Após as manifestações da quarta-feira (12) na Venezuela, em que três pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas, tanto a ONU quanto personalidades internacionais condenaram a repressão violenta por parte do governo venezuelano. Em um comunicado emitido pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Amerigo Incalcaterra, Representante Regional para a América do Sul, lamentou na quinta-feira (13) os incidentes violentos durante as recentes manifestações na Venezuela.
“O Estado deve garantir, em todos os momentos, o devido exercício do direito de reunião pacífica e o direito à liberdade de opinião e expressão. Estes direitos são fundamentais e indispensáveis em uma democracia”, disse o alto funcionário. Ele também solicitou ao Estado que investigue o envolvimento de “grupos armados nestes eventos violentos” e os “possíveis casos de uso excessivo da força”.
O Presidente Nicolás Maduro acusou os líderes da oposição de promover a violência nas ruas, e o vice-presidente Elias Jaua acusou Leopoldo Lopez como o mentor dos assassinatos. Diante das declarações, José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da Human Rights Watch (HRW), disse na quinta-feira (13): “O que a Venezuela não precisa é que as autoridades se utilizem de adversários políticos como bodes expiatórios ou que calem a mídia cuja cobertura elas não aprovem”, e acrescentou que “o governo não divulgou provas que fundamentem essas acusações.” “Se for confirmado que Lopez foi acusado criminalmente sem que existam evidências sérias de que ele incitou a violência, isso seria uma clara demonstração de abuso de poder”, disse Vivanco.
Segundo a HRW, a organização de direitos humanos Provea relatou que membros das forças de segurança usaram armas de fogo e gases tóxicos para dispersar pelo menos algumas das manifestações. O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, disse na manhã de sexta-feira (14) ao vivo para a Rádio RCN da Colômbia que “há 125 jovens presos, incomunicáveis”.
Em resposta à afirmação do governo de que existe um suposto plano para levar a cabo um golpe de Estado, Ledezma disse que os estudantes estão protestando contra a prisão de seus colegas, e acrescentou através do Twitter: “Nicolás Maduro deveria dizer que os militares é que desejam dar um golpe de Estado”, (…), “Os alunos não têm armas para provocar um golpe de Estado”. O ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias, fez público na quinta-feira sua rejeição à repressão de estudantes, dizendo que milhares de estudantes opositores do governo Maduro foram “brutalmente atacados com armas de fogo por parte das forças de segurança.” Segundo Arias, o governo de Maduro, por reprimir a crítica e a dissidência, representa uma afronta aos direitos humanos e à democracia.
A organização de direitos humanos Provea também informou na quinta-feira (13) que, na noite do dia 12, o Coordenador de Mídia, Inti Rodriguez, foi sequestrado por “pessoas que se identificaram como membros do Serviço Nacional de Inteligência Bolivariana (Sebin) e de grupos paramilitares do oeste de Caracas” e que “foi espancado e interrogado por um grupo de cerca de 20 pessoas usando roupas pretas”. De acordo com o testemunho de Rodriguez, o grupo teria realizado uma operação para identificar as pessoas que participaram da manifestação convocada por grupos da oposição. Nas duas horas em que ficou detido, ele ouviu conversas que sugeriram um nível de coordenação entre os paramilitares e as autoridades civis e policiais em ação.
Na noite de quinta, a organização Provea informou por meio das redes sociais que a Guarda Nacional Bolivariana e encapuçados civis reprimiram vizinhos em Ruices em frente à Televisão Venezuelana, em Caracas. Ele também afirmou que Maduro promove um movimento “para a paz através de um discurso de guerra”, incentivando a intolerância e a ameaça de repressão contra novos confrontos no país.
A Human Rights Watch também falou sobre a censura das transmissões dos protestos e disse que, no dia 11 de fevereiro, o órgão estatal que regula meios de transmissão Conatel, insinuou que a cobertura da mídia aos incidentes violentos poderia constituir uma violação. Em seguida, a HRW acrescentou que “na noite de 12 de fevereiro, dois provedores de televisão a cabo venezuelanos deixaram de transmitir o canal internacional de notícias NTN24, que havia informado sobre os incidentes violentos ocorridos durante o dia.” “A verdade está nas fotos e nos vídeos feitos pelas pessoas”, disse Leopoldo López via Twitter no dia 13, e acrescentou: “Maduro sabe bem que o que aconteceu hoje foi planejado por ele. Os mortos e feridos são sua responsabilidade “.
O Partido Voluntad Popular, do qual Leopoldo López é coordenador nacional, divulgou nas redes sociais imagens das manifestações. Também o canal do Twitter “Democracy TV” divulgou diversas imagens das manifestações e da repressão. (Fotos: 1, 2, 3, 4, 5)
A Rádio RCN da Colômbia divulgou um vídeo no qual a “milicia chavista conhecida por Los Tupamaros” invadiu um bairro próximo da Avenida Monseñor Chacón, na área central da cidade de Mérida, e saqueou tudo o que encontrou pela frente.