Na quinta-feira (22), um carro preto e uma caminhonete cinza atravessaram um mercado aberto na capital da província de Xinjiang, no Norte da China, jogando explosivos pelas janelas no meio da multidão, segundo testemunhas. No final, 31 pessoas morreram e 94 ficaram feridas. As autoridades chinesas chamaram o evento de outro ato de terrorismo violento, embora o comunicado oficial não tenha identificado um culpado nem mencionado o separatismo étnico como uma das causas da violência.
A Região Autônoma Uigur de Xinjiang é uma área tradicionalmente de língua turca que foi invadida pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e anexada à República Popular da China em 1949. O regime de estilo colonialista do Partido Comunista em Xinjiang e a repressão da cultura e crença muçulmanas praticadas pela população nativa são o motivo do ressentimento em curso e da violência.
Dois veículos
Dois veículos quebraram as barreiras nos arredores do mercado ao ar livre em Urumqi, capital de Xinjiang, por volta das 7h50 de quinta-feira e seguiram lançando explosivos e atropelando vendedores ambulantes e transeuntes que faziam feira na ocasião, segundo o Tianshan News, uma agência de mídia local.
“Eu ouvi mais de uma dúzia de explosões”, disse um vendedor ambulante que testemunhou o incidente, segundo a mídia estatal China News.
Fotos postadas em plataformas de mídia social por testemunhas oculares mostram barracas e carros em chamas e colunas de fumaça. Havia feridos caídos no meio da rua, alguns inconscientes, e cadáveres foram colocados em caminhonetes.
Reprimindo duramente
O Ministério da Segurança Pública anunciou mais tarde que o incidente foi um “ataque terrorista violento e grave”.
O líder chinês Xi Jinping enviou instruções para “expandir de forma abrangente as patrulhas sociais, o controle e a prevenção” e “manter uma postura dura e de grande pressão”. Xi também enfatizou a necessidade de “soar o alarme contra o terrorismo e combater decisivamente os terroristas”.
Os relatórios oficiais não divulgaram qualquer informação sobre quem exatamente estava por trás do ataque e nenhum grupo assumiu responsabilidade até agora. Alguns relatos da mídia, incluindo os canais oficiais em Xinjiang, identificaram o ataque como motivado pelo separatismo étnico, mas não chegaram a identificar os agressores como sendo uigures. A declaração oficial do governo central não se referiu a questões étnicas.
A Casa Branca divulgou um comunicado condenando o ataque como um ato “desprezível e hediondo” da violência contra civis inocentes.
Nas horas seguintes após o evento, a mídia que reportava na China pôde agir com liberdade e rapidez, e a Phoenix Television pôde transmitir ao vivo do local e entrevistar testemunhas. Por volta das 10h o controle da informação apertou significativamente, sem transmissão ao vivo e menos fotos e comentários sobre do local fluindo para a mídia social.
Repressão em andamento
Os conflitos entre muçulmanos uigures em Xinjiang e governo do Partido Comunista têm se intensificado nos últimos anos, enquanto incidentes como o ataque recente invariavelmente se tornam catalisadores para posterior supressão.
As autoridades locais estabeleceram restrições sobre homens uigures crescerem suas barbas, assim como mulheres usarem véus e meninas vestirem costumes islâmicos na escola, informou a Radio Free Asia (RFA). Várias mulheres e meninas do ensino médio foram recentemente detidas por usarem véu e multidões se formaram pedindo sua libertação.
Esses protestos, em 20 de maio, em Kashgar, uma cidade na região de Xinjiang, levaram ao mais recente exemplo da violência oficial contra os uigures, quando a polícia abriu fogo contra centenas deles, segundo a RFA. Testemunhas disseram à RFA que pelo menos quatro pessoas morreram no local, embora o número de mortos possa ser maior.
Mais tarde, internautas postaram online cartazes que os propagandistas do Partido Comunista estavam espalhando pela região na tentativa de reforçar as proibições a respeito de vestimentas e práticas étnicas e religiosas: “Mulheres e senhoras, por favor, removam seus véus”, dizia um cartaz. “Não perturbem a sociedade civilizada moderna”, dizia outro.