Alguns parecem surpresos que o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, soubesse da manipulação da LIBOR (Taxa de Juros Interbancária de Londres) antes do escândalo financeiro que se seguiu. Ao que eu responderia que é claro que eles sabiam. Todos sabiam sobre isso.
Ou talvez eu devesse salientar que todos sabiam sobre um conjunto daquela manipulação, pois havia (supostamente) duas. A primeira era quando agentes em mesas de negociação tentariam obter de funcionários responsáveis pela determinação da taxa Libor alterações que beneficiassem suas posições. Isso é ilegal, as pessoas estão sendo e devem ser punidas com razão por ter feito isso. A segunda era um pouco diferente:
O Federal Reserve sabia sobre a manipulação da Libor três anos antes do escândalo financeiro explodir, mas não tomou qualquer medida, segundo revelaram documentos de inquérito. De acordo com as transcrições recém-publicadas de reuniões do banco central antes e depois do colapso do Lehman Brothers, um alto funcionário do Fed sinalizou primeiramente a questão numa reunião política em abril de 2008. William Dudley expressou temores de que os bancos estavam sendo desonestos na forma como calculavam a taxa interbancária de Londres – uma taxa de juro de referência mundial utilizada como base para trilhões em empréstimos e contratos financeiros. “Há evidências consideráveis de que a fixação oficial da Libor subestima as taxas pagas por muitos bancos para o financiamento”, disse ele.
É aqui que os próprios bancos não estavam relatando as taxas corretas. Cada banco informa a que taxa pode fazer empréstimo (observe que seria o custo de tomar emprestado, e não a taxa que o banco concederia empréstimo) numa moeda por um período. As taxas superior e inferior são removidas e então a média é a taxa Libor para essa moeda num certo prazo. E o que estava ocorrendo nos bastidores daqueles dias sombrios em 2008?
Bem, se olharmos para o banco britânico Northern Rock (NR), a taxa na qual eles poderiam emprestar era infinita: ninguém emprestaria para eles. Felizmente, o NR não era um banco de referência para a Libor, mas o HBOS poderia ser, o Lloyds definitivamente era quando teve problemas e assim também o RBS. E o primeiro sinal de problema a caminho é que as pessoas se recusam a emprestar, em curto prazo e sem garantia, para bancos em dificuldades. Então, há duas coisas ocorrendo aqui. Se um banco relata a taxa verdadeira e problemática na qual ele pode tomar emprestado, então ele admite que está enrascado. Isso em si mesmo causa mais problemas, é claro.
A segunda coisa é que, naqueles dias sombrios, o mercado interbancário essencialmente congelou. Ninguém podia emprestar em volumes significantes de forma alguma: é por isso que todos os empréstimos foram encaminhados por meio do Banco da Inglaterra (BoE).
Tudo isso significa que, se os bancos tivessem relatado a Libor corretamente, então as taxas teriam sido algo entre 20% ou mais e infinito. O que realmente não é algo que qualquer banqueiro central gostaria de reportar. E o fato de que os valores reais não estavam sendo reportados era conhecido por todos os banqueiros centrais, inclusive o Fed.
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Adam Smith