Amigos e aliados norte-americanos no Oriente Médio dependem da visão estratégica, clareza e determinação dos EUA para lidar com as múltiplas crises que os cercam. Mas eles se sentem inseguros com a política da administração Obama, que de sua perspectiva, parece tímida e indigna de estatura única e da responsabilidade dos EUA.
A dificuldade em encontrar uma solução para a crise na Síria está no fato de que há muitos atores envolvidos cujos interesses são incompatíveis uns com os outros e não há solução política que possa atenuar essas incompatibilidades.
Ao pesquisar os papéis dos atores envolvidos, torna-se cada vez mais evidente que armar os rebeldes pode muito bem ser o mal menor para acabar com o conflito antes que ele transborde para os países vizinhos, enquanto a Síria se desintegra em detrimento de toda a região.
Para esse efeito, os EUA devem desenvolver uma estratégia abrangente, levando em consideração o que já sabemos sobre cada ator envolvido e suas participações no resultado da guerra civil da Síria.
Em primeiro lugar, todos os rebeldes na Síria, independente de sua inclinação ideológica, não aceitarão qualquer solução política que inclua o presidente Assad e/ou seus principais partidários, assim como a contínua e avassaladora presença iraniana.
Eles insistirão em livrar o país de toda a elite do partido Ba’ath, militares, segurança interna e inteligência, que perpetraram execuções indiscriminadas de homens inocentes, mulheres e crianças e arruinaram grande parte do país.
Por essa razão, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais devem fornecer equipamentos cuidadosamente para rebeldes específicos, como armas (mísseis superfície-superfície e superfície-ar) para neutralizar o poder aéreo de Assad e sua infantaria, a fim de dar aos rebeldes uma posição superior no conflito.
Estas e outras armas devem ser providenciadas imediatamente e em quantidades que façam diferença decisiva e impeçam os radicais islâmicos de alcançarem suas agendas após a queda de Assad.
Em segundo lugar, o Irã tem um profundo interesse em manter o regime de Assad no poder. Para Teerã, a Síria é um elemento-chave em sua estratégia por suas pretensões hegemônicas na região. Teerã pode fazer isso apenas por meio da manutenção de sua influência avassaladora sobre o crescente predominantemente xiita que se estende do Mediterrâneo até o Golfo Pérsico.
O Irã não se deterá por nada para reforçar o regime de Assad no poder e continuará lhe fornecendo armas, equipamento militar, ajuda financeira e assessores, bem como soldados em campo.
Dito isso, confrontada com a resolução de norte-americanos, europeus e árabes de Estados sunitas de virarem o jogo na Síria e com a preocupação dos EUA e Israel poderem atacar suas instalações nucleares num momento de maior vulnerabilidade, Teerã pode muito bem recuar para proteger o próprio território em casa.
Para ter certeza, os clérigos iranianos devem ser advertidos pelos EUA de que o profundo envolvimento de Teerã na Síria pode lhes custar caro e poderia precipitar uma mudança de regime, que é a única coisa que supera qualquer outro objetivo estratégico iraniano.
Em terceiro lugar, o Hezbollah, um intermediário do Irã, declarou abertamente que lutará ao lado dos partidários de Assad até o amargo fim. Independente de quaisquer pretensões em contrário, o Líbano ficou atolado na guerra civil da Síria.
Independente das habilidades de luta do Hezbollah, os rebeldes são muito mais numerosos do que os combatentes do Hezbollah e podem infligir um número inaceitável de perdas em suas forças, desde que os rebeldes tenham as armas de que necessitam.
A bravata de Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, será silenciada quando centenas de seus combatentes morrerem enquanto a organização fica mais vulnerável ao ataque israelense.
Em quarto lugar, a Rússia tem um interesse estratégico na Síria; sua base naval em Tartus protege suas atividades no Mediterrâneo Oriental, o que torna Damasco central para a estratégia naval e exportação de energia de Moscou.
Para a Rússia, as portas do Mar Negro são sua linha vital, tornando seus interesses estratégicos na Síria (que se distinguem do resto do Oriente Médio) de suma importância.
A Rússia não fará qualquer concessão que possa comprometer seus interesses e fará o que estiver a seu alcance para apoiar o regime de Assad, incluindo fornecer equipamentos militares sofisticados para evitar sua queda, a menos que possa garantir seus interesses numa Síria pós-Assad.
Os EUA precisam transmitir aos russos sua determinação de pender a balança em favor dos rebeldes. Ao mesmo tempo, os EUA e os representantes dos rebeldes podem assegurar a Rússia que sua base naval na Síria e suas atividades no Mediterrâneo Oriental não serão contestadas.
Como parte de um “acordo”, a Rússia e os EUA podem concordar em pressionar o “botão de reinício”, desta vez seriamente, e resolver algumas das questões bilaterais conflitantes mais amplas, incluindo sanções comerciais (ainda oficialmente nos livros), investigações norte-americanas sobre abusos de direitos humanos na Rússia, o posicionamento de sistemas de defesa aérea na Turquia, etc.
Além disso, os EUA poderiam elaborar uma troca com a Rússia, comprometendo-se em não estabelecer uma zona de exclusão aérea (que em qualquer caso seria supérflua quando os rebeldes estiverem equipados com armamento antiaéreo) contra a venda de mísseis antiaéreos S300 russos de alta precisão à Síria.
Tais sistemas de defesa aérea poderiam comprometer gravemente a superioridade aérea de Israel e levar este a tomar medidas defensivas para manter sua vantagem no ar.
Quinto, embora Israel tenha se esforçado e continuará a fazer todo o possível para ficar fora do conflito na Síria, ele não pode controlar como a crise evoluirá e que consequências resultarão para sua segurança nacional.
Como resultado, Israel estabeleceu três linhas vermelhas que se cruzadas levariam à retaliação israelense imediata: 1) a transferência de qualquer tipo de arma sofisticada, incluindo mísseis, ao Hezbollah; 2) a perda de controle do estoque de armas químicas na Síria; e 3) a provocação militar síria ou de qualquer de seus agentes, especialmente o Hezbollah.
Israel já estabeleceu sua credibilidade a esse respeito atacando vários alvos próximos a Damasco, além de destruir um comboio de mísseis Fateh-110 transportados do Irã para a Síria.
Os EUA e Israel obviamente continuam a colaborar em lidar com a crise na Síria, enquanto isso evolui segundo a iniciativa dos EUA, mas eles também devem indicar claramente que não tolerarão qualquer ameaça ao Reino da Jordânia.
Em sexto lugar, para o eixo sunita que inclui os Estados árabes do Golfo (liderados pela Arábia Saudita), Jordânia, Egito e Turquia; a Síria se tornou o campo de batalha contra o eixo xiita composto pelo Irã, Iraque, os alauítas na Síria e o Hezbollah no Líbano.
A carnificina sectária em curso no Iraque entre sunitas e xiitas é um indicativo do que pode acorrer na Síria. Se Assad permanecer no poder e ganhar uma posição superior no conflito, isso seria uma vitória histórica para o Irã e reforçaria sua determinação em adquirir armas nucleares.
Muitos Estados do Golfo veem a crise na Síria como uma oportunidade para romperem o vínculo Damasco-Teerã, alterando assim a perspectiva geopolítica futura de toda a região em sua vantagem.
Considerando o exposto, não há solução política que possa satisfazer todas as partes envolvidas; esboçar um quadro político que desafie a realidade apenas sairá pela culatra, transformando uma situação horrível numa tragédia de proporções históricas.
Os EUA devem assumir a liderança e não vacilar em lidar com a crise na Síria, o que muitos de seus aliados temem. A falta de ação decisiva norte-americana não só comprometerá sua influência e credibilidade na região, mas também deixará um vácuo perigoso que a Rússia, China e Irã estarão ansiosos por preencher.
Alon Ben-Meir é professor de relações internacionais do Centro de Assuntos Globais da Universidade de Nova York e leciona sobre negociação internacional e estudos do Oriente Médio.
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