Assassinato de professora levanta questão sobre ‘filhos abandonados’ na China

29/10/2015 12:04 Atualizado: 29/10/2015 12:04

Uma professora de 52 anos de idade, foi assaltada e espancada até a morte por três crianças, no dormitório de uma escola primária no sul da China, no dia 18 de outubro, segundo a mídia estatal Beijing News. As crianças, com idades entre 11, 12 e 13, não se esconderam após o assassinato. Em vez disso, gastaram o dinheiro que roubaram em uma Lan House, onde dois deles foram posteriormente presos.

O outro pré-adolescente foi detido pela polícia na escola, localizada no condado de Shaodong, Província de Hunan.

Os três suspeitos se encaixam nas características das “crianças deixadas para trás”, isto é, são filhos de trabalhadores migrantes rurais que se mudaram para as cidades em busca de emprego.

As crianças deixadas para trás, que somam 61 milhões de acordo com dados publicados pelo Estado, vivem longe de seus pais durante a maior parte, ou a quase totalidade, do ano. Alguns nem sequer recebem ligações de seus pais durante as férias. Estima-se que duas milhões de crianças são completamente abandonadas por um dos pais.

Essas crianças geralmente ficam em suas comunidades rurais devido às rigorosas políticas de residência na China. Sem a presença de seus pais, que normalmente são tão pobres que não conseguem enviar dinheiro para casa, muitas crianças deixadas para trás desenvolvem tendências antissociais ou criminais.

De acordo com dados publicados pelo Tribunal Popular Supremo da China, as crianças deixadas para trás são responsáveis ​​por 70% da delinquência juvenil em todo o país, apesar de representaram apenas 20% do total da população infantil. O Tribunal afirma que os casos de crimes praticados por este grupo tem aumentado nos últimos anos, em média, 13% ao ano.

As crianças deixadas para trás, assim como as centenas de milhões de trabalhadores migrantes, são particularmente vulneráveis ​​a abusos.

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Em abril de 2014, foi relatado à polícia local de Guizhou que um professor de 30 anos havia estuprado 12 meninas que possuíam entre 8 e 9 anos. Destas vítimas, 11 eram crianças deixadas para trás. A mídia governamental Xinhua informou este ano que mais de 2.500 meninas deixadas para trás, mais da metade com idade inferior a 14 anos, foram vítimas de agressão sexual na província de Guangdong, nos últimos três anos.

A polêmica das crianças deixadas para trás veio à tona recentemente, quando quatro crianças, também da província de Guizhou, cometeram suicídio usando pesticidas agrícolas. O mais velho deles, com 13 anos, deixou uma carta dirigida a seus pais, dizendo: “Obrigado por sua bondade, eu sei que vocês têm sido bons para mim, mas eu tenho que partir. Isso foi planejado há muito tempo e hoje é o dia da minha partida.”

A situação dos trabalhadores migrantes chineses e seus filhos não é inteiramente baseada em dificuldades econômicas, mas sim nas restrições impostas pela política de residência do Partido Comunista Chinês.

He Qinglian, um proeminente economista chinês que reside nos Estados Unidos, disse em um artigo publicado pela Voice of America que a solução, a longo prazo, seria reunir os trabalhadores migrantes com suas famílias.

“O governo chinês precisa reconhecer a realidade, precisa permitir a formação de “aldeias” urbanas e reduzir os custos de vida na cidade. As crianças devem ser autorizados a ir às escolas perto de seu local de residência, e não de acordo com o registro de sua família”, escreveu He Qinglian. “Essa é a única forma de reduzir o número de crianças deixadas para trás e proporcioná-la uma vida familiar normal.”