Você já conversou com alguém que simplesmente te interrompe e responde a algo que ele achou que era o que você estava dizendo? Você já tentou conversar com alguém que não estava escutando?
Ao observar a relação entre a mente e o corpo, frequentemente fica nítido que padrões similares acontecem; a mente consciente não está escutando o corpo.
Ouvir e se preocupar com o corpo é importante. Com a revolução da atividade física, há uma riqueza de conhecimentos surgindo sobre o corpo e inúmeras vozes sugerindo como devemos nos exercitar e cuidar de nossos corpos.
Mesmo priorizando-se a atividade física e programando-a consistentemente dentro do dia, os cuidados com o corpo são muitas vezes relegados a apenas aqueles limitados momentos; umas poucas horas por semana em que o corpo faz seus exercícios. Durante esses períodos, o corpo é muitas vezes forçado em algum tipo de “forma” preconcebida ou em obter algum resultado como melhorar um tempo ou ganhar um jogo.
Isto quer dizer que podemos reprimir os efeitos positivos do exercício ao ficarmos obsessivos em fazer atividades apenas por um objetivo. Dizeres como “sem dor, sem ganho” ainda permeiam atitudes em relação à atividade física e existe a ideia de que o corpo precisa ser forçado e disciplinado a se enquadrar na forma como deveria parecer e funcionar.
Quantas pessoas você conhece que se machucaram levantando pesos, correndo, fazendo esportes ou até dançando e fazendo ioga? Apesar dos benefícios que um estilo de vida ativo traz para a saúde serem inegáveis, lesões durante os esportes ou a malhação são perturbadoramente comuns. Eles constituem 15% de todos os acidentes não intencionais que levam ao pronto socorro e mais de 3 milhões de lesões esportivas anualmente.
Lesões mostram um hábito cultural de abandono do corpo ao uso orientado para um objetivo, muitas vezes inconscientemente. Nossos corpos podem fazer muitas coisas sem controle consciente. É possível deixar os centros mais profundos do cérebro assumirem o controle enquanto trabalhamos, estudamos, fazemos compras ou limpamos, bem como quando treinamos ou fazemos um esporte. Isto é uma coisa boa.
Se estabelecermos intenções saudáveis, o corpo pode migrar para padrões que são controlados pelo nosso “cérebro baixo” e ter objetivos positivos e pertencentes ao lado direito do cérebro. Com o foco no resultado final, na produtividade, na melhora da condição física, no desempenho, na vitória ou em terminar, nós deixamos o lado esquerdo do cérebro ter um papel desequilibrado e dominante.
O objetivo final torna-se mais importante do que o processo pelo qual tratamos o nosso corpo. O resultado são movimentos forçados e desagradáveis, uso repetitivo do corpo, atividades que muitas vezes não estão de acordo com a estrutura do corpo.
Estes rituais e práticas levam o corpo a se desgastar ou a quebrar. Movimentos repetitivos e lesões por estresse, resultando em ossos, tendões, ligamentos e músculos machucados, todos eles são resultados de tomar a quantidade e intensidade da atividade ou objetivo como mais importantes do que a qualidade da técnica e a experiência do que se está fazendo.
Nós não queremos desencorajar ninguém a não se exercitar ou não se engajar na atividade física, mas ao invés disso, encorajar a possibilidade de se voltar para dentro (sintonizar-se) e ouvir as pistas que o corpo nos dá à medida que nos movimentamos em casa, no lazer, nas tarefas domésticas e na atividade física ou nos esportes.
A prática internalizada, em nosso caso a Internalização Dinâmica e o Bom Condicionamento do Corpo e da Mente (Dynamic Embodiment TM and BodyMind Fitness) é uma atividade que coloca o que se sente e a experiência individual do corpo como o mais importante. Este processo é um processo somático.
Técnicas de educação somáticas com as de Alexander, Bartenieff, Centralização do Corpo e Mente, Continuum, Feldenkrais, entre outras, ensinam as pessoas a melhorarem sua propriocepção bem como seu sentido cinestésico, dois sentidos que você pode ou não saber que tem.
A propriocepção é nossa habilidade de registrar o posicionamento do corpo. A cinestesia é a habilidade de perceber como estamos nos movimentando. A educação somática depende de cada um deles e ensina, portanto, habilidades que aumentam a sensibilidade destes sistemas.
O que a educação somática tem haver com a aptidão física? Estar em “forma” pode se referir a estar de acordo com um critério predeterminado, ou pode sugerir uma boa correspondência entre certa atividade e a pessoa que a pratica. Argumentamos que a verdadeira forma física aumenta ao se prestar a atenção às pistas que o corpo nos dá enquanto nos ocupamos com qualquer uma das atividades de nossa vida.
A educação somática nos ensina a ouvir nossos corpos e dar respostas bem informadas (liberdade) baseadas em informações vindas do seu interior. O Dynamic Embodiment inclui práticas que transformam qualquer atividade diária numa oportunidade de sentir e experimentar a si mesmo com maior consciência.
Qualquer que seja a atividade, nós podemos nos ajudar, melhorar as funções de nosso sistema e nos sentirmos melhores ao aprofundarmos a percepção de nossos corpos, permitindo momentos de autoquestionamento que permeiem nossos dias e nos deleguem a responsabilidade de tomar conta de nós mesmos de uma maneira mais completa.
Perceber seu corpo, fazer perguntas e ouvi-lo traz consciência às dicas corporais. Como isto se relaciona a treinar ativamente?
Enquanto você treina, você pode se perguntar: seria esta sensação um desconforto resultante da minha tentativa de me forçar ao limite de minhas forças uma coisa boa, ou será que minhas articulações, tendões e ligamentos estão mandando sinais de aviso, ou ainda, a sensação seria simplesmente informação e energia passando através do sistema?
É de grande ajuda ter um ponto de partida, saber o que é “normal” e confortavelmente familiar. O exercício somático é projetado para ser integrado a sua vida. Separar um tempo para o corpo é vital para a saúde e para o bem-estar, mas estar constantemente atento a isto também é importante para cultivar esta relação com o corpo.
O trabalho é lento e sutil. Movimentos mais lentos e sutis permitem que a sensibilidade do sistema nervoso se aprofunde e se torne mais receptiva às dicas internas. Os níveis de condicionamento aumentam quando somos respeitosos com nossos corpos e trabalhamos mais profundamente dentro de nossas capacidades num nível saudável.
Atividade 1. Por um momento tente sentir as forças (muscular, energética, esquelética) que o mantém em pé neste exato momento. Como você descreveria sua respiração? Gentilmente, vire seu corpo para olhar por cima de ambos os ombros. Quão longe você consegue olhar com facilidade? Você está se segurando em alguma parte do corpo que pareça desnecessário? Existe alguma sensação em particular que lhe chama a atenção?
Isso pode ser feito em qualquer momento (agora mesmo, sentado em frente ao computador; no trabalho, em casa, esperando numa fila) sempre que você estiver sentindo seu corpo um pouco tenso, ou particularmente bem!
Atividade 2. Este é um exercício que constrói coordenação e forca neurogênica ao mesmo tempo em que se permanece somaticamente consciente. Use um peso pequeno (entre 0,25 e 5 kg). Pode até ser um livro. O peso leve foi especificamente escolhido para prover uma pequena resistência e ajudar na localização de seu espaço corporal.
A ênfase é na facilidade da respiração e na qualidade subjetiva do movimento. O objetivo é se libertar dos rígidos padrões habituais e acessar uma percepção fluida de seu eu, para dar suporte às suas atividades. Uma vez que o ponto de partida comece a se estabelecer, o exercício vigoroso será muito mais eficiente e seguro.
1. Segurando o peso numa mão, lenta e gentilmente traga-o para perto de seu centro umbilical onde ele possa ser mantido com mínimo esforço. Perceba o suporte da terra fluindo em seus pés, através do esqueleto e em direção ao peso.
Gentilmente, permita que este fluxo de suporte empurre lentamente o peso para mais longe do chão para o mais alto que você puder empurrar acima de sua cabeça sem tensão excessiva. Equilibre o peso na palma de sua mão. Sinta o vetor de força vindo do centro da terra empurrando o peso para cima.
2. Mova seu cóccix para que aponte diferentes áreas de seu pé, mudando o peso de lado a lado e desenhando pequenos “oitos” com o movimento. Permita que estes pequenos movimentos viajem para cima através de sua coluna. Perceba onde você sente o caminho mais fácil de apoio a partir da terra, através de seu esqueleto e em direção ao peso. Permita que isto seja fácil e faça somente o que você puder fazer sem ter de segurar sua respiração.
3. Lentamente leve o peso em direção a seu centro, permitindo que seu cotovelo continue a apontar para baixo. Perceba se você está deixando seus cotovelos relaxados. Talvez você os sinta pesados. Repita três vezes de um lado. Ponha o peso no chão e de uma pequena caminhada para sentir a diferença entre as duas metades do corpo. Repita do outro lado.
4. Agora, como você descreveria sua respiração? Gentilmente, vire seu corpo para olhar por cima de ambos os ombros. Quão longe você consegue olhar com facilidade? Você está se segurando em alguma parte do corpo que pareça desnecessário? Existe alguma sensação que se destaca para você? Exale profundamente com um som suave. Faça uma pausa.
5. Vindo a partir da terra através de suas pernas, com a ajuda de sua respiração, sinta sua cabeça flutuar para cima ao mesmo tempo em que seus ombros se alargam e relaxam para baixo.
Como esta qualidade de ouvir profundamente pode ajudar em qualquer coisa que você esteja fazendo; seja no trabalho, no ócio ou na hora do exercício?
Atividade 3. Muitas pessoas acham a música um auxilio fantástico para o exercício. Nós também achamos. A música pode ser cuidadosamente selecionada para ajudar em diferentes objetivos. Uma mescla de músicas com a intenção de auxiliar o treino pode ser encontrada em: http://soundcloud.com/somatic-eye
Os primeiros 7 a 15 minutos são silenciosos e oferecem espaço para exame pessoal como aquele descrito acima. Você pode sentir então como a música lhe dá suporte para uma energia mobilizadora mais ativa.
A segunda metade tem uma ligeira elevação da frequência cardíaca para o que quer que o faça se sentir bem. Você pode usar uma esteira, bicicleta ergométrica, dançar, ou se exercitar de uma forma que envolva todo o corpo de maneira rítmica. Aproveite!
E Yen Zak é um fisiologista do exercício, educador do movimento, artista marcial e DJ que ensina em Berkeley, Califórnia. Ele estuda com a Dra. Martha Eddy e pode ser achado no site Somaticeye.blogspot.com
A Dra. Martha Eddy, CMA, RSMT, é uma autora e palestrante renomada internacionalmente fundadora do BodyMind Fitness e Dynamic Embobiment Somatic Movement Training e atualmente é diretora do Moving On Center em Nova York. MovingOnCenter.org/DynamicSMTT