“Deus tomou, pois, o homem, e o colocou no jardim do Edén, para que cultivasse e cuidasse dele”
Gênesis 2:15
No Éden tudo era perfeito. O clima era bondoso e os frutos das árvores se encontravam ao alcance da mão. Era um pomar banhado por águas, onde o homem não tinha preocupação. Somente passeava sobre a grama suave, cuidava dos animais, nadava nos lagos e divertia-se com sua companheira. Um paraíso onde todos os dias eram ensolarados e somente existia a ocupação de cuidar de um jardim. No centro do jardim havia uma árvore curiosa, que possuía um misterioso fruto pendurado em seu ramos. A deliciosa polpa era a única proibição que Deus tinha alertado ao primeiro casal de humanos.
Porém, o homem mordeu o fruto e sua nudez se fez evidente. O homem foi então expulso do jardim do Éden e o dom da imortalidade foi vetado a ele para sempre.
Distante daquele paraíso terreno, os descendentes do primeiro casal se espalharam pelo mundo, adquirindo novos costumes e conhecimentos, esquecendo que aquele lugar onde seus ancestrais tinham vivido como os deuses existira uma vez. Recordavam dele algumas vezes, mas não se atreviam a regressar pois tinham medo de Deus.
Porém, a lembrança do lar primordial não poderia permanecer adormecida para sempre. Um dia, o homem sentiu desejo de regressar e ver como era aquele prodigioso espaço no qual os pais da humanidade haviam passado os primeiros dias. Tomando como referência algumas passagens de textos antigos, muitos exploradores embarcaram em sua busca; mas os resultados, até hoje, sempre foram incertos. Alguém teria encontrado o paraíso perdido? Estaria em algum ponto não explorado do planeta? Ou teria sido uma simples metáfora do comportamento humano diante dos caminhos do bem e do mal?
Os mapas O-T e o Éden chinês
Na Idade Média, uma série de curiosos mapas mundi, confeccionados principalmente por beatos e outros eruditos religiosos, começaram a circular pela Europa. Dada sua disposição elementar, uma massa de água em forma de “T” dividia uma Terra circular em três. Estes mapas foram conhecidos como “O-T”.
Os mapas O-T eram carregados de referências religiosas, indicando, por exemplo, onde se encontravam os descendentes de Noé. Porém um dos detalhes mais chamativo desta cartografia era que, em quase todos eles, era mostrado no extremo norte um local facilmente identificável como sendo o jardim do Éden. Situado ligeiramente sobre a metade direita da Ásia, um retângulo com os corpos ou rostos de Adão e Eva, às vezes retratados juntos à serpente traidora, apontavam muito claramente para a China como sendo o local onde se localizava o primeiro jardim da humanidade.
Geografia bíblica
Em mais de uma ocasião, distintos grupos de arqueólogos declararam ter achado os “restos” do jardim do Éden depois de analisar fósseis de alimentos antigos cultivados ao longo da história. Entretanto, nenhuma destas descobertas parece coincidir com a ideia de um pomar divino como o qual se denomina nas escrituras, o que fez que a maioria dos estudiosos buscasse as pistas nos próprios textos da religião.
A referência bíblica mais sólida para identificar a localização do Éden pode ser encontrada em Gênesis 2:10, onde se menciona que lá se encontrava “um rio para regar o jardim” que se repartia em quatro ramificações. Estas ramificações eram chamadas Pison, Gijón, Hidequel e Eufrates.
Dois dos rios nomeados, o Eufrates e o Hidequel (mais conhecido como Tigre), correm ainda hoje pelas terras da Mesopotâmia do Oriente Médio, atravessando e irrigando as regiões da Turquia, Síria e Iraque, e desembocando juntos no Golfo Pérsico. Este fato levou a maioria dos investigadores a centrar sua atenção sobre este lugar na hora de fundar novas teorias.
Entretanto, sobre o Pison e Gijón – os outros dois cursos d’água mencionados em Gênesis –, pouco se conhece, e acredita-se que podem ter sido antigos rios cujos leitos estão secos hoje.
As divergências entre a hidrologia moderna e a citada nas antigas escrituras põe à prova interpretações realizadas sobre a localização real do Éden. Alguns estudiosos afirmam que as noções geográficas dos autores da Bíblia foram errôneas. Outros, que uma interpretação mais flexível poderia indicar que os quatro rios nomeados não necessariamente se encontravam na Mesopotâmia. Esta última afirmação é reforçada pelas mesmas escrituras, que narram que, dez gerações depois de Adão, um grande dilúvio alterou toda a geografia do planeta, que teria convertido toda busca de referências em uma tarefa inútil.
Uma simples metáfora?
O Éden, como uma simples metáfora do homem e sua relação com o criador, também foi uma possibilidade contemplada desde o princípio das religiões. Assim como nas antigas tradições cristãs e judias, a história do Éden pode ser encontrada em muitos textos de outras culturas.
Uma relação entre o paraíso bíblico pode ser encontrada no Poema de Gilgamesh, uma antiga história suméria; na ilha de Avalon onde, segundo os celtas, as macieiras davam frutos todo ano; ou no jardim das Hespérides que, segundo a mitologia grega, se encontrava guardado por três belas ninfas.
Ainda que na tradição chinesa também se falava da queda do homem, a mensagem quase carecia de metáforas como as de Adão, Eva e o jardim sagrado. Segundo os antigos chineses, quando um deus de alto nível baixa seu nível de consciência, necessariamente é descendido a dimensões inferiores. Se não pode se comportar corretamente em tal nível, então descende novamente. Quando já não restam níveis para descer, deve adequar-se ao nível humano, onde o divino é invisível aos olhos e todos os seres sofrem até o dia de sua morte.
Se a história do Éden representa a queda do homem ao mundo humano após perder seu status divino, poderia ser interpretado então que o Éden ficou atrás, em um espaço que é invisível aos olhos e intocável ao tato humano, o qual somente poderemos chegar a atravessar após nos elevarmos espiritualmente. Mas enquanto restar alguma esperança humana de encontrá-lo na Terra, será difícil calar as perguntas que brotarão em qualquer mente curiosa: onde estariam os restos fósseis de Adão e Eva? Os querubins e a espada ardente continuariam guardando as portas do jardim? Teriam saído faz tempo? E se estivessem lá ainda hoje, nos deixariam retornar uma vez que o achássemos?