Avalanche da extração forçada de órgãos espera regime chinês

26/09/2012 10:14 Atualizado: 15/12/2014 18:11

Uma atrocidade assombra a China. Precisamente como e quando essa atrocidade será amplamente exposta e o efeito que terá sobre a política quando isso acontecer, não está claro ainda. Mas, como em outros casos na história comunista chinesa, isso provavelmente será um ponto de inflexão e certamente será a última grande atrocidade do Partido Comunista Chinês (PCC).

Claro, é o crime de colheita de órgãos. Desde 2000, o aparato de segurança do Estado e hospitais militares têm matado prisioneiros da consciência por seus órgãos, ou melhor, colhido os órgãos dessas pessoas, que morrem como resultado. Os prisioneiros são predominantemente praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual que se originou na China.

Para entender o significado desse crime, é necessário examinar o Falun Gong, o que aconteceu com ele na China e qual é sua relação na luta política que ocorre atualmente no PCC. Então, poderemos considerar os possíveis resultados das revelações da colheita de órgãos e como isso ajudará a destruir qualquer réstia final de legitimidade que o PCC possa ter.

Falun Gong

O Falun Gong é um tipo de prática de cultivo ou uma disciplina de mente-corpo que é parte da cultura tradicional chinesa. O conceito de prática de cultivo é bem resumido num website do Falun Gong como “a ideia […] de que um ser humano pode, através da prática espiritual disciplinada, transcender esta existência comum”.

É uma antiga ideia na cultura chinesa que tem sido chamado por alguns estudiosos ocidentais de “cultivo bioespiritual”. O Falun Gong é, portanto, uma combinação de exercícios físicos e disciplina moral. As virtudes morais promovidas pelo Falun Gong são a verdade, compaixão e tolerância. Há também cinco exercícios físicos meditativos.

A prática se tornou extremamente popular depois que foi apresentada ao público na China em 1992. Havia 70 milhões de pessoas praticando-o, segundo uma pesquisa da Administração Desportiva da China em 1998. Estimativas do Falun Gong colocam o número em 100 milhões.

A prática era uma refrescante mudança do cinismo e da corrupção que caracterizavam a China, onde as pessoas só procuravam riqueza e, de modo geral, tinham deixado de lado qualquer filosofia moral coerente.

Não havia taxas, liderança, hierarquia ou estrutura organizacional, apenas um conjunto de ensinamentos livres e princípios morais. Muitos praticantes o chamavam de “terra pura”.

Perseguição

De 1996 a 1999, uma luta estava em andamento no PCC entre radicais e adeptos da prática. Em julho de 1999, a guilhotina foi acionada e uma campanha para erradicar o Falun Gong começou, afetando todos os estratos da sociedade que possuíam praticantes, como membros do PCC, cientistas, acadêmicos, agricultores, estudantes, etc.

Esta foi a maior mobilização da segurança desde a era maoísta, afetando diretamente mais de 100 milhões de pessoas que praticavam o Falun Gong, além de seus amigos e familiares. Além disso, a filosofia tradicionalista do Falun Gong era ideologicamente oposta ao materialismo dialético da ideologia comunista. Assim, a linha-dura do PCC prometeu esmagar a prática.

Ao avaliar o significado da campanha, é necessário entender algumas coisas. Primeiro, o Falun Gong tem mostrado resistência sem precedentes em termos de intensidade, escopo, distribuição geográfica e o alcance internacional.

Segundo, o PCC colocou enorme prioridade na campanha, assim, para aqueles que olhavam de fora, parecia muitas vezes ridículo ou bizarro. Terceiro, a campanha acabou sendo liderada por um homem: Jiang Zemin.

Facção

Esta é a primeira ligação com a crise atual da liderança.

O ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu à força numerosas pessoas em cargos importantes, mudanças institucionais e políticas destinadas a garantir que sua campanha continuaria depois que ele deixasse o cargo.

Primeiro de tudo, era necessário construir uma facção.

Em 2002, por exemplo, ele expandiu o Comitê Permanente do Politburo de 7 para 9 pessoas e instalou dois de seus comparsas, Luo Gan e Li Changchun. Eles eram responsáveis pela segurança e propaganda, respectivamente: os dois órgãos mais importantes para a campanha de supressão do popular sistema de crenças.

A maioria dos outros membros do Comitê Permanente também eram seus apoiadores. Jiang Zemin usou sua influência para assegurar que o modelo de homem-forte da liderança, praticado por Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping e ele mesmo, fosse atenuado por meio de uma abordagem orientada de “consenso”.

Hu Jintao tornou-se chefe do PCC em 2002, mas teve muito menos poder pessoal do que Jiang Zemin tinha exercido. É claro, fatores mais amplos contribuíram para esta mudança, mas o enfraquecimento da autoridade do chefe do PCC era uma parte vital do esquema de Jiang Zemin.

A facção de Jiang Zemin incluía Bo Xilai, um político desgraçado, e Zhou Yongkang, patrono de Bo Xilai e atual chefe da segurança. Isso era conhecido, mas se tornou público quando Wang Lijun, o braço direito de Bo Xilai, fugiu para o Consulado dos EUA em Chengdu em fevereiro.

O repórter da segurança nacional Bill Gertz logo informou que, segundo fontes dos EUA, Zhou Yongkang e Bo Xilai conspiravam para impedir a ascensão de Xi Jinping ao poder e instalar Bo Xilai como chefe do PCC. Wang Lijun foi o capanga na realização de escutas telefônicas para este plano.

Bo Xilai devia sua carreira a Jiang Zemin, que o recompensou por seu entusiasmo na realização da perseguição ao Falun Gong. Bo Xilai passou de prefeito de Dalian para ministro do comércio em apenas quatro anos.

Mas o primeiro-ministro Wen Jiabao bloqueou a ascensão de Bo Xilai. Depois que Wen Jiabao objetou que Bo Xilai não poderia representar o PCC no cenário internacional, devido ao fato de ter sido processado em 13 países por praticantes do Falun Gong, Bo Xilai foi relegado a Chongqing.

Colheita de órgãos

Wang Lijun estava profundamente envolvido na perseguição ao Falun Gong em Liaoning, onde ele também trabalhou com Bo Xilai. Num discurso de premiação que o Epoch Times tem arquivado, ele admite ter participado na realização de milhares de transplantes de órgãos.

Especialistas disseram que esses órgãos eram mais provavelmente de pessoas vivas e muito provavelmente de praticantes do Falun Gong. Esse julgamento foi baseado na localização das atividades, no número de execuções, na pesquisa que Wang Lijun esteve envolvido, na disponibilidade de órgãos e no papel conhecido de Wang Lijun na campanha anti-Falun Gong.

E Bo Xilai certamente sabia sobre as atividades de seu subordinado Wang Lijun.

Pesquisadores fingindo serem oficiais comunistas confirmaram que altos oficiais do PCC sabiam da colheita de órgãos. Li Changchun, por exemplo, foi perguntado sobre o uso do “envolvimento de Bo Xilai na morte e remoção de órgãos de praticantes do Falun Gong para condenar Bo Xilai exatamente neste momento”.

Li Changchun disse, “Zhou Yongkang está encarregado disto especificamente. Ele sabe disso.”

Claro, Zhou Yongkang estar encarregado de investigar o destino de seu aliado é o que Bo Xilai quer.

Este ano, após a tentativa de deserção de Wang Lijun em 6 de fevereiro, algumas coisas engraçadas aconteceram.

Em março, o vice-ministro da saúde Huang Jiefu anunciou que a China parará de usar órgãos dos prisioneiros em cinco anos. Pronunciamentos semelhantes foram feitos antes, mas a ocasião neste momento levantou as sobrancelhas.

De acordo com Ethan Gutmann, um pesquisador que acompanhou a história de perto, foi uma tentativa de efetivamente esquivar-se do assassinato em massa do Falun Gong por meio de lentamente adotar padrões éticos ocidentais de colheita de órgãos.

Ao mesmo tempo, pesquisas na internet por termos altamente sensíveis relacionados com este escândalo foram permitidas. Por exemplo, foi possível pesquisar no Baidu por “colheita de pessoas vivas”, “colheita sangrenta” e “Wang Lijun colheita de pessoas vivas”. Resultados proeminentes aparecidos nessas páginas não foram bloqueados pelo Grande Firewall.

O regime chinês é famoso por sua censura hermética e os termos acima estão entre os mais sensíveis no léxico político. Para muitos observadores, a ideia de que eles foram desbloqueados, no auge de uma luta entre facções no PCC sobre como lidar com Bo Xilai e Wang Lijun, seria inconcebível, a não ser que fosse intencional.

Revelação

Neste ponto, temos de avaliar o que temos e que conclusões podem ser tiradas.

Mais obviamente, temos uma grande pilha de corpos. Pelo menos 60 mil praticantes do Falun Gong foram mortos por seus órgãos entre 2000 e 2008, estimam os pesquisadores. O número real é desconhecido.

O Centro de Informações do Falun Dafa confirmou que mais de 3.570 praticantes foram mortos por tortura e abuso, embora o número real seja provavelmente muito maior; o Centro de Informações sugere que seja da casa das dezenas de milhares. Milhões foram enviados para campos de trabalho e prisões. Uma geração de órfãos foi criada, além de famílias desestruturadas.

Temos provas de que a perseguição ao Falun Gong e a resposta do Falun Gong são significativas para o PCC. Veja o arco da carreira política de Bo Xilai, que foi essencialmente vinculado com seu envolvimento na campanha; a que ponto o PCC chegou na perseguição ao Falun Gong; e o fato de que os crimes da colheita de órgãos se tornaram uma arma usada por uma facção para atacar outra mais cedo este ano. Membros de uma facção linha-dura que inclui Jiang Zemin, Zhou Yongkang e Bo Xilai estão profundamente envolvidos.

Eventualmente, a verdade de toda a questão virá à tona. A pergunta que observadores enfrentam é, o que acontecerá então? Como isso afetará a China e o curso futuro do PCC?

Há um precedente histórico possível, delineado primeiramente por Gutmann.

Em 1940, a polícia secreta soviética matou mais de 20 mil oficiais poloneses na floresta Katyn na Rússia. Stalin culpou os nazistas e o regime soviético manteve essa mentira pelos próximos 50 anos.

Em 1989, a verdade emergiu e, em 1990, Gorbachev admitiu o que aconteceu. O massacre foi usado na luta de poder entre Yeltsin e Gorbachev. A divulgação fortaleceu a resistência polonesa e esmagou a autoridade moral dos radicais soviéticos restantes.

O impacto destas revelações sobre o PCC pode ser similar.

Gutmann escreve, “Este é o momento da floresta Katyn para a China; o momento quando Wen Jiabao, como Gorbachev, deixa escapar as primeiras palavras da confissão de um crime histórico tão grande, uma mentira tão grande, que o PCC não terá como recuar da avalanche que certamente se seguirá.”

O grande desenlace do PCC se desdobrará em breve e a revelação destas atrocidades ajudará a empurrar o regime sobre o precipício. Sua legitimidade será quebrada, para não mais ser restaurada.