Aumento do consumo de produtos de luxo na China ligado à corrupção

20/03/2012 00:00 Atualizado: 20/03/2012 00:00

A China hoje é o segundo maior mercado no mundo para produtos de luxo. (The Epoch Times)O PIB da China está classificado na 105ª posição no mundo. De acordo com o Ministério do Comércio chinês, 150 milhões de chineses ganham menos de um dólar por dia, o que corresponde ao índice de pobreza fixado pelas Nações Unidas. No entanto, a China ocupa a segunda posição no mercado de produtos de luxo no mundo.

Apesar dos mercados de luxo na Europa, América do Norte e Japão estarem diminuindo por causa da desaceleração econômica global, o consumo chinês de produtos de luxo está em alta, atingindo 10,7 bilhões de dólares, ou seja, 25% do mercado mundial de luxo.

Wang Ning, professor de sociologia da Universidade Sun Yat-Sen, na província de Guangdong, disse à Rádio Sound of Hope que ele vê o consumo de produtos de luxo na China como pertencente a um mercado negro, uma vez que a fonte de renda utilizada para tais compras não é clara e não vem de fontes legais.

“A China ainda é um país pobre por causa de seu rendimento médio. No entanto, seu consumo de produtos de luxo se tornou o número dois do mundo!”, disse ele. “Esta é apenas uma indicação da polarização da distribuição de renda. A riqueza está nas mãos de uma pequena parte da população. Eles têm dinheiro demais, e, assim, compram produtos de luxo.”

“Na China, o mercado de luxo é uma indústria particular. Ele é atualmente a personificação da injustiça social e da corrupção”, disse o professor.

Jiang Caifen, professor associado à Universidade de Estudos Econômicos de Guangzhou, realizou um estudo aprofundado dos consumidores de luxo com o intuito de identificar quem comprava produtos de luxo.

“Os produtos de luxo tornaram-se indicadores de problemas sociais. A fonte do problema não está nos produtos de luxo, mas na própria sociedade”, escreveu Zhou Ting, diretor do Centro de Pesquisa de Produtos de Luxo da Universidade de Comércio Internacional e Economia, num artigo intitulado “Síndrome do Luxo”, numa edição recente do China Weekly.

“Na China, há muitas pessoas que são os novos ricos da segunda geração, muitas pessoas cujos parentes se tornaram ricos graças ao poder político, muitas pessoas como Guo Meimei [uma jovem de 20 anos que ostentava riqueza proveniente provavelmente da corrupção da Cruz Vermelha chinesa], muitas pessoas que se tornaram ricas da noite para o dia graças à extração não regulamentada de carvão e petróleo. Todas essas pessoas estão ansiosas para utilizar produtos de luxo para provar sua identidade”, escreveu o Sr. Zhou.

Presentes e subornos

McKinsey & Company, uma consultoria e administradora internacional para grandes empresas, publicou um relatório no qual afirma que 50% dos produtos de luxo comprados na China em 2009 foram comprados na forma de presentes.

“Oferecer um relógio da Vacheron-Constantin, uma bolsa Louis Vuitton, uma gravata Ermenegildo Zegna ou outros é comum no mundo dos negócios”, disse o professor Jiang numa entrevista para o Diário de Guangzhou. “Louis Buitton é a marca de luxo mais reconhecida na China. E, por isso, se tornou um símbolo do poder.”

Na China, se você quer crescer em sua empresa, você precisa se submeter ao seu supervisor. Se você quer fazer negócios, é necessário o apoio de funcionários do Estado. Empresas subornarem e conspirarem com oficiais do Estado se tornou muito comum.

Dai Keting, professor de Direito na Universidade Normal do Leste da China, declarou à revista Oriental Outlook que funcionários corruptos não são apenas os principais consumidores, mas também a força motriz do consumo de produtos de luxo na China.

Nos últimos anos, inúmeros relatos de funcionários corruptos listaram os objetos que eles receberam. Um jornalista do Evening News Legal realizou uma enquete sobre 100 casos de corrupção local entre 2005 e 2007. Ele constatou que os pequenos produtos de luxo, seguidos de carros e casas, estão entre os subornos mais populares.

Em 2008, Runli Jiang, ex-diretor do escritório de planejamento territorial da cidade de Fushun, foi acusado de corrupção. Verificou-se que este homem de 55 anos tinha seis propriedades, 253 bolsas de luxo, 1246 peças de roupa assinadas pelos criadores, mais de 600 joias, além de 48 relógios de luxo.

Pressão social

Os jovens chineses cada vez mais compram produtos de luxo. 73% dos consumidores têm idade inferior a 45 anos, e 45% deles têm de 18 a 34 anos. No Japão e na Inglaterra, a quantidade de clientes que têm entre 18 e 34 anos é respectivamente de 37% e 28%.

Em sua edição de 24 de agosto, o jornal Ta Kung Pao, de Hong Kong, revelou que os jovens nascidos depois de 1990, ou mesmo depois de 2000, apresentam interesse por comprar produtos de luxo. Esses jovens estão entre todas as classes sociais e não são necessariamente ricos. Para muito deles, possuir um item de luxo é uma maneira de se afirmar socialmente.

O economista Yue Zheng, empregado da empresa de contabilidade Price Waterhouse Coopers, nos explica que há duas grandes diferenças entre os consumidores chineses e os do resto do mundo. A primeira diferença é a idade. Na China, a grande parte dos clientes tem menos de 40 anos, enquanto que nos países desenvolvidos, eles estão entre 40 e 70 anos.

A segunda diferença está no fato de que são os pequenos artigos de luxo, como roupas, perfumes ou relógios, que são os mais vendidos na China. Isso mostra evidentemente que na China as dificuldades econômicas estão presentes, mas que, sob a pressão social, as pessoas se sentem obrigadas a comprarem produtos de luxo.

Um relato do Ta Kung Pao nos dá o exemplo de uma aluna de 14 anos, moradora da cidade de Fuzhou, na província oriental de Fujian. A jovem pediu a sua mãe um novo par de tênis Nike ou Adidas, marcas consideradas como produtos de luxo na China. A explicação dada foi, “todo mundo têm”. Apesar do fato de viver numa cidade modesta, a jovem conhece de cor o nome de diversas marcas de luxo, assim como Louis Vuitton, Gucci, Givenchy, ou Sisley.

Um artigo publicado em 2 de novembro no China.com.cn, uma agência do Conselho de Estado chinês, cita uma jovem chamada Zhu, que vive na cidade de Hangzhou há cinco anos e é gerente intermediária de uma empresa de informática. Com um salário de 8 mil yuanes (1260 dólares) por mês, e apesar dos conselhos de sua companhia, Zhu gastou grande parte de seu dinheiro na compra de bolsas de luxo. Mas Zhu não pôde deter a si mesma. Ela possui uma dezena de bolsas de grandes marcas como Louis Vuitton, Gucci ou Chanel. “Todas as minhas colegas têm uma bolsa de marca. Minha subordinada que ganha apenas 4000 yuanes por mês tem uma bolsa mais cara que a minha. Ela teve realmente de economizar dinheiro para poder pagar”, disse Zhu.

O representante da World Luxury Association China, Ouyang Kun, acha que não é saudável os clientes serem cada vez mais jovens e seu desejo de brilhar na sociedade ser mais forte dia após dia.