Um relatório revela níveis elevados de metais pesados nos campos de arroz chineses. Milhares de culturas afetadas e a saúde da população estão em risco.
A segurança alimentar tem sido um problema constante na China nos últimos anos, mas novos relatórios indicam que o arroz, alimento básico do povo chinês, tem um alto teor de metais pesados altamente tóxicos, o que tem causado profundo impacto na população.
Segundo a investigação de um grupo de peritos do Ministério da Agricultura da China, 10% do arroz produzido na China está contaminado com cádmio, devido à mineração na região que libera excesso de metais pesados contaminando o meio ambiente. O arroz é a cultura mais afetada por ser o cereal que mais absorve cádmio; são milhares de campos afetados.
Os pesquisadores dizem que a poluição ocorre quando os resíduos industriais, como o cádmio e o chumbo, contaminam o solo e são absorvidos pela cultura do arroz.
Os pesquisadores descobriram que a maior parte do arroz contaminado foi encontrada no sul da China, onde a atividade industrial é mais concentrada.
O cádmio pode causar amolecimento dos ossos e acúmulo de líquido nos pulmões.
A revista New Century de Pequim citou uma pesquisa realizada em 2007 por pesquisadores da Universidade Agrícola de Nanjing que 10 a 60% do arroz vendido em 6 regiões da China contém cádmio. Em uma amostra, o teor de cádmio foi cinco vezes maior que o limite.
De acordo com a reportagem da New Century, Li Wenxiang, um homem de 84 anos da província de Guangxi, sofre de uma doença rara há 20 anos e não pode andar mais de 100 metros, pois uma dor cruciante invade seus pés e suas pernas. Os médicos não podem diagnosticar a doença exata, mas o Sr. Li a chama de pés e pernas fracas.
O Sr. Li suspeita que sua doença esteja relacionada com o arroz contaminado produzido na sua região, que consumiu nos últimos 28 anos. À primeira vista, não percebeu nenhuma coisa diferente neste arroz, mas os testes químicos encontraram níveis de cádmio que excedem o limite permitido; os habitantes locais o chamam de arroz com cádmio.
Esta vila tem cerca de 1.000 hectares de terra para o cultivo do arroz, em 1986 mostrou-se que o teor de cádmio foi de 7,79 mg por kg, 26 vezes mais que o valor permitido pelo Estado.
Os pesquisadores descobriram que a água de irrigação da vila está sendo poluída com cádmio desde 1960.
Qin Guixiu, de 71 anos, é outra mulher de idade que sofre de fraqueza nas pernas. “Na nossa vila, são cerca de 50 pessoas com a doença, e existem muitos moradores que suspeitam ter a doença, porque estão aparecendo os primeiros sintomas. As galinhas põem ovos com casca mole, bezerros têm problemas de ossos fracos, este fenômeno é muito comum aqui.”
A medicina descobriu que, quando o cádmio entra no corpo humano, a fraqueza nas pernas ou dor óssea ocorre depois de vários anos, mas chega um momento que pode se tornar uma dor insuportável por todo o corpo.
O problema mais grave é que não há quase nenhuma terra agrícola que não esteja contaminada com metais pesados. O arroz ainda está sendo produzido, e a maioria circula livremente no mercado.
10% do arroz em todo o país contêm cádmio
Em 2002, a Secretaria da Agricultura, após ter analisado o mercado de arroz em todo o país, constatou que os níveis de chumbo ultrapassam 28,4%, seguido pelo cádmio com 10,3%.
Cinco anos depois, em 2007, o professor Pan Genxing, pesquisador de agricultura de Nanjing, avaliou 91 variedades de arroz de 6 lugares distintos. Uma vez analisados, os resultados mostraram que 10% do arroz vendido no mercado está contaminado com elevado teor de cádmio.
Na China se produz cerca de 200 milhões de toneladas de arroz por ano, 10% seria 20 milhões de toneladas. O arroz mais contaminado está no sul da China, especialmente em Hunan e Jiangxi.
Segundo a pesquisa, nas últimas décadas, muitas vilas estão na mesma situação que a vila de Guanxi.
Solos contaminados com cádmio atingem 80 milhões de hectares
O Dr. Chen Nengchang, diretor do Instituto de Eco-Meio Ambiente e Ciências do Solo de Guangdong, disse que é possível que a contaminação de aproximadamente 10% do arroz com metais pesados, incluindo o cádmio e arsênico, corresponda a 40% das terras agrícolas.
Chen disse que a China simplesmente não tem um sistema de análise de grãos. “Ninguém seria capaz de dizer qual é a grandeza da quantidade de arroz contaminado com cádmio servido nas mesas do povo”, acrescentou Chen.
Segundo os especialistas do Departamento de Agricultura, o arroz é o que mais absorve cádmio, seguido da alface.
Além do cádmio, o arroz também está contaminado com outros metais pesados, há inclusive pessoas que padecem de uma doença denominada Minamata, que é uma síndrome neurológica grave e permanente causada pela intoxicação por mercúrio.
Alguns agricultores, sabendo que o arroz de sua vila está contaminado, ainda o consumem porque é barato. Há também muitas pessoas que não sabem que o arroz que comem é tóxico, nem sequer sabem o que significa um metal pesado.
O regime permite a circulação do arroz tóxico
Um morador disse que o povo não tem opção senão consumir o arroz envenenado, porque o regime não faz nenhum controle. Por exemplo, nunca os agricultores que vivem em Hunan foram proibidos de cultivar arroz contaminado, então se aproveitam desta “liberdade aterradora”. Segundo os moradores, há grande quantidade de arroz tóxico circulando livremente no mercado.
Em 2006, o vice-presidente de Proteção Ambiental, Wuang Boxian, conduziu um estudo de amostras de urina de 500 pessoas que consumiram a água do rio Xianxian na província de Hunan; os resultados foram assustadores: 30% da urina apresentou alto nível de cádmio e 10% necessita de tratamento médico prolongado.