Médicos buscam as causas para o aumento do câncer de pulmão no mundo. Além do tabaco, o ar que respiramos foi a principal causa na hipótese de um estudo internacional publicado em agosto de 2014, que analisa os efeitos do movimento de partes genéticas que mudam de lugar para produzir mutações e tumores.
Esse mal é a principal causa da morte por câncer no mundo e uma das principais causas de morte entre todas as doenças, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em fevereiro de 2014.
Foi registrado na Espanha um aumento significativo de câncer de pulmão, e é a primeira causa de morte por câncer em mulheres – em sua maioria não fumantes – superando o câncer de mama, de acordo com os dados divulgados em junho de 2014, pela Secretaria Espanhola de Pneumologia e Cirurgia Torácica (SEPAR).
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Por alguma razão “as células relaxam quando lutam para combater as alterações” que ocorrem no nível genético, disse o pesquisador e biólogo molecular galego José Tubio, do Wellcome Trust Sanger Institute, em Cambridge, a respeito de seu estudo recentemente publicado na revista Science, segundo um comunicado do Farol Vigo de agosto de 2014.
A nível molecular, foi descoberto que os mecanismos chamados metilação afetam estes eventos de salto de certas partes do genoma relacionados com os tumores. Tubio destacou que “sabemos que o tabaco possui substâncias cancerígenas que podem alterar os efeitos de metilação em células pulmonares. No ar respiramos, também pode ter substâncias cancerígenas. Essa é nossa hipótese.”
Embora grande parte das causas cancerígenas estejam associadas com o tabaco – 70%, de acordo com a OMS, em 2014, e 90% de acordo com a SEPAR – o relatório espanhol da Secretaria espanhola reconhece que a maioria das mulheres com câncer pulmonar não são fumantes, ou possuem um pequeno índice de tabagismo acumulado.
A OMS possui 107 substâncias, misturas e situações classificadas como cancerígenas para os seres humanos, indicou a organização em seu relatório de 2011, em relação ao câncer por fatores ambientais. A Dra María Torres, pneumologisa espanhola e membro da SEPAR, anunciou em junho e no Congresso de Pneumologia, que o gás radônio, declarado um carcinógeno humano, “é considerado o segundo fator de risco mais importante para o desenvolvimento do câncer de pulmão, e o primeiro em pessoas não fumantes”, segundo SEPAR.
Nos indivíduos afetados pelo gás, a Dra. Torres explicou que a fumaça de outros fumantes contribui mais ainda para esse risco.
O fato do DNA do ser humano ser móvel, ou ao menos pequenas partes poderem saltar de um lado para o outro, pode ser importante. Para José Tubio, enquanto alguns desses eventos são considerados inofensivos e passageiros, outros podem ser invasivos e podem dispersar os elementos reguladores que impedem a propagação de uma formação mutante ou um câncer, de acordo com o estudo publicado na revista Science em agosto de 2014.
Intercalados em todo o genoma humano, existe uma série de fenômenos de movimento e saltos que sucedem de uma maneira repetitiva, e que são chamados de retro transposições nucleares, indica parte do documento.
Embora “seja provável que a maioria dos eventos de retro transposição sejam mutações inofensivas passageiras”, a equipe diz que há uma série de “parasitas moleculares que são inseridos no genoma com efeitos potencialmente nocivos”.
Quando a transposição sucede com uma transposição contínua no genoma, além da repetição, isso é conhecido como transdução, explicam os cientistas. Esta transdução é a que “se apresenta com frequência em tumores humanos”. Em alguns casos, destacam eventos que podem “dispensar exons, genes e elementos regulatórios” no genoma. Os cancerígenos atuam a este nível.
Para esclarecer isso em outras palavras, o Instituto Sanger anunciou em agosto de 2014 que 17% do genoma humano é composto de “parasitas”, ou segmentos do DNA repetidos chamados de elementos LINE-1 que, de vez em quando, se copiam e movem-se para novas posições no genoma. “Mas raramente, aberrantemente recolhem um pedaço de DNA no LINE-1 adjacente e o copiam para um novo local: isso é conhecido como LINE-1 transdução.”
“Um em cada quatro de todos os eventos LINE-1 que causam mutações no câncer é devido à transdução, uma contribuição significativa na mutação que não tinha sido documentada”, disse o Dr. Peter Campbell, também autor do estudo, junto com Tubio. “Até este estudo, mudanças desse tipo permaneceram ignoradas, principalmente porque foram mal interpretadas, agora é importante entender esse processo”.
Tubio acrescentou que “encontrar tão poucos elementos LINE-1 ativos nesses tumores foi surpreendente”. Isso foi o que inspirou “para ver se conseguimos encontrar uma explicação molecular para essa atividade privilegiada. Descobrimos que a metilação de LINE-1 desempenha um papel crucial na mudança dos elementos dentro e fora”.
Campbell reiterou que acredita que a maioria dos eventos LINE-1 “provavelmente sejam mutações temporárias”, ao invés de outros condutores que afetam o desenvolvimento do câncer.
“Para compreender o impacto funcional desses eventos nos genes e na progressão de um tumor”, o cientista sublinhou que é necessário explorar a topografia das partes móveis do câncer em escala consideravelmente maior, através de milhares de genomas de câncer, integrados com outros processos de mutação.
Em 2012, foram registrados 14 milhões de casos de câncer de pulmão no mundo, e 8,2 milhões de mortes pela doença, informou a OMS em fevereiro de 2014.
Nas condições atuais, “prevê-se que os casos atuais de câncer vão aumentar de 14 milhões em 2012 para 22 milhões nas próximas duas décadas”, estima a Organização Mundial de Saúde.