Assalto parece ser parte de um esforço para silenciar grupo de meditação
SÃO FRANCISCO – Quando Justin Chen sentou-se para meditar no bairro chinês na noite de domingo, ele nunca esperava que dois homens jogassem uma grande lata de lixo em sua cabeça.
Justin Chen, de 38 anos, vende publicidade para uma emissora de TV local durante a semana. Ele faz parte de um grupo de voluntários que pernoitam no bairro chinês nos finais de semana para proteger contra vandalismo um conjunto de sinais que contêm informações sobre a perseguição na China à prática espiritual do Falun Gong.
Os cartazes têm sido um alvo quente no bairro chinês desde que foram colocados há um mês.
Enquanto Justin Chen praticava seu exercício de meditação na noite de domingo, sentado ao lado dos cartazes no cruzamento das avenidas Washington e Grant, o inesperado aconteceu.
Ele diz que foi silenciosamente abordado por dois homens pelas costas, que ele não percebeu, e que depois jogaram uma cesta de lixo preta municipal na parte de trás de sua cabeça.
“Por alguns segundos, eu não conseguia sentir nada, até meus olhos não podiam ver nada”, disse Chen. Quando ele foi capaz de ver novamente e se virou, ele viu dois chineses, que ele estimou terem 20 anos, fugirem.
Justin Chen, que foi atingido no rosto em dezembro passado por dois indivíduos em plena luz do dia enquanto segurava uma faixa sobre o Falun Gong, diz que acha que a situação se tornou pior, com indivíduos tentando causar danos físicos graves.
Ele ressaltou que dois jovens jogando tal objeto poderiam machucar alguém gravemente.
A parte de trás da cabeça, o pescoço e os ombros de Chen estão significantemente inchados, levando-o a apresentar uma queixa à polícia e ir ao hospital para um exame, o qual ele aguarda os resultados finais.
Perseguição importada
O ataque contra Chen marca o mais recente de uma série de incidentes que visam praticantes do Falun Gong. No mês passado, um tribunal municipal julgou dois homens de ascendência chinesa culpados de assaltar praticantes do Falun Gong no bairro chinês.
O Falun Gong é uma prática de meditação tradicional chinesa baseada nos princípios da verdade, compaixão e tolerância. Na China, a disciplina era praticada por um em cada 13 chineses, ou 100 milhões, antes que o Partido Comunista Chinês (PCC) lançasse uma campanha em julho de 1999 para erradicá-la.
O Centro de Informação do Falun Dafa estima que centenas de milhares de praticantes estejam em campos de trabalhos forçados na China, onde são rotineiramente submetidos à tortura e lavagem cerebral. O centro já confirmou mais de 3.570 mortes por tortura e outros abuso, mas diz que o número real de mortes é muito maior. Além disso, segundo investigadores independentes, pelo menos 60 mil praticantes do Falun Gong foram mortos por seus órgãos para uso em operações de transplante.
Sherry Zhang, uma porta-voz do Falun Gong em São Francisco, entende o incidente da noite de domingo no contexto da perseguição do regime chinês. “Isso se encaixa no padrão que temos visto ao longo dos últimos 10 a 12 meses em São Francisco, onde, especialmente no bairro chinês, temos visto um aumento na violência contra os praticantes do Falun Gong”, disse Zhang em entrevista por telefone.
De acordo com Zhang, houve pelo menos 12 casos documentados de violência destinada a praticantes do Falun Gong no ano passado. “Os agressores sabem claramente quem são os praticantes do Falun Gong, porque as pessoas atacadas geralmente estão fazendo meditação ou segurando faixas que os identificam como um praticante do Falun Gong”, disse Zhang. “E muitas vezes, antes do ataque, há ofensas direcionadas, eles não gostam do Falun Gong; eles odeiam o Falun Gong.”
Zhang diz que os ataques que visam o grupo ocorrem devido à propagação e desinformação promovidas pelo PCC ao longo dos últimos 13 anos. “As mídias sob o controle do PCC sempre espalharam mentiras e desinformação sobre o Falun Gong. O regime comunista chinês definitivamente não quer que as pessoas saibam o que está acontecendo na China e o que é realmente o Falun Gong”, disse Zhang.
Num incidente semelhante no mês passado, um grupo de sete a oito adolescentes chineses correram até os cartazes e começaram a rasgá-los enquanto gritavam que o Falun Gong é uma religião e que todas as religiões são ruins, diz Charles Cai. Charles Cai, de 45 anos, é um engenheiro que projeta circuitos integrados. Ele ajudava na vigilância noturna naquela ocasião. Ele diz que o grupo de adolescentes jogou um esfregão nele.
Confrontando o ódio
Para Chen, o incidente na noite de domingo é difícil de aceitar. Ele chegou aos Estados Unidos da China em novembro do ano passado. Sua esposa e filho de oito anos ainda estão na China. Ele ainda não contou a sua esposa sobre o incidente temendo que ela se preocupe com sua segurança.
Mas é Chen que se preocupa mais com a segurança de sua esposa. Ela já foi detida pela polícia na China por sua crença no Falun Gong e levada de sua cidade natal na província de Liaoning para a capital de Pequim. Sua casa foi saqueada pela polícia, com os pertences pessoais da família, incluindo livros do Falun Gong, sendo levados.
Na China, Chen trabalhou como um gerente de marketing de sucesso para uma grande empresa, mas foi preso por suas convicções e colocado num campo de trabalhos forçados por dois anos sem qualquer julgamento ou sentença.
Estando agora no bairro chinês, Chen vê em lojas locais ao seu redor o tipo de decorações que foi forçado a fazer no campo de trabalho diariamente até meia-noite ou uma da madrugada, sempre recomeçando entre 4 ou 5h da manhã.
Porém, Chen está feliz que agora esteja nos Estados Unidos. “Aqui neste país, é permitido que você acredite em qualquer coisa. Você acredita no Falun Gong, você acredita em Buda, você é cristão, tudo está bem, ninguém o perturbará”, disse Chen.
Mas a situação no bairro chinês é diferente, diz Chen. “Há muita gente que tem informações erradas. Eles foram enganados pelo regime e pelo consulado chineses.” “Eles odeiam os praticantes do Falun Gong. Eles nos atacaram várias vezes e nos ofendem diariamente”, disse Chen.
Mas Chen diz que está determinado a continuar pacificamente contando as pessoas no bairro chinês sobre o Falun Gong. “Somos praticantes do Falun Gong, temos de seguir os princípios do Falun Gong de verdade, compaixão e tolerância”, disse ele.
“Estes cartazes, talvez eles temam que as pessoas saibam a verdade”, disse Chen, “Os cartazes falam sobre o que está acontecendo na China, sobre como os praticantes do Falun Gong são perseguidos na China.”
“Se todos souberem a verdade sobre o que está acontecendo na China, esta perseguição não poderá continuar”, disse Chen.