terra para alguma espécies, elas podem ir para locais mais elevados, onde geralmente é mais frio. Isso é impossível para as inúmeras espécies marinhas que vivem obrigatoriamente na superfície do mar ou próximas a ele. Se a temperatura aumenta, espécies como os peixes poderão ir mais profundo buscar um ambiente que lhes convêm, mas outras, como os vegetais marinhos ou os corais, deverão ir muito mais longe para encontrarem um habitat adequado, e podem ser extintos se não existir locais mais frescos para eles.”

O Dr. John Bruno, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, um dos participantes do estudo, concorda que as espécies marinhas terão mais dificuldades em seguir a evolução climática, “O fato de se encontrarem aprisionadas num ambiente que aquece pode frustrar o crescimento, a reprodução e a sobrevivência de espécies marinhas importantes do ponto de vista econômico e ecológico, tais como os peixes, os corais e as aves marinhas.”

O Dr. Burrows acrescenta, “As zonas onde as espécies terão de se deslocar mais rapidamente são importantes zonas de biodiversidade, como o Triângulo de Coral do sudoeste da Ásia.” “Nosso estudo poderia ajudar os ecologistas a preparar os habitats de corais numa mudança e a preservá-los.”