Autoridades chinesas desmontam outra rede de tráfico de órgãos

22/08/2013 16:28 Atualizado: 22/08/2013 16:28
Um chinês expõe a cicatriz de onde seu rim foi removido num artigo do Diário Metropolitano de Chutian, um jornal da província de Hubei (Imagem da internet)
Um chinês expõe a cicatriz de onde seu rim foi removido num artigo do Diário Metropolitano de Chutian, um jornal da província de Hubei (Imagem da internet)

Dez policiais chineses à paisana invadiram uma casa em 17 de agosto, minutos antes de um transplante de rim ser realizado, prendendo a equipe médica e o paciente destinatário envolvidos no esquema, segundo a imprensa chinesa. O informante no caso era um homem que tinha vendido anteriormente um rim e tinha reclamações sobre o procedimento.

Um quarto numa casa de campo perto de Wuhan, uma cidade na região central da China, foi adaptado para operações de transplante. A remoção e o transplante do rim deveriam ocorrer na mesma sala e em sequência.

A velocidade e a facilidade com que o procedimento ocorreria indicam um cirurgião altamente treinado que aperfeiçoou suas habilidades ao longo de muitas operações, segundo Xu Jianchao, professor assistente de Nefrologia da Faculdade de Medicina do Monte Sinai.

“Quem está fazendo isso deve ser muito hábil. Este não é um ambiente hospitalar, então o material não é inadequado. Trata-se de competências multidisciplinares. Um cirurgião cuja equipe é capaz de realizar uma operação tão complexa no ambiente de uma vila ou residência deve ser extremamente habilidoso e organizado”, disse ele. “É quase inacreditável do ponto de vista da medicina ocidental.”

Nos Estados Unidos, disse Xu, um transplante de rim envolveria duas equipes de cirurgiões: primeiramente para a extração e, em seguida, para o transplante do rim ao destinatário. Removê-lo requer mais habilidade, disse ele. “Estaríamos falando de pelo menos duas salas de cirurgia. Mas posso imaginar que eles poderiam colocar esses dois pacientes no mesmo quarto. Todas as possibilidades estão abertas aqui devido a tais condições.”

O informante, que se identificou como Li Wei numa entrevista com o Diário Metropolitano de Chutian, a mídia que reportou pela primeira vez a notícia, disse que todo o processo custou ao destinatário 400 mil yuanes (US$ 65 mil): o doador receberia 30 mil yuanes (US$ 4.900), o cirurgião principal ganharia 130 mil yuanes (US$ 21 mil), o anestesista 30 mil yuanes e as enfermeiras 10 mil cada (US$ 1.600). Os intermediários partilhariam o resto, quase 200 mil yuanes (US$ 32 mil).

Li Wei revelou anteriormente à polícia sobre a rede de tráfico de órgãos e identificou a localização da moradia. Mais tarde, a polícia invadiu o local em 17 de agosto.

Várias redes de contrabando de órgãos desse tipo foram desmanteladas pela polícia chinesa nos últimos anos, com alguns dos casos indo a julgamento e resultando em condenações. Os resultados têm sido invariavelmente alardeados na imprensa chinesa como exemplos da determinação do Partido Comunista Chinês (PCC) para acabar com o transplante ilegal de órgãos.

O estabelecimento de transplante na China tem estado sob intenso escrutínio internacional nos últimos anos por causa do uso generalizado de prisioneiros no corredor da morte por seus órgãos e pela crescente evidência de que dezenas de milhares de prisioneiros da consciência, predominantemente praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual que tem sido perseguida pelo regime chinês desde 1999, foram mortos por seus órgãos.

A operação descoberta em Wuhan é muito diferente da colheita de órgãos realizada pelo Estado chinês por meio de seu complexo militar-médico. Os críticos suspeitam que o PCC promova a repressão dessas pequenas redes para dar a impressão de que tais atividades seriam toda a extensão da atividade ilegal de colheita de órgãos na China.

Mais recentemente, o oficial-médico chinês Yang Chunhua, diretor da Unidade de Terapia Intensiva do 1º Hospital Afiliado da Universidade Sun Yat-sen na província de Guangdong, admitiu numa entrevista com um jornal estatal que por muitos anos na China órgãos de prisioneiros têm sido usados sem a obtenção de consentimento.