Autoridades chinesas e violência sexual infantil

17/06/2013 18:58 Atualizado: 17/06/2013 19:03
A ativista chinesa Ye Haiyan protesta contra o diretor de uma escola primária que levou seis meninas a um hotel. A faixa diz: “Diretor, se você quer ir a um quarto de hotel, entre em contato comigo. Deixe as crianças em paz!” A foto foi amplamente circulada por internautas chineses no Sina Weibo

Recentemente, na China, foi revelado um fato contrastante. Enquanto dezenas de sites mostravam imagens de líder chinês Xi Jinping com seu lenço vermelho, cercado por crianças chinesas pelo Dia Internacional da Criança e afirmando que “ações e palavras que ferem as crianças e os direitos dos jovens… deviam ser evitados a todo custo e reprimidos de acordo com a lei”; a ativista Ye Haiyan teve sua porta arrombada.

Ye Haiyan foi punida por protestar contra o diretor Chen Moupeng, de uma escola primária da cidade de Wanning, província de Hainan, que em 8 de maio, junto com um comparsa, levou seis alunas a um bar-karaokê e depois para um quarto de hotel para passar a noite. As meninas tinham entre 11 e 14 anos.

Cinco dos pais informaram ao jornal Beijing Times que médicos confirmaram que suas filhas tinham o hímen rompido e acreditavam que as meninas foram drogadas e sexualmente molestadas por Chen Moupeng e seu cúmplice. As autoridades da cidade negaram tudo.

Em protesto, Ye Haiyan ficou diante da 2ª Escola Primária de Wanning com outros ativistas e exibiu um cartaz que dizia: “Diretor, se você quer ir a um quarto de hotel, entre em contato comigo. Deixe as crianças em paz!”

Uma foto de Ye Haiyan com seu cartaz circulou amplamente no serviço de microblogue chinês Sina Weibo e o gesto rapidamente foi imitado em mais manifestações: Dezenas de internautas, principalmente mulheres, apresentaram suas próprias versões de dizeres de protesto.

Mas, então, Ye Haiyan se tornou um alvo. Nove mulheres e dois homens invadiram sua casa pouco depois e a espancaram, enquanto ela era entrevistada por telefone pela mídia Voz da América (VOA). Ela suspeita que eles tenham sido enviados pelo governo local como punição por seu protesto.

A violência foi registrada em áudio: várias pessoas eram ouvidas gritando, enquanto Ye Haiyan dizia ao repórter: “Eles estão me espancando.”

O repórter desligou e ligou de volta, nesse momento um policial pedia a Ye Haiyan para abrir a porta enquanto ela se recusava aos gritos. Não ficou claro na reportagem como os primeiros invasores foram expulsos de sua casa. Cerca de 20 minutos mais tarde, seu telefone foi desligado. Ela foi levada para a delegacia do condado de Bobai na província de Guangxi e detida no local por várias horas.

Nas duas semanas que se seguiram ao escândalo na cidade de Wanning em 8 de maio, outros oito casos de diretores e professores de escolas primárias que abusaram sexualmente de suas alunas foram expostos pela mídia chinesa.

O abuso infantil se tornou um foco de atenção do público e internautas reafirmaram suas críticas às autoridades pela cultura de abuso de poder e impunidade e sobre a mídia estatal que não dá voz as vítimas e apoia as autoridades.

Em resposta ao fervor online sobre o protesto de Ye Haiyan, a mídia estatal Xinhua divulgou um comunicado condenando-a: “Punir um diretor que molestou jovens sexualmente é um assunto sério, mas Ye Haiyan transformou o comportamento descarado do diretor num grande show. Ela está se aproveitando do [incidente] vergonhoso do diretor para elaborar cuidadosamente um show e agradar a multidão com bobagens e sensacionalismo.”

Zhu Xinxin, uma escritora freelance e ex-editora da Rádio Hebei, disse em entrevista à Rádio Som da Esperança que o cartaz de protesto de Ye Haiyan foi um novo tipo de resposta de humor negro sobre os crimes dos oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC).

“Sob o regime chinês, funcionários do governo não só abusam de sua autoridade por ganhos pessoais, mas também para satisfazer seus desejos perversos”, disse ela.

“No entanto, com o poder da opinião pública na internet, as ações desprezíveis desses funcionários estão sendo expostas para o mundo, resultando em mais e mais pessoas, possivelmente todo o mundo, reconhecendo o mal da ditadura do PCC.”

Fazendo referência ao “Sonho da China”, um slogan frequentemente repetido pelo líder chinês Xi Jinping para congregar o povo chinês sob o mando do PCC, Zhu Xinxin observou: “Na realidade, eles não podem sequer proteger uma criança. Como podem falar de um sonho chinês?”

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