O misterioso desaparecimento do ativista Xue Mingkai a caminho do funeral do pai em Qufu, na província de Shandong, Leste da China, é a última reviravolta numa história de mortes e desaparecimentos misteriosos que começou no dia de Natal de 2010, com a estranha morte de um chefe de aldeia.
Os amigos de Xue perderam contato com ele após ele deixar o hotel para pegar o trem para Qufu para assistir ao funeral do pai, disse o ativista Qin Yongming à Radio Free Asia (RFA). Embora estivesse usando um celular novo, o que tornaria mais difícil para os serviços de segurança o rastrearem, amigos pensam que ele foi localizado pela polícia quando usou um serviço de bate-papo para enviar uma mensagem. Ele tinha vivia na clandestinidade desde que foi libertado da prisão em setembro de 2013.
“Todos estão muito preocupados com Xue Mingkai agora. Não temos sido capazes de entrar em contato com ele [de jeito nenhum]”, disse o advogado Zhang Junjie, atualmente em Shandong, à RFA. O celular de Xue foi desligado no domingo. “Eu não ficaria surpreso se ele tivesse sido preso novamente”, disse Qian Jin, um amigo da família, à RFA.
O pai de Xue Mingkai morreu em Qufu em 29 de janeiro em circunstâncias suspeitas. Xue Fushun e sua esposa Wang Shuqing, os pais de Xue Mingkai, foram detidos numa prisão negra pelas autoridades e forçados a revelar o paradeiro do filho, segundo a organização ‘Direitos Humanos na China’ (HRIC).
Depois de escapar da prisão, Xue e Wang pediram asilo no edifício da Procuradoria Municipal de Qufu. As autoridades separaram os dois, e mais tarde na mesma noite Xue supostamente pulou do quarto andar do prédio da Procuradoria.
De acordo com declarações oficiais, Xue Fushun cometeu suicídio. No entanto, nem Xue Mingkai nem Wang Shuqing creem na versão oficial de suicídio; e fizeram uma declaração pública a respeito aos HRIC em 3 de fevereiro.
Logo após a declaração aos HRIC, Xue Mingkai se refugiou num local secreto e Wang Shuqing desapareceu, detida pela polícia em diferentes locais em constante mudança. Ativistas e advogados de diversas partes da China convergiram em Qufu para investigar a morte e o desaparecimento, mas muitos deles foram presos pela polícia e colocados em trens de volta para casa.
Jiang Tianyong, um advogado de Pequim, reuniu-se com Xue Mingkai num local secreto após sua declaração aos HRIC, e comparou a detenção de Wang Shuqing à do ativista Chen Guangcheng.
“É a mesma atitude quando eles prenderam Chen Guangcheng, a mãe de Chen e sua esposa Yuan Weijing”, disse Jiang. Chen foi mantido sob prisão domiciliar por mais de 18 meses numa aldeia a cerca de 130 km de Qufu, até que ele e seus familiares escaparam no final de abril de 2012. “Se Xue Mingkai fosse voltar agora, ele seria ‘desaparecido’”, previu Jiang corretamente.
O ativismo de Xue tem sido um problema para o regime chinês há anos. Ele foi preso em abril de 2011 e novamente preso até setembro de 2013, sob a acusação de “incitar à subversão do poder estatal”, devido a seu profundo envolvimento com o proibido Partido Democrático da China e sua investigação sobre a morte do chefe da aldeia eleito Qian Yunhui.
Qian, que era muito querido por protestar contra a corrupção oficial em sua área, morreu sob as rodas de um caminhão no dia de Natal de 2010; testemunhas dizem que ele foi derrubado e segurado sob as rodas de um caminhão de construção, que o atropelou fatalmente. A versão oficial da morte foi “acidente de trânsito”.
Advogados estão entrando com ações judiciais contra as autoridades de Qufu sobre Xue Fushun. O advogado Lin Lei disse na quarta-feira que eles estavam atualmente apresentando provas. As declarações das autoridades não são claras, e é difícil dizer se se trata de suicídio ou homicídio, disse a RFA.
“Eles certamente não querem tantos advogados envolvidos”, ressaltou Lin. Enquanto isso, o paradeiro de Xue Mingkai permanece desconhecido.