Se uma espécie animal ou vegetal é rara e se o homem lhe atribui um valor… pode implicar na sua extinção.
Esta análise, publicada num estudo da PLOS Biology por pesquisadores do Laboratório de Ecologia, Sistemática e Evolução (CNRS-Universidade Paris 11), modifica as teorias clássicas sobre economia do meio ambiente. O estudo põe em dúvida, particularmente, a exploração de algumas espécies e contribui talvez a mudar os comportamentos e as legislações, como a compra de produtos de luxo como o caviar ou a madeira exótica, a coleção e a observação de espécies raras, a caça, etc.
Na biologia da conservação, os pesquisadores estudam a dinâmica das espécies e em particular a relação entre o tamanho das populações e a sua sobrevivência. Foi descrito em algumas espécies uma situação “ondulada” chamada Efeito Allee: quanto maior é uma população, mais se reproduz e mais próspera, até um determinado ponto. Ao contrário, se o tamanho da população diminui por um aumento da mortalidade ou uma redução da reprodução, a espécie não chega a sobreviver nem a reproduzir-se, o que aumenta mais sua diminuição, até sua extinção. Podemos citar como exemplo as espécies que caçam em grupo. Vários se defendem ou precisam de uma elevada densidade para que a fecundação seja eficaz como os invertebrados marinos, plantas, pólen, etc. Uma das ideias comumente admitidas relativas a este Efeito Allee é sua natureza fundamentalmente natural. Seria intrínseco a algumas espécies ou populações. O homem só poderia favorecer ou, no pior dos casos, desencadear este processo, propiciando que as populações se coloquem abaixo de seu limite mínimo de densidade.
No entanto, a equipe do laboratório CNRS tem mostrado o contrário, que as atividades humanas poderiam inclusive criar um Efeito Allee em espécies que não sofreriam isto de forma natural. De que maneira? Atribuindo raridade e, em consequência, um valor a algumas espécies.
Para chegar a este resultado, modificaram um modelo matemático clássico de economia do meio ambiente. Este modelo frequentemente é utilizado como justificativa pelas pessoas que garantiram a exploração intensiva de espécies animais e vegetais. O modelo mostra como a extinção econômica de uma espécie ocorre antes da sua extinção biológica: se uma espécie torna-se rara, sua exploração é demasiado custosa e acaba por cessar antes que a espécie seja destruída irremediavelmente, o que a deixa a possibilidade de se restabelecer.
Mas, como demonstraram estes pesquisadores, quando o homem atribui um valor a algumas espécies raras, os custos importantes de exploração são compensados por uma demanda também importante. A exploração destas espécies se mantém, inclusive a muita baixa densidade, o que aumenta sua escassez, e, portanto, seu valor e sua exploração, e pode, por este círculo vicioso, conduzir a sua extinção.
O estudo descreveu vários tipos de atividades humanas que podem criar este processo: os caçadores de troféus em primeiro lugar e os colecionadores de presas seriam os grandes carnívoros que estão dispostos a gastar fortunas para adicionar uma espécie rara a sua coleção de caça. O atrativo encontrado para os produtos de luxo, madeiras raras, ovos de esturjões, peles, os produtos de medicina tradicional ou, ultimamente, os novos animais de companhia (NAC), mantém no mercado espécies raras e com frequência protegidas que são conseguidas apesar de seus elevados preços.
Paradoxalmente, as pessoas interessadas pelo estudo ou a conservação da biodiversidade podem também contribuir para sua decadência. Assim como os colecionadores, que aumentam seus esforços, inclusive seu financiamento, para adquirir espécies raras, como conchas, insetos ou plantas, os “turistas ecológicos”, por sua vez, são atraídos pela observação direta de espécies que se tornam raras, implicando problemas de mortalidade e diminuição da reprodução.
Torna-se urgente, portanto, mudar a mentalidade e compensar este fenômeno que poderia colocar em perigo numerosas espécies animais e vegetais, que são raras ou correm risco de passar a sê-lo.