A autocura está ao nosso alcance

03/04/2014 08:00 Atualizado: 03/04/2014 15:54

Como já vimos, as doenças começam na mente: somos nós, através de nossos pensamentos, sentimentos e emoções, que alteramos nosso organismo e provocamos nossas doenças.

Então, para evitarmos as doenças ou curarmo-nos delas precisamos nos tornar cada vez mais conscientes de nossos estados interiores. Precisamos percebê-los e compreendê-los, e aprendermos a enfrentar as situações da vida de forma mais correta e saudável, evitando o acúmulo de estados psicológicos negativos.

Além disso, podemos entender nossas doenças de uma forma mais direta e curativa. Para isso, precisamos observá-las com atenção, calma, abertura e aceitação. A sinceridade, a honestidade e a inteligência também são fundamentais. Não se pode ter uma visão baseada em medos ou preconceitos. Se buscarmos perceber nossos estados de ânimo mais profundos, sem interferir ou criticar, normalmente perceberemos o que está por trás de nossas doenças.

Algumas doenças ou distúrbios não são tão perceptíveis em termos de tensões ou mal-estar, porque encontram-se em sistemas ou em funções peculiares. Por exemplo, distúrbios do sangue, das linfas, hormonais e outros nem sempre podem ser contatados de forma tão evidente pela nossa observação, mas podemos tentar sentir as regiões ou os sistemas afetados como se pudéssemos submergir dentro deles, tentando nos deixar entrar em contato como se pudéssemos nos fundir com eles.

Como por trás de cada distúrbio ou doença existe uma ideia, uma noção, um apego, um sentimento ou um estado mental contínuo – que altera as funções orgânicas e produz a doença -, às vezes, podemos senti-lo ou tornarmo-nos conscientes dele mediante uma sincera e simples interação de nossa atenção e do nosso sentir com a região ou a função afetada.

Um método simples

Um método bastante simples de percebermos como estamos por dentro e de compreendermos de onde vêm as nossas doenças ou distúrbios é deitarmos numa cama, num horário onde não haja interferências externas (telefone, TV, crianças), usando roupas leves e soltas, e num ambiente relativamente confortável  (evitando o vento, o frio ou outros desconfortos). Caso você tenha uma doença grave ou uma saúde muito delicada, peça ajuda a um terapeuta competente para auxilia-lo durante o processo.

Uma vez deitado (de barriga para cima é o ideal), observe como está todo o seu corpo. Observe como estão todas as suas partes, externas e internas. Sinta o seu corpo, passando por todas as regiões e perceba como você está se sentindo. (Tenso? Contraído? Agitado? Exausto? Paralisado? Sem energia? Entorpecido?) Existem regiões onde você sente mal-estar, dor, tensões? Ou vazio de energia? Encontra sensações diferentes? (Não faça isso de uma forma intelectualizada, onde você só usa a mente para analisar, estando afastado do seu corpo. Pelo contrário: sinta-se, experimente-se, entre em contato completamente como todo o seu corpo e só use a mente para absorver a experiência e digerí-la suavemente). Então, identifique as regiões alteradas e escolha uma para se concentrar e sentir (se você tem uma doença específica, experimente o órgão, a região ou a função afetada). Sinta a região, experimentando-a por dentro, relaxando a mente e o corpo, e sentindo-a totalmente (mesmo que você sinta dores, náuseas, medo, tensão, continue o processo). Continue relaxando o corpo e a mente e experimente as regiões cada vez mais profundamente. Você pode sentir calor, inflamações, frio, dores fortes, mal-estar, profundos vazios de energia, fortes tensões, das quais você não tinha consciência antes.

Durante o processo, procure soltar, relaxar, largar de verdade todo local que você encontrar contraído. Você verá que depois de soltá-lo ainda existem outros locais ao redor ou até mais distantes que estão contraídos, fazendo parte de uma cadeia de estruturas tensas. Continue seguindo a sua percepção destes locais e solte-os cada vez mais. Você começará a sentir um alívio em algumas partes, mas encontrará outras que precisam ainda relaxar e se soltar. Continue encontrando as tensões mais profundas e vá soltando-as.

Você poderá ficar impressionado com as tensões e mal-estar que percebe em vários locais do seu corpo.  Com o relaxamento, algumas sensações ou reorganizações no metabolismo podem ocorrer: podemos sentir órgãos ou funções voltando a ter leveza, fluxo, movimentos novos e mais livres, sensação de frescor interno; calor, bem-estar e outros. Essas são as funções que começam a voltar, depois que as tensões psíquicas que as impediam vão se dissipando.

Às vezes, podemos sentir emoções represadas querendo vir à tona, se desprender: se formos sinceros e não tivermos medo, teremos contato com memórias e emoções antigas – algumas bastante profundas e importantes para nós -, podendo irromper através do choro, da tristeza, da mágoa, da raiva, da culpa, do medo, do sentimento de rejeição, de abandono e outros.  Quanto mais formos sinceros, conscientes e equilibrados e aceitarmos as coisas que surgirem, tentando não julgá-las, mas senti-las – e tentarmos percebê-las e entendê-las com mais maturidade, amor e verdade – mais  elas serão compreendidas e assimiladas conscientemente através do perdão, do amor, da coragem, e da inteligência madura e auto-responsável.

Um novo momento

É comum que depois de experimentarmos sentimentos e memórias importantes, comecemos a julgar alguma pessoa ou circunstância pelos nossos males – fomos traídos, ofendidos, molestados, injustiçados, abandonados, agredidos. Mas você pode dar um passo à frente e, usando o seu coração, perguntar-se profundamente, por que tal pessoa lhe prejudicou? O que ela levava na mente que a fez agir assim? O que ela carregava inconscientemente que a tornava distorcida ou perversa? Terá sido dor, confusão, conflitos, ódio, ignorância, tristeza, medo, alienação que a fez agir assim? E, ultrapassando esse limite, olhe mais uma vez com os olhos da sua alma e tente enxergar: o que há por trás daquela mente distorcida? Que sentimentos ela leva dentro dela, em seu coração? O que há por trás de suas distorções, perversões, conflitos e dores? Quem é ela de verdade, no mais fundo de sua alma?

Muitas vezes, descobrimos que as pessoas trazem reações confusas em suas mentes, e que, dirigidas pela dor e perdidas na autoilusão, fazem coisas horríveis. De fato, estão doentes em seus espíritos de forma contínua. E o que devemos fazer?  É melhor condená-las ao castigo, à punição e ao nosso ódio eterno? Ou percebermos que elas precisam se curar internamente de suas doenças desumanas?  Será que elas mesmas não passaram por circunstâncias ou abusos semelhantes, que as machucaram e as distorceram profundamente? Então, foram aqueles que as agrediram os culpados pelo que você passou? Mas, e eles, que tipo de vida tiveram? Quem foram seus pais, parentes ou circunstâncias envolvidas em suas distorções? Se procurarmos assim, veremos que existe uma longa corrente de desvios, inconsciências, dores profundas e sofrimentos, que alteraram profundamente a mente e obscureceram o coração das pessoas durante suas histórias.

Todos estamos um pouco doentes do espírito: nos falta consciência iluminada e equilíbrio humano. A solução não está em punir isoladamente alguns, encontrando os culpados para todas as situações – e nem em culparmos a nós mesmos continuamente -, mas em entendermos que precisamos viver mais pela consciência de que somos um conjunto chamado humanidade – que todos sofremos e estamos um tanto inconscientes e doentes -, e que precisamos de uma postura compassiva, do perdão e da aceitação entre nós, para podermos nos tornar sãos. Precisamos nos esclarecer e termos o desejo verdadeiro de união e crescimento conjunto, para voltarmos a ser seres humanos verdadeiros.

Se quisermos a autocura e a cura dos demais, não poderemos continuar inconscientes, dando vazão às nossas partes escuras, doentes e distorcidas: enquanto continuarmos inconscientes, continuaremos adoecidos e adoecendo os demais. A cura vem da consciência que se esclarece, da boa vontade e do esforço amoroso para perdoar (largando o apego à situação e à nossa autopiedade), e do desejo do bem incondicional a todos.

Veja a primeira parte deste artigo

Alberto Giovanni Fiaschitello é terapeuta naturalista e cientista social.